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Viúva de Odair Moniz ouvida em Tribunal: “Tínhamos muitos planos, estragaram-nos a vida"

Débora Calheiros Lourenço 22 de outubro de 2025 às 14:42

Odair Moniz morreu no dia 21 de outubro de 2024 no bairro da Cova da Moura, depois de ter sido baleado pela polícia. Julgamento do agente da PSP arrancou esta quarta-feira.

Depois de esta manhã o agente da PSP acusado pelo homicídio de Odair Moniz ter sido ouvido no Tribunal de Sintra a tarde ficou reservada para que as testemunhas começassem a ser chamadas.
Odair Moniz DR
Edna Fernandes, de 22 anos, uma testemunha ocular que reside na Cova da Moura, afirmou que não conhecia nem o agente Bruno Pinto nem Odair Moniz. A testemunha refere que estava a caminho do seu trabalho, com a sua mãe, quando viu um carro a preto a bater num carro da polícia e a ser perseguido por um carro da polícia. Ambos saíram do carro e "a polícia queria prender e Odair não queria deixar", afirma várias vezes durante o seu depoimento.  Edna afirma que ainda ouviu os "dois tiros que foram disparado para o ar" e fugiu com a sua mãe. "Quando desci para ir apanhar o comboio das 5h35, na Damaia, já estavam ambulâncias e muitas pessoas", partilha. Nesse momento estavam no local polícias que disseram que ninguém poderia passar naquela zona.  Depois de ser questionada sobre se tinha visto Odair Moniz a agredir os agentes da PSP, ou a fazer algum movimento que desse a entender que poderia agredi-los, Edna afirmou que não, o que levou o advogado de defesa a pedir para que fosse ouvida a gravação das primeiras declarações que prestou por acreditar que existiam contradições. Depois de serem ouvidas as declarações Edna, que no início da sua declaração ao tribunal tinha referido que tem algumas dificuldades em falar português, referiu que não considerava que existissem diferenças entre as duas declarações.  A situação acabou por levar a jovem a partilhar que estava com medo e a juíza Ana Sequeira acabou por intervir chamando Edna para perto de si e fazendo as questões, em vez do advogado de defesa Ricardo Serrana Vieira, essa parte foi inaudível para o resto da sala, mas no final a jovem acabou por garantir ninguém a pressionou para não falar nem para não falar sobre algo que tivesse presenciado: "Falei o que vi". O agente da PSP Rui Machado, que se encontrava a fazer a patrulha com Bruno Pinto. Rui Machado faz-se acompanhar por um advogado que explica que o agente da PSP quer prestar declarações sobre o processo, mas apenas até aos factos antes do momento do segundo disparo, uma vez que existe outro processo em que Rui Machado foi . O Ministério Público, assim como os advogados, tanto o de defesa quanto o de acusação, não se opuseram ao pedido de Rui Machado pelo que o pedido foi aceite pelo tribunal. Rui Machado corrobora também o que já foi defendido por Bruno Pinto de que “não fazia sentido naquele momento usar o gás pimenta” devido à existência de vento e à proximidade mais populares que não seriam afastados por essa ação e poderiam também ser atingidos, assim como os próprios agentes da PSP. Questionado sobre o porquê de ter guardado a sua arma de fogo, uma vez que a tinha apontado a Odair num primeiro momento, Rui Machado afirmou: “Guardei [a arma] para tentar manietar aquela pessoa. Internamente, aprendemos que aquela é uma abordagem de alto risco. Porque enceta fuga, não obedece à ordem de paragens, abalroa vários carros, sai ao mesmo tempo que eu do carro, eu não sabia se estava munido com arma de fogo efoi por isso que recorri” inicialmente à arma. Depois, diz, “não achei necessário estar com arma”. Assim sendo Rui Machado prossegue o depoimento e conta a sua versão dos factos, muito próxima da de Bruno Pinto, referindo que durante os confrontos, e ainda antes de Bruno Pinto ter disparado para o ar, Odair afirmou: "Filhos da puta, vou vos matar". Foi também nesta altura que Odair começou a gritar por ajuda e Rui Machado partilha que sentiu "receio e medo" de que algo lhes pudesse acontecer ainda assim o agente da PSP refere que "não conhecia Odair" nem tinha indícios de que este poderia ser perigoso.  Durante a ocorrência, ainda antes dos disparos para o corpo de Odair, o rádio de Rui Machado caiu e este, para apanhá-lo, ficou de costas, tendo ouvido o disparo nesse momento pelo que não percebeu logo quem era o autor do disparo e se havia alguém que tivesse sido atingido.  A viúva de Odair Moniz foi a primeira a ser ouvida, enquanto assistente, referiu que a última vez que viu o marido foi pelas 20h30, quanto estava a fazer o jantar e que “nunca mais o viu”. Odair terá dito à mulher que “ia e já vinha” para que pudessem jantar, sem ter dado mais pormenores, pelo que a viúva afirma que não sabe porque razão é que Odair tinha ido ao Bairro da Cova da Moura. Já só de madrugada é que soube que algo se passava e foi o filho que a alertou: “Mãe, mãe, mãe vai lá ver o que aconteceu com o pai". O filho terá explicado que algo se passava com Odair e que este estaria na Buraca, para onde a mulher se deslocou. Agora Ana Patrícia Moniz refere em tribunal que não sabe quem é que avisou o seu filho. “O senhor agente estava a gozar com a minha cara e a dizer que não sabia de nada”, afirmou antes de explicar que por volta das “6h00 e pouco da manhã” acabaram por lhe informar que Odair Moniz se encontrava no hospital. Tanto Odair como Ana Patrícia tinham dois trabalhos, eram ajudantes de cozinha e, desde abril, exploravam um café. Café este que a viúva descreve como o “sonho”: “Tínhamos muitos planos, estragaram-nos a vida”. Ana Patrícia partilha que está de baixa médica, por motivos psiquiátricos, e que toma “antidepressivos, calmantes, comprimidos para a ansiedade” e ainda assim não consegue dormir: "Até hoje ainda não consigo dormir à procura de me uma explicação do que aconteceu com o meu marido" e recorda, emocionada, o dia a seguir à morte: “Não consigo dormir só de lembrar que foram a minha casa, arrombaram a porta e continua estragada até hoje, ninguém foi arranjar. Tenho de meter um armário em frente à porta só para tentar dormir”. Questionada sobre os filhos, que ainda não estão a receber apoio psicológico, Ana Patrícia Moniz refere que o mais velho, hoje com 21 anos, “não sai do quarto, não quer ouvir ninguém falar do pai”, já o mais novo, com 4 anos, “desliga a televisão sempre que ouve o nome do pai” e questiona: “porquê mãe? Porquê?”. Os três vivem juntos com uma pensão de viuvez e abono da criança mais nova, no total de cerca de 400 euros, uma vez Ana Patrícia já não se encontra a receber da baixa. 
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