Sábado – Pense por si

Tiago Silva
Tiago Silva Advogado
09 de agosto de 2024 às 07:00

Supertaça: chutos e pontapés

Capa da Sábado Edição 5 a 11 de agosto
Leia a revista
Em versão ePaper
Ler agora
Edição de 5 a 11 de agosto

Esta vitória e a forma como a mesma foi obtida permitiram ainda provar que o ADN do FCP permanece intocável e que é possível conciliar essa identidade à Porto com uma postura de elevação dentro e fora de campo.

No último sábado em Aveiro jogava-se mais do que a final da Supertaça entre o campeão em título e o vencedor da Taça de Portugal.

Na verdade, e depois de toda a turbulência em torno do processo que conduziu Vítor Bruno a treinador principal do FCP, jogava-se também a ligação e confiança dos adeptos na equipa e no seu técnico e, com isso, a tranquilidade (ou a falta dela) com que o plantel do FCP iria trabalhar e abordar o início do campeonato.

Daí que o jogo fosse ainda mais importante para o FCP dado que o SCP vinha de ser campeão nacional de forma indiscutível e tinha, também por isso, um treinador e uma equipa com créditos, para já, quase ilimitados junto do público de Alvalade.

Ora, os primeiros vinte e cinco minutos de jogo revelaram-se um autêntico pesadelo para o FCP e faziam temer o pior.

O FCP, não obstante ter entrado melhor e desperdiçado a primeira grande oportunidade do jogo, cometia erros individuais e defensivos em doses industriais, permitindo ao SCP chegar ao 3-0 com uma facilidade aterradora.

O FCP estava completamente perdido em campo e defensivamente parecia um barco à deriva.

Fora de campo, alguns oportunistas agarrados ao passado que nunca se conformaram com a humilhação eleitoral de Abril já afiavam as facas e expressavam todo o seu gáudio nas redes sociais, acompanhando, com deleite, o fogo de artifício vindo das bancadas afectas ao SCP.

Também esses foram apanhar as canas no fim.

Aos 28 minutos o FCP reduziu a desvantagem através de Galeno após mais um erro do estreante Debast.

Este golo do FCP acabou por ser um dos momentos determinantes no jogo pois permitiu à equipa portista manter-se viva e agarrada ao jogo.

Ao intervalo, o resultado de 3-1 penalizava justamente o péssimo jogo defensivo do FCP.

Os primeiros 15 minutos da segunda parte coincidem com o melhor momento do SCP no jogo, pelo que é absurdo dizer-se, como já ouvi, que o SCP facilitou ou subestimou o adversário na segunda parte.

O SCP, durante aquela fase do jogo, ultrapassava com relativa facilidade a pressão que o FCP exercia sobre a sua primeira fase de construção e, através de variações rápidas de flanco de jogo, aproveitava o espaço nas costas de João Mário para criar perigo.

Até que aos 63 minutos tudo mudou.

Vítor Bruno faz duas substituições e mexe com o meio campo e ambas as laterais do FCP.

O impacto das substituições no jogo foi de tal ordem feliz que o FCP no espaço de dois minutos (64m e 66m) faz dois golos e empata apoteoticamente o jogo.

O FCP havia feito o impensável ao recuperar de uma desvantagem de 3 golos contra o campeão nacional mas sentia-se que o conto de fadas podia não ficar por aí.

A partir do empate e até ao final do tempo regulamentar só deu FCP fruto do suplemento de alma alcançado com o empate e das entradas muito positivas em jogo de Vasco Sousa e Fran Navarro.

No prolongamento o FCP acabou por recuar as linhas e ceder a posse de bola ao SCP, sendo que numa disputa de uma segunda bola no meio campo adversário o menino Vasco Sousa ganhou a mesma, progrediu com ela e endossou-a a Ivan Jaime que, não temendo ser feliz, rematou à baliza e encontrou nas pernas do recém entrado Mateus Fernandes o desvio feliz de trajectória que viria a ser decisivo para enganar o atarantado Kovacevic, materializando assim uma memorável e fabulosa reviravolta.

Até ao fim do jogo, o FCP uniu-se e fechou-se bem, não permitindo ao SCP qualquer lance que fizesse perigar a conquista da 24.ª Supertaça de Portugal.

Foi uma vitória histórica e épica não só pela viragem do resultado contra o campeão nacional de 0-3 para 4-3 mas também porque este plantel do FCP ficou no ano passado a quase 20 pontos do SCP, tendo perdido esta época Pepe e Taremi.

