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"A filosofia do Chega é a que há um Messias, salvador de Portugal. Mas não é nem Messias, nem salvador"

Alexandre R. Malhado 21 de agosto de 2025 às 07:19

O militante do Chega Fernando Sá Nóbrega é autor da impugnação às listas autárquicas do partido. À SÁBADO, conta as motivações para agir e admite ter sido "iludido" por Ventura.

É madeirense, tem 34 anos e é o militante número 15.764 desde que viu André Ventura como deputado único do Chega. "Acreditei que o Chega se tinha tornado no partido que queria melhorar Portugal, mas infelizmente fui iludido", lamenta Fernando Sá Nóbrega à SÁBADO. Após o Tribunal Constitucional lhe ter dado razão na impugnação feita contra a VI Convenção do partido, em Viana do Castelo, que declarou inválida a eleição dos órgãos nacionais, Nóbrega apresentou agora nos tribunais de várias comarcas pedidos de impugnação de todas as listas do partido às eleições autárquicas de 12 de outubro.
andré ventura chega TIAGO PETINGA/LUSA
O que o motivou a fazer estas queixa? A transparência. No ramo da política, temos de ser mais transparentes. Infelizmente, o Chega não o tem sido. Perante a lei, com o chumbos do Tribunal Constitucional, os órgãos sociais e os estatutos atualmente válidos são os de 2019 — e eles continuam a tomar decisões com órgãos sociais inválidos. Por exemplo, fazem a vida interna do partido como se a composição do conselho nacional fosse a mesma do último congresso, que foi declarado irregular. Isto é um imbróglio que tem de ser resolvido o quanto antes, tem de se fazer justiça. Eles estão a fazer aldrabices.   Como justifica a irregularidade das listas? A lei eleitoral dos órgãos das autarquias locais é clara: "Só podem apresentar candidaturas os órgãos regularmente constituídos, democraticamente eleitos e com legitimidade estatuária". As listas do Chega foram aprovadas com órgãos sociais ilegítimos, como decretou o Tribunal Constitucional no passado. Como é que se resolvia este impasse interno? É simples: tem de haver uma nova convenção. O problema é que, entretanto, dos órgãos nacionais de 2019, os que estão em vigor, já há pessoas que se demitiram. Mas tem de haver nova convenção — e já. Vai haver eleições autárquicas com listas que, a meu ver, não podiam ser legitimamente aceites pelos atuais órgãos. Sinto muita revolta sua. Sinto-me revoltado como militante, claro. Um partido com 60 deputados, que se diz líder da oposição, devia estar mais bem organizado, no mínimo ter os estatutos e os órgãos regularizados. Sou de direita e custa-me sentir que há uma tremenda hipocrisia no Chega, que se diz superior aos outros. O partido não está a seguir as normas, eu fiz o que me compete (impugnei) e veremos o que os tribunais decidem. Acredito na justiça, demore o tempo que demorar.  É atualmente militante. Está a ponderar sair do partido?  Não digo que não, vou estar atento. Gostava de mudar o partido por dentro, mas já há demasiada coisa enraizada que não vai ser uma andorinha a mudar aquilo. A filosofia do Chega é a que há um Messias, que é salvador de Portugal, mas não é bem assim. Não é Messias, nem salvador.
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