Sábado – Pense por si

Tiago Silva
Tiago Silva Advogado
16 de agosto de 2024 às 07:26

Conceição e o Benfica

Depois de 7 anos em que Sérgio Conceição cultivou e promoveu a imagem de um bastião do portismo, via o ex-treinador do FC do Porto como um dos símbolos do clube, o que, aos meus olhos, se afigurava incompatível e intolerável com oferecer-se para treinar o eterno rival.

Após a estrondosa derrota do Benfica no passado domingo, o futebol português foi abalado, no dia seguinte, por um autêntico terramoto devido à notícia que dava conta que Sérgio Conceição estava receptivo a treinar o Benfica, a tal ponto que a própria estrutura encarnada, atarantada com as réplicas que se fizeram sentir junto da sua massa associativa, sentiu necessidade de emitir um comunicado a desmentir que estivessem no mercado à procura de treinador.

A notícia, sustentada por fontes próximas do ex treinador do FC do Porto e reforçada, ad nauseam, por jornalistas amigos de longa data do mesmo, despertou-me sentimentos mistos.

Se por um lado assistia deliciado ao dobrar da espinha por parte de muitos adeptos e comentadores afectos ao clube encarnado que antes diziam cobras e lagartos de Sérgio Conceição – acusando-o de personificar tudo o que estava errado no desporto, de ser um arruaceiro, um insurreto, não ter fair play – e que agora já dizem, sem corar de vergonha, que é o treinador ideal para liderar a equipa encarnada tal é a sua competência e disciplina, por outro não deixava de me sentir agoniado com o facto de Sérgio Conceição ter decidido colocar o seu lugar à disposição do Benfica.

E tal sentimento não decorria tanto do facto de alvitrar que Sérgio Conceição representaria um acréscimo significativo de qualidade face a Roger Schmidt mas porque, depois de 7 anos em que Sérgio Conceição cultivou e promoveu a imagem de um bastião do portismo, via o ex-treinador do FC do Porto como um dos símbolos do clube, o que, aos meus olhos, se afigurava incompatível e intolerável com oferecer-se para treinar o eterno rival.

Não olvido que Sérgio Conceição tem todo o direito de desejar exercer a sua profissão onde quiser, mas, como portista de berço, também tenho o direito de sentir-me profundamente desiludido e defraudado com a sua alegada manifestação de interesses e legitimado a passar a olhar de lado para todos aqueles que vierem a bater no peito e a beijar o símbolo em proclamações de portismo.

No futebol, se dúvidas ainda houvesse, o genuíno e desinteressado amor ao clube está mesmo reservado para os adeptos.

Romantismos à parte, a notícia expõe ainda um lado mais pérfido do mundo do futebol que deveria suscitar a mais profunda repulsa por parte de todos.

Penso ser unânime que, com a derrota do Benfica no último fim de semana, Roger Schmidt perdeu toda e qualquer margem de tolerância que ainda tinha por parte da massa associativa do Benfica, encontrando-se, por isso, bastante fragilizado, mas, ainda assim e para todos os efeitos, Roger Schmidt é o actual treinador do Benfica e ainda recentemente foi tido como o treinador do "projecto" por parte de Rui Costa, pelo que as "fontes" próximas do ex treinador do FC do Porto deveriam abster-se de sinalizar a disponibilidade daquele em substituir um colega de profissão no activo.

É que, sublinhe-se, a notícia (e, já agora, o presente escrito) não consiste na circunstância de o Benfica haver pensado, sondado ou alguma vez convidado Sérgio Conceição para técnico principal da equipa encarnada, o que nunca sucedeu, mas antes em Sérgio Conceição ter-se alegadamente oferecido para substituir Roger Schmidt, como se o objectivo (da(s) fonte(s)) fosse fragilizar ainda mais o técnico encarnado e, simultaneamente, promover Sérgio Conceição ao cargo.

Não é bonito.

2. Francisco Conceição é um dos maiores jovens talentos do futebol europeu que tem no FC do Porto a sua casa e nos adeptos do clube o conforto e o estribo para, querendo, brilhar de Dragão ao peito.

Em Julho de 2022 Francisco Conceição decidiu, surpreendente e repentinamente, sair do FC do Porto para representar o Ajax, tendo o clube recebido uma bagatela pela sua transferência dado que a sua cláusula de rescisão era absurdamente baixa.

Neste negócio, cujos contornos espero que a auditoria forense possa aclarar, houve um lesado: o FC do Porto

Um ano depois, Francisco Conceição não havia singrado no histórico clube holandês e estava, por isso, triste e insatisfeito na Holanda.

O que fez o FC do Porto?

Foi resgatá-lo para que pudesse, junto dos seus, expressar todo o seu talento e, com isso, valorizar-se, recuperando a felicidade que outrora perdeu.

Mais tarde, mormente em Abril de 2024, aquando a assinatura do seu contrato com o FC do Porto, o clube cedeu-lhe incompreensivelmente 20% do seu passe e estabeleceu uma cláusula de rescisão atipicamente baixa, num negócio de contornos novamente estranhos e em que o clube saiu, mais uma vez, lesado.

Dito isto, gostava muito que Francisco Conceição conseguisse ultrapassar as questões pessoais e familiares que, eventualmente, possam estar a causar-lhe algum desconforto no clube face aos factos que são conhecidos e que contasse com a ajuda de todos para esse efeito por forma a poder dar o seu valioso contributo e ajudar o FC do Porto a alcançar os seus objectivos numa época tão difícil e desafiante quanto a presente mas se o mesmo já tiver concluído que não é possível voltar a ser feliz neste FC do Porto e estiver irredutível quanto à decisão de sair do clube, este é o momento de Francisco Conceição devolver ao clube tudo o que este lhe deu, com juros, pois se há algo que consideraria imperdoável era que o clube voltasse a sair novamente lesado num negócio que envolve Francisco Conceição.

Acima do clube (agora) não há ninguém.

Cumpra-se.

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