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Pescadores protestam em Évora contra proibição da pesca do lagostim

03 de agosto de 2020 às 12:22
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A iniciativa contou com a participação de cerca 60 pessoas em duas dezenas de veículos, a maioria ligeiros de mercadorias e alguns com barcos de pesca atrelados, os quais seguiram durante o percurso em marcha lenta e em buzinão.

Pescadores e mariscadores profissionais de águas interiores do Baixo Alentejo manifestaram-se hoje em Évora contra a proibição da pesca do lagostim, condicionando o trânsito na circular junto ao centro histórico da cidade.

Os manifestantes concentraram-se às primeiras horas da manhã na periferia da cidade e, por volta das 09:00, rumaram para a rotunda das Portas de Avis, com passagem pelas principais entradas do centro histórico, provocando atrasos na circulação automóvel.

A iniciativa contou com a participação de cerca 60 pessoas em duas dezenas de veículos, a maioria ligeiros de mercadorias e alguns com barcos de pesca atrelados, os quais seguiram durante o percurso em marcha lenta e em buzinão.

"Queremos que a lei volte ao que era há três anos para podermos pescar uma espécie exótica, que só faz mal e não traz qualquer benefício", afirmou aos jornalistas João Cortez, presidente da associação Importante Oásis, promotora do protesto.

Em causa está a revogação, em 2018, de uma lei que permitia a total liberdade de pesca daquela espécie invasora das principais bacias hidrográficas do país, segundo a associação Importante Oásis, com sede em Moura, no distrito de Beja.

João Cortez considerou que a alteração da lei "não faz qualquer sentido", alegando que o lagostim-vermelho-do-Louisiana "é uma praga que se está a instalar" nas barragens de Portugal, porque "fura paredões e entope as tubagens da água".

Os pescadores "estão a arriscar e são multamos em cinco mil euros, como todos já fomos, são apreendidas as embarcações e gaiolas. O pouco que tinham perdem-no por uma simples alteração da lei que não faz qualquer sentido e daí a nossa revolta", sublinhou.

Segundo o responsável, o lagostim apanhado nas barragens do Baixo Alentejo é vendido para empresas de Espanha, que têm fábricas para a sua transformação, e, posteriormente, exportado para países como a Suécia e os Estados Unidos.

"Dependem desta atividade 400 ou 500 pessoas só na parte do Baixo Alentejo", vincou o presidente da Importante Oásis, advertindo que muitas famílias já "estão a passar dificuldades sérias", por "uma coisa que não faz sentido nenhum".

João Cortez indicou que a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), responsável por várias barragens, está ao lado dos pescadores e até "já fez um pedido ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) para uma autorização especial".

A empresa do Alqueva já está a "ter problemas de perfurações de paredões e entupimentos nas barragens", mas "ninguém responde, nem à EDIA respondem", referiu.

Também em declarações aos jornalistas, André Grácio, representante da associação, indicou que os pescadores deram "um grito de revolta", justificando o protesto por não haver respostas de instituições como o ICNF.

"Não queremos mais nada do que poder apanhar uma espécie exótica, que é uma praga e que provoca prejuízos e, ao mesmo tempo, trazer riqueza a pessoas que já estão tão pobres", exigiu, assinalando que o efeito negativo do lagostim "é do conhecimento de biólogos e da comunidade científica".

Caso não hajam respostas às reivindicações dos pescadores, o presidente da associação Importante Oásis revelou que um novo protesto já está marcado para o dia 15 de agosto na Autoestrada do Sul (A2).

Alguns veículos do protesto tinham faixas em que se podia ler "Quero trabalhar", "Matam-nos à fome", "Pesco para viver" e "ICNF = vergonha".

A associação Importante Oásis, com sede em Moura, no distrito de Beja, foi fundada, em 2017, para legalizar a atividade e a exportação, passando a licenciar os pescadores e a fiscalizar a venda, faturação e emissão de certificados veterinários.

O lagostim-vermelho-do-Louisiana terá entrado em Portugal em 1979, estando espalhado por, pelo menos, 11 bacias hidrográficas do país: Douro, Leça, Vouga, Mondego, Lis, ribeiras do Oeste, Tejo, Sado, Mira, ribeiras do Algarve e Guadiana.

Trata-se de um predador voraz de anfíbios, insetos e plantas, sendo bastante temido pelos orizicultores, que veem as galerias escavadas pelos lagostins secar os campos de arroz.

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