Sábado – Pense por si

Tiago Silva
Tiago Silva Advogado
13 de setembro de 2024 às 07:50

Revolução no Dragão e o vermelho das contas do Benfica

O Benfica está a trilhar um caminho perigoso tal parece ser o descontrolo das suas contas, sendo um reflexo disso o facto de os seus custos de pessoal e fornecimentos e serviços externos atingirem já os 200 Milhões de Euros / ano.

1. Os primeiros 4 meses de mandato da nova Direção do FC do Porto ficam marcados por um conjunto abundante de reformas desportivas, organizativas, estruturais e de gestão, que constituem uma autêntica revolução no Dragão e na forma como o clube se relacionará e apresentará no futuro aos olhos dos sócios, adeptos e demais stakeholders (fornecedores, funcionários, investidores?e instituições desportivas e financeiras). 

Se já tínhamos uma angariação expressiva de novos sócios, um recorde de venda de lugares anuais, uma renegociação frutuosa com a UEFA que permitiu ao clube obter o licenciamento para participar nas competições europeias, um conjunto de políticas bem sucedidas de reaproximação do clube aos sócios e adeptos, uma nova estrutura empresarial e organizativa, uma nova forma de comunicação para sócios e adeptos, uma alteração do padrão de negociação de compras e vendas de jogadores (que permitiu ao clube reduzir substancialmente as comissões pagas a intermediários), uma diminuição significativa da massa salarial do plantel, o lançamento do futebol feminino com recorde nacional de assistência em campo, um novo protocolo com a importante claque dos Super Dragões, novos procedimentos e regras em termos de bilhética, uma renegociação positiva dos termos do contrato com o investidor que irá explorar o estádio do Dragão (Ithaka), um novo projecto desportivo que, centrando a política de novas contratações em jogadores predominante jovens e com forte potencial de valorização em termos desportivos e financeiros, visa ser competitivo no presente e vencedor no futuro, esta semana pudemos assistir ao lançamento do novo cartão de sócio do FC do Porto (que irá dispor de nova tecnologia e funcionalidades, transformando a interação do sócio com o clube) e à apresentação do Portal da Transparência. 

Este último, de tão inovador, promete mesmo revolucionar o próprio futebol português pois é fácil perceber que esta medida irá pressionar os demais clubes a arrepiar caminho para ir de encontro às crescentes exigências dos seus sócios e adeptos que, cada vez mais, reclamam que lhes sejam prestadas contas e informações sobre todo o tipo de negócios de forma clara, transparente e de simples acesso.

A transparência neste caso do FC do Porto rima ainda com decência e exigência pois os adeptos estavam cansados de assistir a negócios nublosos, a práticas duvidosas, a relações e benefícios muito pouco claros entre o clube e a sua claque e a comissões pagas cujos montantes e destinatários se afiguravam indecifráveis. 

Presentemente, toda essa informação está compilada e à distância de um clique, dispondo ainda os sócios do FC do Porto de informação pormenorizada e detalhada sobre o custo e orçamento de cada uma das modalidades do clube, algo também inovador no panorama desportivo português.   

É claro que há sempre margem para melhorar – por exemplo, e fica a sugestão, expondo e concretizando os objectivos que compõem as quantias variáveis nas compras e vendas de jogadores – mas este foi um salto extraordinário com vista à transparência e escrutínio da actividade da SAD do FC do Porto. 

O FC do Porto está a percorrer um caminho que o levará a ser tido como uma referência ao nível das melhores práticas de corporate governance, de transformação digital e de relação com o associativismo, está a virar-se para o futuro e para a modernidade sem esquecer o passado até porque se os sócios do FC do Porto sentem um enorme orgulho e gratidão por tudo o que o clube conquistou, também exigem saber quem é que lesou o clube e como é que se chegou a este estado de caos financeiro que tanto compromete o presente e dificulta o futuro. 

Venha a auditoria forense pois não há nada nem ninguém mais importante que o clube. 

2. Sem contar com as vendas deste último mercado (que são contabilizadas no corrente exercício), o Benfica registou vendas de jogadores no montante de 517,5 Milhões de Euros nos últimos 4 anos. 

Nesses mesmo 4 anos, o Benfica acumulou prejuízos na ordem dos 80 Milhões de Euros e, não obstante o elevadíssimo investimento, apenas conquistou 1 campeonato e uma supertaça.  

No último exercício, mesmo com vendas brutas de jogadores de 105 Milhões de euros e com receitas de Champions de 50 Milhões de Euros, o Benfica não escapou a um prejuízo de 31,4 Milhões de Euros. 

Transpondo os mesmos resultados operacionais (sem vendas de jogadores) e financeiros deste último exercício para o corrente, conclui-se que o Benfica necessitará este ano de mais valias da venda de jogadores de cerca de 90 Milhões de Euros para escapar a novos prejuízos. 

Quer isto dizer que as vendas já realizadas de João Neves, Marcos Leonardo, Neres e Morato, que totalizaram o montante global de 139 Milhões de euros (sem objectivos), não serão suficientes para que as contas do clube atinjam o verde dado que as mais valias inerentes àquelas vendas não perfazem o tal número dos 90 Milhões de Euros, sendo que este ano os valores da rescisão contratual com Roger Schmidt aparecerão a penalizar as contas do clube encarnado. 

O Benfica está a trilhar um caminho perigoso tal parece ser o descontrolo das suas contas, sendo um reflexo disso o facto de os seus custos de pessoal e fornecimentos e serviços externos atingirem já os 200 Milhões de Euros / ano (um aumento de 67% face aos valores de há 4 anos) e a sua dívida líquida ter passado de 92,7 Milhões de Euros em 2019/2020 para 202 Milhões de Euros no ano trasacto. 

Um clube que necessita de realizar vendas anuais de jogadores superiores a 130 Milhões de euros para evitar prejuízos está a caminhar para o abismo desportivo e financeiro, bastando um ano sem Champions League para que a situação financeira fique no limiar do descalabro. 

Felizmente que isto já não se passa na "minha" casa.  

3. Luís Filipe Vieira, entre os inúmeros auto-elogios, lá acabou por confessar ontem na entrevista à CMTV que errou na escolha do seu número dois (Rui Costa) e do Diretor-geral para o futebol (Rui Pedro Braz), somente dois dos principais cargos da estrutura encarnada. 

Para além disso acusou os opositores de Rui Costa de estarem a desestabilizar o Benfica e instou à união de todos os Benfiquistas, tudo isto enquanto dizimava sem dó nem piedade a presidência de Rui Costa. 

Por fim, criticou veementemente quem já fala em eleições enquanto mais à frente na entrevista assumiu alegremente que já foi contactado por dois gestores de grandes empresas que querem avançar com uma candidatura à Presidência do Benfica e pretendem contar com o seu apoio. 

O Benfica está transformado numa novela mexicana de terceira categoria.   

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