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Tiago Silva
Tiago Silva Advogado
20 de setembro de 2024 às 10:15

Os dilemas de Vítor Bruno

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Edição de 5 a 11 de agosto

É indiscutível que o FC do Porto dispõe hoje de mais condições para lutar pelo título, mas Vítor Bruno parece ainda não ter conseguido encaixar todas as peças do puzzle.

  1. O FC do Porto, contra todas as expectativas, fez um mercado de contratações bastante positivo, conseguindo reforçar, criteriosamente, as posições mais carenciadas do plantel com jovens jogadores com imenso potencial e qualidade.

É indiscutível que o FC do Porto dispõe hoje de mais condições para lutar pelo título mas Vítor Bruno parece ainda não ter conseguido encaixar todas as peças do puzzle que permitirão à equipa crescer dentro das rotinas e ideias de jogo que o treinador portista pretende implementar.

Na defesa, o FC do Porto abordou os primeiros jogos da Liga com Zé Pedro e Otávio no eixo central mas agora aquele "caiu" para dar lugar à entrada no onze de Nehuén Perez.

Contudo, esta nova dupla de centrais ainda parece estar longe da fiabilidade e consistência necessárias, muito por culpa de Otávio que, para além de revelar muita incapacidade em ganhar uma disputa de bola pelo ar, continua a cometer erros infantis que dão vida aos adversários, transmitindo uma insegurança à defesa (e aos adeptos) que faz com que qualquer lance aparentemente controlado se possa transformar num golo iminente para a equipa adversária.

Otávio está com os níveis de confiança nos mínimos e continuar a expô-lo não vai ser bom para o jogador nem para a equipa.

As suas lacunas na leitura dos lances e as suas carências técnicas ao nível da abordagem à bola, aconselhavam Vítor Bruno a optar por um outro jogador para fazer a posição, até porque o FC do Porto tem um novo teste de fogo em Guimarães e os jogos começam a ganhar-se a partir de uma defesa sólida e consistente.

No meio campo, as dúvidas de Vítor Bruno ainda são mais que muitas, a começar pelo duplo pivot que mais garantias lhe dá para o seu modelo de jogo.

Já se percebeu que o técnico portista pretende encaixar os jogadores mais virtuosos no onze titular mas parece-me claro que alguns deles apresentam mais e melhor rendimento em posições onde já moram outros igualmente capazes.

No último jogo o treinador portista recuou Nico Gonzalez para jogar ao lado de Alan Varela por forma a poder encaixar Pepê na posição mais adiantada do triângulo do meio campo e, com isso, subir Galeno para a sua posição natural.

Sucede que Nico não tem a agressividade, capacidade de ajustar e a rapidez na reação à perda que revela Vasco Sousa e Pepê não dispõe do critério, tomada de decisão e capacidade de finalização que aquela posição exige.

Pepê sente-se mais confortável a jogar a extremo esquerdo, posição que lhe permite procurar a profundidade ou vir para dentro com o seu pé mais forte (foi, aliás, nessa posição que se destacou no Grémio), só que naquele lugar está Galeno (um jogador mais vertical) que atravessa um bom momento de forma e que tem sido um dos maiores destaques (mesmo que partindo de outra posição) da equipa do FC do Porto.

Do lado direito do meio campo, a posição vai sendo ocupada por Ivan Jaime que parece estar a perder fulgor ou não fosse aquele o lado em que revela mais dificuldade em exprimir todo o seu futebol dado que, não sendo um jogador rápido e vertical, os movimentos interiores que procura abundantemente são feitos com o pé contrário, o que traz desconforto ao seu jogo (que falta faz Fábio Vieira, o futuro dono do lugar).

Na frente, Namaso tem sido titular indiscutível muito graças à forma como liga o jogo e joga de costas para a baliza, só que naquela posição o FC do Porto também necessita de alguém que seja agressivo dentro da área e tenha instinto de goleador, características que Namaso não tem.

O FC do Porto está em reconstrução e precisa de tempo para crescer em torno das ideias de jogo do seu treinador (uma posse de bola mais paciente e menos vertiginosa, um futebol mais apoiado e que explora mais o corredor central, movimentos de ambos os alas mais interiores e a profundidade a cargo dos laterais, maior presença na área em momentos ofensivos e mais cérebro no último terço) mas Vítor Bruno tem de conseguir encaixar todas as peças nos seus devidos lugares e encontrar rapidamente o melhor onze base por forma a que, dentro dessa estabilidade, os próprios jogadores possam crescer nas posições.

E sábado espera-nos um dos melhores Vitórias dos últimos largos anos.

  1. Na terça feira o Sporting venceu justamente um Lille que se apresentou muito bem em Alvalade.

Graças a ajustamentos e marcações agressivas e a uma enorme qualidade na saída de bola – que levou a que a equipa francesa conseguisse ultrapassar sempre, com relativa facilidade, as zonas de pressão do Sporting – o Lille, nos primeiros 38 minutos de jogo, raramente permitiu que  o Sporting impusesse o seu jogo, criando sempre muitas dificuldades à construção de jogo do Sporting que, aqui e ali, ia contando com as triangulações de Pedro Gonçalves, Trincão e Gyokeres para criar relativo perigo.

Até que aos 38 minutos apareceu aquele rapaz alto e loiro que, do nada, inventou uma oportunidade e fez um excelente golo para pouco tempo depois "sacar" o segundo amarelo a Angel Gomes do Lille, tornando o jogo muito mais tranquilo e confortável para o Sporting.

Trincão e Pedro Gonçalves são, sem dúvida, dois excelentes jogadores mas o verdadeiro match winner deste Sporting (e até do futebol português) chama-se Gyokeres, um portento de jogador e um dos melhores pontas de lança do futebol europeu (os tubarões vão demorar muito a ver o óbvio?).

  1. Na Sérvia o Benfica venceu de forma apertada o Estrela Vermelha, prolongando os efeitos positivos da chicotada psicológica decorrente da mudança de treinador.

O Benfica, como se viu na Sérvia, é uma equipa capaz de ferir qualquer adversário que lhe conceda espaços nas transições ofensivas (muito fruto do envolvimento dos laterais no processo ofensivo e da velocidade e criatividade de Di Maria e Akturkoglu)  e tem agora, fruto das alterações no onze promovidas por Bruno Lage, um meio campo mais criativo e colaborativo.

Contudo, continuamos a assistir a algumas dificuldades da equipa encarnada no processo defensivo quando o adversário consegue ultrapassar a primeira linha de pressão, fruto de alguma passividade sem bola e do imenso espaço que apresenta entre a sua linha defensiva e o meio campo.

Para já a qualidade dos seus jogadores do meio campo para a frente vai permitindo resolver e ganhar jogos, à semelhança do que sucedia no passado, mas Bruno Lage ainda tem muita pedra para partir.     

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