Esta vitória e a forma como a mesma foi obtida permitiram ainda provar que o ADN do FCP permanece intocável e que é possível conciliar essa identidade à Porto com uma postura de elevação dentro e fora de campo.

2. A final da Supertaça ficou ainda marcada pelo incidente que envolveu Nuno Santos e uma adepta leonina que acabou no hospital com ferimentos causados pelos estilhaços de um vidro partido.

Mesmo desconhecendo o que teria sucedido, logo naquele dia fiquei com a convicção que algo estava a ser escondido da opinião pública para evitar consequências negativas para o jogador.

Com efeito, só isso permitia explicar que o caso nos fosse "vendido" como tendo sido fruto de um "movimento mais brusco" do jogador do SCP que estava num dos camarotes do estádio de Aveiro.

Movimento mais brusco?

Então os jornalistas que estão sempre tão bem informados não conseguiram apurar em que consistiu esse movimento mais brusco, estando tanta gente presente naquele camarote?

Porque razão ocultaram e continuam a sonegar à opinião pública o que terá levado o vidro a voar em direcção à bancada e a ferir a jovem adepta do SCP?

Tendo em conta que os tristes acontecimentos tiveram lugar logo após o golo da vitória do FCP, não é difícil presumir que a causa do sucedido terá sido um gesto de raiva e frustração do jogador do SCP, o qual no decorrer do jogo já havia festejado um dos golos do SCP infligindo pancadas sucessivas e violentas na guarda de vidro daquele camarote.

Claro está que nos dias que se seguiram muitos procuraram branquear o sucedido, alegando tratar-se de um mero acidente fortuito como se o vidro tivesse sido projectado pelo facto de Nuno Santos ter embatido involuntariamente contra o mesmo e não por lhe ter aplicado uma uma pancada violenta.

Outros procuraram ainda desviar as atenções do foco do problema, centrando a discussão do tema na Câmara Municipal de Aveiro e no facto desta permitir guardas de vidro sob as bancadas, como se o Município fosse agora responsável por haver quem se comporte como um membro de claque nos camarotes do Estádio.

Nuno Santos não teve, como é óbvio para todos, qualquer intenção de ferir a adepta do SCP mas a sua conduta deve ser fortemente censurável para que sirva de exemplo e não se volte a repetir num estádio de futebol.

Se todos queremos um outro ambiente em torno do futebol e que as famílias regressem aos estádios, não devemos ter contemplações com este tipo de atitudes irrefletidas e de consequências nefastas.

O desporto e o negócio agradecem.

Mais crónicas do autor
14 de fevereiro de 2025 às 14:08

O FC Porto não se pode escrever com minúsculas

Há quem ainda não consiga encarar um FC Porto sem Pinto da Costa, tal era o culto da personalidade que cultivavam, e mostre resistência em estar de corpo e alma com o clube, aproveitando qualquer momento menos bom para apoucar quem dirige os destinos do FC Porto. 

07 de fevereiro de 2025 às 07:00

Os desafios da SAD do FC Porto

É inegável que o FC Porto ficou mais fraco com o fim do mercado de Janeiro e que a luta pelo título parece ser cada vez mais uma miragem, mas aproveitemos os próximos meses pela frente para trabalhar as novas ideias do treinador, fazer crescer os jovens jogadores do plantel e lutar pelo acesso à tão importante Champions League.

31 de janeiro de 2025 às 10:04

O ano zero de Anselmi à frente do FC Porto e as eleições para a FPF

Se no FC Porto não há anos zero, este será o ano zero de Martin Anselmi que deverá lançar as bases para termos um FC Porto competente e muito melhor preparado no futuro.

24 de janeiro de 2025 às 13:59

O novo treinador do FC Porto não vai fazer milagres

O tempo que avaliará Anselmi não é o tempo dos adeptos que exigem respostas imediatas em campo e resultados desportivos à altura dos pergaminhos do FC Porto. 

17 de janeiro de 2025 às 07:00

A auditoria do FC Porto não pode ficar sem consequências

Perante este cenário grotesco, que permite perceber melhor como é que uns iam enriquecendo enquanto o clube ficava cada vez mais perto do abismo financeiro, não é possível nem aceitável que não se extraiam consequências desta auditoria. Só assim estaremos a ser implacáveis com quem tiver lesado o FC Porto. 

Mostrar mais crónicas

As 10 lições de Zaluzhny (I)

O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.

Cuidados intensivos

Loucuras de Verão

Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.