Chuvas de Março são suficientes para colmatar seca em Portugal?

Alexandra Pedro , Lusa 18 de março de 2018
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Situações de seca extrema e moderada desapareceram na primeira quinzena de Março, contudo, o engenheiro ambiental Pedro Teiga alerta para "cenários problemáticos" caso se desvalorize a utilização da água.

seca guadiana
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"O grande problema não é a seca em si, mas sim os padrões actuais de utilização e as pressões" exercidas sobre os cursos de água. Quem alerta é Pedro Teiga, investigador e especialista em reabilitação dos rios, que considera que apesar da chuva ter melhorado a situação de seca no País, só por si "não é suficiente para colmatar as necessidades hídricas". 

"Se olharmos para os campo, vemos como já estão verdejantes e a responder positivamente a estas chuvas, [com alguns rios] que podem entrar em situação de cheia e causar inundações", disse à Lusa o investigador do Centro Interdisciplinar de Investigação da Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto. 

No entanto, há preocupações a ter: o engenheiro ambiental acredita que podem avizinhar-se "cenários problemáticos" caso a utilização da água a nível doméstico, industrial e agrícola se mantenha igual à do último ano. Desta forma, segundo o especialista, não será possível criar os armazenamentos necessários para os diferentes usos. 

"O grande problema não é a seca em si, mas sim os padrões actuais de utilização e as pressões" exercidas sobre os cursos de água, frisou, acrescentando que "um agricultor vai continuar a regar o seu campo de milho, quer se esteja em situação de seca ou em cenário de escoamento normal de água". O volume de água que "vai utilizar para ter produtividade é que terá impacto no rio", esclareceu.

Esta sexta-feira, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera fez saber, atavés do boletim sobre a seca meteorológica, que os elevados níveis de precipitação das primeiras duas semanas de Março fizeram desaparecer as sitauções de seca extrema e moderada. De acordo com o Negócios, no ínicio do mês ainda exisitiam situações gravosas em 9% do território nacional. 

"A 15 de Março de 2018 [quinta-feira passada], 80% do território já não se encontra em seca meteorológica e apenas de 21% está em seca fraca", lê-se no boletim, citado pelo Negócios. Em "classe normal" encontrava-se ainda 21% do território, 51% estava no nível de "chuva fraca" e 7% em "chuva moderada". 

Este é um registo bem diferente daquele que se verificava no final de Fevereiro, em que 83,1% do País estava em seca severa e 1,3% em seca extrema. "Em Fevereiro o valor médio da quantidade de precipitação, 65.6 mm, foi cerca de 65% do normal, classificando-se este mês como seco. Nos últimos 30 anos, apenas em 8 anos o valor médio da quantidade de precipitação em Fevereiro foi superior ao valor normal (1971-2000). De referir que foi o 11º mês consecutivo com valores de precipitação mensal inferiores ao normal", indicara o boletim climatológico do IPMA, no final do passado mês.

Pois no início de Março, a situação inverteu-se: "o valor médio da quantidade de precipitação de 1 a 15 de Março [...] é cerca de três vezes o valor médio mensal, sendo já o 9.º maior valor para o mês de Março desde 1931 e o 3.º mais alto desde 2000". "Os valores registados nesta primeira quinzena excedem já quatro vezes o valor médio do mês", acrescenta o IPMA. 

O investigador Pedro Teiga defende que os rios têm capacidade de responder naturalmente aos períodos de seca, assim como as espécies autóctones estão, de uma forma geral, prontas para se adaptarem às variações de caudal, encontrando abrigo em pequenos núcleos de água. O problema, no entanto, surge quando esses núcleos são utilizados para a agricultura ou para sistemas industriais, ficando a balança do equilíbrio hídrico "altamente descompensada", com "consequências graves nas espécies ribeirinhas".

"Existem várias espécies de peixes e de macroinvertebrados a morrer ao longo das margens dos rios, devido ao stress hídrico e à falta de água, que este ano se fez notar não só a meio da encosta, mas também nas galerias ribeirinhas", explicou.

Pedro Teiga disse que, apesar de contribuir para contornar a situação de seca no país - enchendo açudes e albufeiras -, a água das chuvas não deve ficar retida somente nesses locais, sendo também necessária para aumentar o caudal dos rios, responsável pela limpeza desses recursos.
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