Não há mortes entre vacinados. Variante indiana já é a segunda mais comum em Portugal

Marcelo deixa avisos, mas agradece apresentações "hoje mais interessantes"

No final das apresentações, fala o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Começou por agradecer o contributo – "hoje mais interessante" – de especialistas graças aos estudos sobre as linhas vermelhas da pandemia e os novos graus de desconfinamento.

Marcelo deixou avisos para a explicação da "importância da vacinação", admitindo dificuldade em ver o "peso imediato" das novas variantes da covid-19, como a indiana ou a sul-africana e notando a "ausência de qualquer referência" quanto à ligação entre a incidência e o stress hospitalar e mortalidade.

"Parece óbvio que um indicador do R é mais precoce do que de internamento em cuidados intensivos. Não vi qualquer análise sobre a ligação que existe ou não entre o aumento de casos e a pressão no SNS", afirmou por videoconferência.

Vacinação da faixa etária dos 30 anos começa no final de junho

O coordenador do plano de vacinação contra a covid-19 revelou esta sexta-feira que ainda para este segundo trimestre, até ao final de junho, Portugal receberá 1,5 milhões de doses de vacinas, que só poderão ser utilizadas a partir de julho.

Gouveia e Melo afirmou também que, até ao final de semana, mais de 85% de pessoas dos 60 aos 69 anos terão recebido, pelo menos, uma dose da vacina contra a covid-19, com a percentagem a ser de 40% na faixa etária entre os 50 e 59 anos.

O responsável aponta ainda que, se tudo correr bem, a vacinação da faixa etária de 40 anos começa a 6 de junho e a de 30 anos na última semana de junho, que deverá estar vacinada com a primeira dose entre a primeira e segunda semana de agosto.

"Quando chegamos a cerca de dois terços de uma faixa etária, começamos a sentir alguma resistência para encontrar pessoas. Começa a diminuir o ritmo a que encontramos as pessoas. Temos de abrir a faixa de baixo para manter o ritmo de vacinação elevado", justifica.

Especialista propõe três novas fases de desconfinamento

Raquel Duarte, da ARS Norte e Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, apresenta o "Plano de Redução das Medidas Restritivas de Controlo de covid-19", para depois de junho.

A investigadora aponta que a matriz que tem definido o ritmo de desconfinamento cruz múltiplas estatísticas, desde multas por incumprimentos a observações de peças televisivas sobre o tema, além da opinião de vários especialistas, e, portanto, peritos defendem a matriz de forma "quase unânime", considerando-a "fulcral" para o controlo da pandemia.

Raquel Duarte propõe então três níveis de desconfinamento, com o objectivo de "progredir sem ter de recuar", com patamares de risco divididos por "previsibilidade".

Nestes patamares estará a organização de pequenos e médios eventos de todo o tipo – culturais, desportivos, etc. – com prioridade para eventos ao ar livre, e sempre com máscara.

A especialista indica um fator importante para evitar a propagação do virus nestes espaços: ventilação. E pede "atenção particular" a países com novas estirpes e a vigia de fronteiras, sobretudo terrestres.

Mesmo com avanço na vacinação, matriz de risco deve continuar a ser utilizada

Andreia Leite, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, fala agora de modelos para caracterizar as linhas vermelhas.

 A atual matriz de risco é composta por dois critérios, o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus e a taxa de incidência de novos casos de covid-19 por cem mil habitantes as 14 dias, indicadores que têm servido de base à avaliação do Governo sobre o processo de alívio das restrições iniciado a 15 de março.

No entanto, a especialista defende que estas linhas vermelhas devem ser actualizadas tendo em conta a evolução da pandemia com a vacinação, integrando o plano de vacinação na matriz.

Andreia Leite aponta que a vacinação irá "contribuir para manter os valores controlados de infecção" e que, por isso, "não se justifica a modificação dos critérios" da matriz de risco, devendo continuar a usar-se para avaliar o controlo sobre a pandemia – com o avanço na vacinação a ser tido em conta na definição das medidas políticas.

16,2% dos portugueses esteve em grupos com 10 ou mais pessoas

Fala agora Carla Nunes, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade de Lisboa, sobre as percepções sociais da covid-19. A especialista aponta que Lisboa foi uma das áreas que de destacou no último mês, registando três vezes mais casos do que seria esperado, em relação ao resto do país.

Outros dos concelhos sob alerta são Golegã, Salvaterra de Magos e Cartaxo.

Carla Nunes aponta também que os portugueses começaram a desconfinar, sentindo-se menos ansiosos e tristes. A percentagem de pessoas que estiveram, em maio, com grupos de 10 ou mais pessoas foi de 16,2%, enquanto a percentagem de pessoas agitadas ou ansiosas todos os dias desceu para 17,9%.

Outro sinal de retoma é o de retoma dos serviços de saúde, com quase 85% das pessoas a frequentarem consultas presenciais.

A confiança nas medidas do Governo também é maio: em janeiro 67% pensavam que as medidas eram pouco ou nada adequadas, agora a percentagem desceu para 21%.

