Dez meses depois de ter perdido cerca de 500 cabeças de gado num incêndio que destruiu a sua exploração agrícola, uma família de agricultores da Póvoa de Varzim conseguiu retomar a atividade, graças à solidariedade da comunidade.
Na madrugada de 23 de outubro de 2018, a vacaria construída pela família Longarito, na freguesia poveira de Balazar, ficou reduzida a cinzas num incêndio causado por um curto-circuito que, em poucas horas, consumiu a infraestrutura e precipitou a morte de quase todos os animais, criados para a produção de leite.
O incidente deixou a exploração de cariz familiar totalmente inoperacional, mas, no imediato, despoletou uma onda solidária entre a comunidade local, que se uniu para em pouco dias dar início aos trabalhos de recuperação.
Empresas, agricultores, associações, cooperativas e a população em geral começaram por ajudar nas limpezas, depois na recuperação da infraestrutura e na aquisição de equipamentos para atividade, e, finalmente, na reposição dos animais.
Almoços solidários, ofertas em géneros ou em dinheiro e apoio em mão-de-obra foram sendo organizados nos últimos meses, juntando pequenos e grandes donativos, que permitiram aos produtores retomarem, recentemente, a atividade, tendo já algumas centenas de animais, a maior parte doados por agricultores da região.
"Não sei onde fui buscar a força, mas tinha de fazer alguma coisa, porque precisávamos de trabalhar. A solidariedade que recebemos, de pessoas que conheço e de outras que talvez nunca vá conhecer, é algo que não consigo explicar. Com tanta ajuda ninguém me deixava desistir", partilhou com a agência Lusa o proprietário da exploração, António Longarito.
Sem disfarçar a emoção ao falar do assunto, o agricultor também lembra o lado racional na vontade de retomar a atividade, uma vez que a exploração tinha sido construída com financiamento que ainda não estava liquidado.
"Avançámos com isto há cinco anos, custou-me muito e ainda devo dinheiro [dos empréstimos bancários]. Podia ter acabado, mas ficava sem nada. Tivemos mesmo de arriscar e recomeçar", partilhou o produtor de leite.
A seu lado, na tarefa de reerguer um projeto de vida que as chamas destruíram em algumas horas está a mulher Alcina Santos, que fala numa "queda até ao fundo de poço que é preciso recuperar devagarinho".
"As infraestruturas já estão compostas e animais já temos cerca de 90 vacas a produzir, mais 100 novilhas e 50 vitelas a crescer, não é fácil, mas não é impossível", partilhou com otimismo.
O que nunca irá chegar são as palavras de Alcina para agradecer toda a ajuda recebida da comunidade, lembrando que, "muito ou pouco, todos quiseram contribuir".
"Estão todos no nosso coração, e só posso dizer muito obrigado por terem contribuído com o que podiam. Creio que isto serviu para unir as pessoas, de perceber que ninguém está livre de uma situação destas e que é preciso coragem e força para começar do zero", disse a agricultora.
Os objetivos do casal Longarito, que têm dois filhos em idade escolar, passam por recuperar, em breve, a capacidade produtiva com 500 animais, para poder "pagar os créditos e retomar a normalidade".
"Temos encargos perante a banca e para o ano temos de voltar a estar numa capacidade de rentabilidade. Não é fácil, sobe-se um degrau e desce-se dois, mas temos de arranjar força, pois se não levantarmos a cabeça ninguém o vai fazer por nós", disse, determinada.
Para além do trabalho de ambos, as ajudas da comunidade continuam a surgir e enquanto o casal falava com a agência Lusa chegou mais uma oferta, de um outro agricultor, com três novas vitelas, num gesto que redobra o alento e a determinação.
"Nada é fácil na vida, há altos e baixos. Hoje, se der vontade, podemos chorar no travesseiro, mas amanhã já temos de estar melhores. É um dia de cada vez até recuperar", desabafou Alcina.
Descubra as Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui ,
para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.