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"Os terroristas não nos odeiam por causa das nossas liberdades"

30 de maio de 2017 às 19:54
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Nas Conferências do Estoril, antigo analista considera que as leis "cobardes" atentam mais contra direitos das sociedades do que o terrorismo

Edward Snowden considerou, nas Conferências do Estoril, que as "leis" para combater o terrorismo são "cobardes" e atentam mais contra os direitos das sociedades ocidentais do que o terrorismo. O ex-analista informático que divulgou a espionagem em massa dos serviços de informações dos EUA defende que os direitos das sociedades ocidentais são mais vulneráveis às leis dos próprios Estados do que aos actos terroristas.

"Esses direitos estão ameaçados hoje em dia e não devido aos esporádicos actos violentos destes loucos ignorantes. Este tipo de terrorismo existiu ao longo da história e sempre foi derrotado. Os terroristas não nos odeiam por causa das nossas liberdades. Eles nem sabem quais são as nossas liberdades", explicou Snowden.

"A lei não nos defende, nós é que defendemos a lei. E quando a lei trabalha contra nós, cada um de nós tem a incumbência de a deitar abaixo. Não lutámos em revoluções nos nossos países pelo acesso a políticas secretas ou regulamentação, lutámos para estabelecer direitos universais e esses direitos estão ameaçados hoje em dia", referiu o ex-analista, que falava a partir de Moscovo. 

Para Snowden, "elevar o estatuto de criminosos como estes é o mais preguiçoso tipo de retórica". Os terroristas, realçou, "são incapazes de destruir os nossos direitos ou diminuir as nossas sociedades" já que "não têm força para isso". "Só nós podemos fazer isso, pelo medo", explicou.

"Os direitos perdem-se com leis cobardes, que são aprovadas em momentos de pânico. Devido a líderes que temem mais a perda do cargo do que temem a perda das nossas liberdades", disse o analista, levantando um aplauso entre o público. 

Snowden deu como exemplo a nova lei de vigilância aprovada no Reino Unido em 2016, "a mais radical do mundo ocidental". "Chama-se lei dos poderes de investigação e autoriza intrusões que são objectivamente obscenas", interferindo na capacidade que o publico tem de se "relacionar, interagir, fazer comércio", disse.

Os Estados, acrescentou, também estão a pressionar cada vez mais "os provedores de redes sociais", para que estes "comecem a censurar o discurso". "O desafio é este: não há provas de que estas políticas funcionem, que sejam eficientes, que salvem vidas ou que nos tornem mais seguros. O que há provas claras é que provocam danos ao público", realçou Snowden.

Lembre-se que Edward Snowden, de 33 anos e exilado na Rússia desde 2013, foi acusado de espionagem nos Estados Unidos por ter tornado públicos detalhes de vários programas que constituem o sistema de vigilância global da agência de espionagem norte-americana NSA.

Veja aqui o discurso de Edward Snowden na íntegra:

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