Sondagens: os vencedores, os perdedores e uma má notícia para Pedro Nuno Santos
As polémicas em torno de Montenegro ditaram uma queda nas intenções de voto na AD, mas continua a ser o partido que reuniria mais votos se o País fosse hoje a eleições. Chega tem a maior queda.
A AD está a ser afetada pela polémica em torno do primeiro-ministro, demonstram as primeiras sondagens após o início da crise política motivada pela sua empresa familiar, a Spinumviva. A coligação de apoio ao Governo desceu cerca de dois pontos percentuais em apenas uma semana, ficando mais perto do PS que cresceu 1,6 pontos. PSD e CDS conseguem 33,5% de intenções de voto e o PS sobe para 28,8%. Já o Chega desce dos 17,4% para os 13,5%, a IL sobe de 5,1% para 6,7%, a CDU desce de 3,6% para 3%, o Bloco sobe para 2,9%, o Livre cai para sétimo lugar, com 2,4% e o PAN sobe para os 1,9%.
Em causa está a sondagem da Pitagórica (feita para a TSF, JN, TVI e CNN Portugal) que aconteceu em dois momentos. Um primeiro uma semana antes do início da crise, entre 23 e 27 de fevereiro, e um segundo durante a semana da moção de censura e anuncio da moção de confiança, entre 3 e 6 de março.
As sondagens apontam ainda para uma perda de popularidade de Luís Montenegro que tem 46% de opiniões negativas (um aumento de oito pontos) e 47% de opiniões positivas (uma queda de cinco pontos percentuais).
José Filipe Pinto, professor na Universidade Lusófona, aconselha "muita ponderação e reserva" nas conclusões a tirar desta sondagem já que os questionários para a mesma decorreram durante semanas com muitos momentos marcantes que podem fazer oscilar a opinião dos questionados. "Não sabemos quantas pessoas responderam antes da moção de censura e quantas votaram depois e quantas votaram antes ou depois de se saber que haverá uma moção de confiança", explica o especialista em declarações à SÁBADO. Já está lançada a corrida para as eleições legislativas?
Os maiores perdedores
Na opinião de José Filipe Pinto não há dúvida de que há dois grandes partidos em queda nesta sondagem e um partido que perdeu ao não saber capitalizar um momento que parecia tão promissor para a oposição. "Os principais perdedores são Luís Montenegro e, em menor escala a AD e o Governo, e o Chega. O PS apesar de crescer nas intenções de voto é um crescimento tímido", sublinha.
A sondagem foi feita num momento em que a confiança em Luís Montenegro está em baixa devido às polémicas que o envolvem e à empresa que agora só pertence aos filhos e "isso refletiu-se nos resultados do Governo". Mas enquanto a taxa de aprovação de Montenegro baixou quase oito pontos percentuais, a queda das intenções de voto na AD é muito mais suave.
"Aquilo que vemos é que o PS não capitalizou de forma exponencial esta queda da AD apesar de ter conseguido um ligeiro aumento", sublinha o professor universitário, reforçando ainda que apesar do "empate técnico", a AD continua a reunir mais intenções de voto do que o principal partido da oposição.
E o principal perdedor desta sondagem é mesmo o Chega com uma queda de quase quatro pontos percentuais. "O Chega conseguiu, no último ato eleitoral, uma votação muito elevada, mas neste momento dificilmente tem margem para crescer", acredita o politólogo que sublinha que os portugueses não chegaram ao estado de descontentamento no sistema que funcionou como trampolim noutras partes do Ocidente. E esta queda agora nas sondagens, acredita José Filipe Pinto, pode estar relacionada com sucessivas polémicas que têm afetado figuras relevantes do Chega, como o caso do deputado Miguel Arruda, suspeito de furtar malas no aeroporto, ou dos casos de pedofilia e abuso que pendem sobre elementos do partido ou ainda ("Se bem que de forma mais suave", garante o professor da Lusófona) o caso do deputado regional do Chega apanhado a conduzir sob o efeito de álcool.
"Claro que o Chega vai continuar a ser a terceira força política, mas possivelmente continuará a descer nas intenções de voto", acredita o especialista.
Mas então como se explica que a popularidade de André Ventura se mantenha inalterada, ao contrário da de Luís Montenegro? "É que o Chega tem os seus eleitores irredutíveis, que votam neste projeto de André Ventura e em André Ventura independentemente de qualquer desenvolvimento."
Os vencedores
No entender de José Filipe Pinto estas sondagens mostram apenas um vencedor. "É, claramente, a Iniciativa Liberal."
O partido liberal sobe, no entender do especialista, porque há não só um reconhecimento entre as bases do partido de que este atingiu uma fase de maturidade que acrescenta à sua credibilidade, mas também que se apresenta como uma alternativa a quem desconfia de Luís Montenegro e da AD e também não quer dar um voto ao Chega. "Mais do que uma questão de ideologia, a IL sobe por ser um partido com alguma confiabilidade, está a colher os louros da sua posição equilibrada, ponderada, de criticar mas sem cair na crítica destrutiva e por isso mesmo o eleitorado começa a reconhecer-lhe uma idoneidade e competência que pode ser traduzida em votos", defende.
E poderá ser o suficiente para a AD tentar a IL com uma coligação pré-eleitoral? "Isso seria bom para a AD, porque o sistema eleitoral em Portugal favorece os partidos e coligações grandes, mas poderia prejudicar a IL que ganharia mais em ir como uma força isolada", acredita José Filipe Pinto.
Análise às possibilidades apontadas pela sondagem
José Filipe Pinto considera que as principais conclusões que se podem retirar desta sondagem é que, tal como aconteceu o ano passado, continua a haver uma maioria de direita no País. Mas que essa maioria continua a precisar, muito provavelmente do Chega, para ser uma maioria absoluta.
E à esquerda? "Pedro Nuno Santos percebe, com estes resultados, que não estão reunidas as condições para reeditar a Geringonça, mesmo que em novos moldes com a participação política de partidos como o Livre, o BE e eventualmente o PCP", esclarece o politólogo que sublinha que apesar da ligeira subida do Livre, BE e PCP continuam a perder eleitores segundo estas intenções de voto.
"Este cenário é preocupante para Pedro Nuno Santos e o PS porque não conseguiram aprovar a desconfiança levantada pelas questões do património do primeiro-ministro. "Todo este cenário devia implicar uma subida acentuada do principal partido da oposição e o que vemos é que Pedro Nuno Santos não consegue cavalgar uma onda de desconfiança e parece não entusiasmar como alguém que represente um projeto alternativo", o que pode dar uma segunda derrota eleitoral legislativa ao líder socialista, podendo até significar o fim do seu mandato à frente do partido.
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