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Morte de bebé à porta das urgências de Idanha-a-Nova: "Teria feito toda a diferença se os médicos tivessem atendido"

Luana Augusto
Luana Augusto 02 de setembro de 2025 às 17:20
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À SÁBADO a mãe e um amigo da família contam todo o trágico episódio e acusam a ULS de Castelo Branco e o centro de saúde de Idanha-a-Nova de "negligência".

Madrugada de 22 de agosto. Luan, de apenas 11 meses, acordou a vomitar. "Eram mais ou menos 8h de sexta-feira quando liguei para a [mãe] Patrícia e ela disse-me que ele estava inquieto e com um incómodo", começou por contar à SÁBADO o amigo da família Daniel Oliveira. "Aconselhei-a a levá-lo às urgências."

Recém-nascido
Recém-nascido

Na segunda-feira, 18, Daniel tinha estado com Luan. "Ele era um miúdo saudável, até brincámos muito." Mas em dias tudo mudou. Após o mal-estar, Patrícia Fernandes deslocou-se até ao centro de saúde de Idanha-a-Nova, onde a mandaram para o hospital de Castelo Branco - um percurso que duraria cerca de 30 minutos de carro. Lá, "mediram-lhe a temperatura, mas viram que não tinha febre, então o médico passou uma receita. Disseram que tinha apenas a garganta inflamada e que tinha dores no ouvido", recordou à SÁBADO Patrícia Fernandes.

Já em casa, eram "16h50 quando Luan tomou o remédio", segundo a mãe, de 20 anos. A criança ainda conseguiu dormir, mas às 18h acordou novamente a vomitar.

O amigo ligou a partir da Alemanha para o 112, mas não deu. Foi então que decidiu contactar um "colega bombeiro", mas "ele disse que tinha de ser o hospital a reencaminhá-la" para as urgências. Sem outra solução à vista, ligou para o centro de saúde. Eram 18h45 quando tentou entrar em contacto com a unidade de saúde e durante a chamada foi-lhe dito que encerravam as 19h. "Tentei ligar para o centro de saúde de Idanha-a-Nova, mas disseram-me que estava na hora do fecho", lembra.

Daniel pediu ao irmão que levasse Patrícia até ao centro de saúde. Chegaram em apenas "quatro minutos", ainda antes da hora do fecho, mas ainda assim acabaram barrados. "A doutora que estava de serviço recusou atender o miúdo. Ainda tentei ligar para o homem da receção [para pedir que os deixasse entrar], mas ele disse que os médicos já não podiam atender. Não é que eles não podiam, eles só não quiseram atender", lamenta Daniel.

Patrícia acabou por ficar à porta do centro de saúde durante 10 minutos com um bebé ao colo, quando o pior aconteceu. "O miúdo acabou por morrer naquele momento." Só após este trágico cenário é que os médicos ficaram em "pânico" e decidiram deixar Patrícia e o filho entrar. A médica "ligou o oxigénio e tentou reanimá-lo, mas ele já não correspondeu", lembra Patrícia ao dizer que esperou cerca de 40 minutos.

Daniel Oliveira acusa agora o hospital de Castelo Branco e o centro de saúde de Idanha-a-Nova de "negligência": "O hospital de Castelo Branco por o miúdo ter chegado doente e voltado doente sem o terem colocado sob observação, e o centro de saúde de Idanha-a-Nova por se ter recusado a atendê-lo."

E lembra que todo este cenário podia ter sido evitado. "Ele chegou lá vivo. Teria feito toda a diferença se os médicos o tivessem atendido. Podia ter tido um desfecho melhor."

O Ministério Público está agora a . Já a Unidade Local de Saúde (ULS) de Castelo Branco abriu um inquérito interno para apurar o que aconteceu e lamentou o sucedido ao acrescentar que "não foi possível evitar" a morte da criança que havia apresentado um "agravamento do seu estado clínico", refere o Diário de Notícias.

À SÁBADO, a mãe da criança diz que ainda não foi contactada pelas autoridades.

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