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Uma noite com Assunção Cristas e os sem-abrigo em Lisboa

Maria Henrique Espada
Maria Henrique Espada 10 de março de 2018 às 21:00

Ameaças, polícia, ajuda e selfies. A dirigente centrista voltou ao que fazia há 23 anos.

São 23h45 e Tomás, com sotaque brasileiro, ameaça Ana, sentada e encolhida contra uma parede, num recanto da Av. Almirante Reis, em Lisboa. Tem um sapato na mão e pela forma como Ana toca na face percebe-se que ele já lhe deve ter batido. Ana insiste que não sai de onde está e não mexe um milímetro – "Estou à espera do João", outro sem -abrigo que dorme ali. Tomás: "Sai daí, sai daí. Tu tem casa, eu quero dormir. Vou te dar um tapa nessa cara." Assunção Cristas intervém: "Eh lá, mas que conversa é essa? Não vai fazer nada disso!" Ana, apática e imóvel, parece sedada, tem espuma nos cantos da boca e repete sempre, baixinho: "Estou à espera do João." O tom de Tomás vai em crescendo "Sai, vai tomar no cu, vão vocês também", para a equipa da Comunidade Vida e Paz (CVP) em que está integrada a líder do CDS e que tenta mediar a situação. Luciano Marques, que conduz a volta da CVP, tenta acalmá-lo, pede que mude ele um pouco o lugar da sua cama, à qual Ana está encostada, pede a Ana que se levante e mude de sítio, mas nenhum cede. Tomás torna-se abertamente violento, Luciano já passou por cenas do género, tem de dizer, em tom firme: "Não levantas a mão. Não levantas a mão." Perante o impasse, é Assunção que toma a decisão: "Não nos podemos ir embora daqui com a situação assim. Temos de chamar a polícia." Luciano sugere a Isabel Zagallo, vereadora do CDS por Lisboa, vereadora por Lisboa e que acompanha a líder do partido na volta, que vá uns 100 metros mais abaixo ao Banco de Portugal, onde há polícia à porta. Tomás continua, recusa entregar o sapato que mantém na mão, atira pelo ar, para o meio da avenida, o saco de papel com comida que a Vida e Paz lhe dera minutos antes e grita: "Vou-te amassar essa cabeça toda, ‘cê vai ver, vou dar tanto tapa em você." Assunção, outra vez: "Eh, eh, essa conversa não! Isso não." Não o acalma. Continua, virado para Ana, esta ainda impassível: "Vou-te arrancar esses dentes todos. Depois pões implantes. Te parto toda." Dá pontapés nos cartões que formam camas improvisadas. Dois agentes da PSP chegam em minutos e dizem aos voluntários que tomarão conta da ocorrência. Têm de seguir: a volta ainda vai a meio.

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