Variante indiana já é a segunda mais comum em Portugal

A variante indiana da covid-19 já representa 4,6% dos casos em Portugal. Depois de não ter sido detetado qualquer caso em abril, o especialista João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, dá conta de que a variante já foi identificada em 13 concelhos de 9 distritos do país.

No total, foram registados apenas 37 casos entre 800 amostras, mas em proporção, especialistas estimam que já tenham sido registados 160 casos da variante indiana e que exista já transmissão comunitária.

Esta já é a segunda variante mais representada em Portugal , ultrapassando a variante de Manaus, no Brasil, que representa 3% dos casos de covid-19 e da variante do África do Sul, com 1,9%.

A variante do Reino Unido continua a ser dominante, representando 87,2% da amostra de casos de covid-19 em Portugal.

Vacina tem eficácia de 75% em pessoas com mais de 80 anos

Baltazar Nunes fala agora da eficácia de vacinas, indicando um estudo que acompanhou pessoas com mais de 80 anos vacinadas com doses da Pfizer e Moderna.

Contra a infecção sintomática, a efectividade da vacina foi de 80%, enquanto a infecção geral, sintomática ou não, foi de 75%.

O especialista aponta que estes são valores "muito bons" para uma faixa etária que "por vezes tem uma resposta diminuída à vacina".

Portugal é dos países da Europa com menor redução na mobilidade

Em relação a outros países, Baltazar Nunes realça que Portugal é dos que tem menor redução na mobilidade, citando dados da Google que mostram como os portugueses se encontram no grupo dos países em que as pessoas mais têm circulado.

O especialista indica ainda que nas últimas semanas houve um aumento da mobilidade nos transportes públicos, espaços de trabalho e de lazer.

R(t) em Lisboa e Vale do Tejo é de 1,14

O especialista do INSA, Baltazar Nunes, fala agora sobre a evolução do R em Portugal. O índice de transmissibilidade da Covid-19 encontra-se actualmente nos 1,07, com um tempo de duplicação de casos de 75 dias. Entre 19 e 23 de maio, a média de casos de covid-19 foi de 453 novos casos por dia.

Em Lisboa e Vale do Tejo, o R(t) é de 1,14, com uma incidência registada acima dos 60 casos por 100 mil habitantes, com uma previsão para ultrapassar os 120 casos dentro de 15 a 30 dias e os 240 casos por 100 mil habitantes, dentro de 31 a 60 dias.

272 idosos com mais de 80 anos ficaram infetados após receberem a vacina

André Peralta Santos dá conta de que as hospitalizações por covid-19 continuam numa tendência crescente e que a faixa etária com mais internamentos e internamentos em cuidados intensivos é a de entre 40 e 59 anos.

A incidência da mortalidade da pandemia é actualmente de 3 mortes por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias.

O responsável da DGS realça também uma manutenção da intensidade de testagem, com 270 mil testes realizados, com uma taxa de positividade de 1,4%, um valor que aumentou nas últimas duas semanas.

A DGS deu ainda conta de que, entre os vacinados contra a covid-19 com mais de 80 anos, 272 pessoas ficaram infetadas após terem sido vacinadas, das quais 15 necessitaram de ser hospitalizadas. Neste momento pelo menos 600 mil idosos nesta faixa etária já receberam as duas doses da vacina.

Acompanhe em direto a reunião no Infarmed

Freguesias do centro de Lisboa com incidência acima dos 240 casos por 100 mil habitantes

A primeira intervenção é de André Peralta Santos, director de serviços de informação e análise da Direção-Geral da Saúde, que avança que Portugal regista uma incidência "baixa a moderada", de cerca de 60 casos por 100 mil habitantes nas últimas duas semanas, mas com tendência crescente na última semana.

O responsável aponta que não são muitos os concelhos que registam uma incidência acima do limite, apenas 12, e que estes correspondem a uma população de 683 mil habitantes – 7% da população.

Lisboa apresenta já uma incidência acima de 120 casos por 100 mil habitantes a 14 dias.

Já a região de Lisboa e Vale do Tejo, em particular a Área Metropolitana de Lisboa, apresentou crescimentos da incidência, e pode representar uma preocupação devido à grande densidade populacional, sendo a que região do continente que mais preocupa.

A situação mais crítica são as freguesias do Centro de Lisboa, que apresentam incidência acima de 240 casos por 100 mil habitantes, com as freguesias vizinhas a apresentarem mais de 120 casos por 100 mil.

O que se pode esperar da reunião no Infarmed?

A SÁBADO consultou especialistas em antevisão à reunião no Infarmed esta sexta-feira e uma coisa é certa: atualmente mais casos não significam novos internamentos, nem mais pessoas em Cuidados Intensivos. 

Mudanças na matriz de risco, aceleração da vacinação nas áreas metropolitanas, manter a máscara durante o verão, regras específicas para os vacinados – são as previsões para o encontro no Infarmed entre responsáveis políticos e especialistas.