Sábado – Pense por si

Tiago Silva
Tiago Silva Advogado
25 de outubro de 2024 às 07:00

Pinto da Costa escolheu a porta pequena

Foi esse Pinto da Costa que os sócios derrotaram copiosamente nas urnas pois a esmagadora maioria dos sócios do FC do Porto estava saturada de ser tratada como um mero adereço do clube, de ser confrontada com negócios e negociatas inexplicáveis.

1. Esta semana foram conhecidas algumas páginas do novo livro de Pinto da Costa, cujo lançamento está agendado para o próximo domingo.

Numa dessas páginas, pode ler-se a identificação das pessoas que Pinto da Costa pretende ter ao seu lado no dia, que se espera longínquo, do seu funeral.

Como é óbvio, estamos no domínio exclusivamente privado da vida de Pinto da Costa que tem todo o direito de escolher quem bem entende para ter junto de si naquele momento de despedida da sua longa e preciosa vida.

As minhas divergências com Pinto da Costa cingiram-se sempre mas nem sempre, pois Pinto da Costa é e será sempre o melhor e mais titulado Presidente da história do futebol mundial, à sua pessoa enquanto Presidente do FC do Porto e, nessa medida, nada tenho que opinar sobre os amigos que escolhe para a vida e para o momento da morte.

Contudo, e dado que algumas dessas pessoas tinham ligações muito estreitas com o FC do Porto, sinto, como sócio e adepto do clube, total legitimidade para dizer que se Pinto da Costa pode ter e escolher os amigos que entender, não tinha direito, enquanto Presidente do FC do Porto, para lhes conceder ou tolerar qualquer tratamento económico de favor em prejuízo dos interesses do FC do Porto.

Com efeito, Pinto da Costa, fruto dos muitos anos à frente do FC do Porto e do estrondoso sucesso alcançado enquanto Presidente do clube, a partir de um certo momento parece ter visto o clube como seu, sentindo-se dispensado de justificar actos de gestão que lesavam o clube e legitimado a praticar outros que não tinham em conta os superiores interesses do mesmo, não promovendo qualquer transparência ou boas práticas de gestão.

Foi esse Pinto da Costa que os sócios derrotaram copiosamente nas urnas pois a esmagadora maioria dos sócios do FC do Porto estava saturada de ser tratada como um mero adereço do clube, de ser confrontada com negócios e negociatas inexplicáveis, com o pagamento de abundantes comissões chorudas e de assistir ao enriquecimento pornográfico de Administradores da SAD e de figuras próximas do Presidente enquanto o clube andava de mão estendida e via-se na contingência de ter de vender as suas principais joias a correr e a preço de saldo por forma a atenuar todo esse despautério e alimentar toda essa corte que vivia faustosamente à conta do clube.

Se houve alguém que traiu o clube, não foi nenhum dos sócios que, cansados dessa podridão, decidiu que o clube tinha de mudar de vida.

2. Numa outra página do livro, pode ler-se o relato de Pinto da Costa sobre a famigerada Assembleia Geral de 13 de Novembro.

Lamento dizer mas o que se mostra descrito no livro a esse respeito não tem qualquer adesão à verdade, juízo este que posso atestar dado que estava lá, ninguém me contou.

Custa até a aceitar que Pinto da Costa minta tão grosseiramente a este respeito, procurando, mais uma vez, criar uma realidade alternativa acerca dos imperdoáveis acontecimentos dessa segunda-feira (onde acorreram mais de 3 mil sócios).

Com efeito, e contrariamente ao que pretende fazer crer Pinto da Costa, o caos e os episódios de agressões começaram muito antes de falar o sócio Henrique Ramos,

conhecido por "Tagarela" (quem tinha a palavra no momento das primeiras agressões era o associado Miguel Bras da Cunha que até se viu forçado a interromper a sua intervenção) e levaram, inclusive, a que uma bancada cheia ficasse, de repente, despida de adeptos que, perante aquela selvajaria, fugiram, em pânico, para o interior do recinto onde estava toda a Direção do FC do Porto, enquanto outros presentes nessa bancada procuravam sair do pavilhão temendo pela sua segurança.

E tudo isto se passou enquanto toda a Direção assistia de cadeirinha e sem esboçar qualquer reacção mais parecendo que o importante era que a Assembleia prosseguisse naquele clima e as alterações fossem aprovadas.

Essa mancha, por mais que tentem, nunca conseguirão apagar.

3. Do que pude ler nas demais páginas tornadas públicas, fiquei com a convicção que Pinto da Costa visou com este livro justificar a (péssima) gestão levada a cabo com actos de terceiros, como que procurando lavar a má imagem com o estado em que deixou o clube ou, quiçá, no que poderá resultar da auditoria a decorrer.

Só assim se compreende que tenha procurado responsabilizar Sérgio Conceição por actos de gestão ruinosos da SAD do FC do Porto, mormente por duas más e dispendiosas contratações, que, nas suas palavras, estavam na origem das dívidas que colocavam em causa a participação do FC do Porto nas competições europeias.

Depois de assistirmos a juras de amor de um em relação ao outro, não deixa de causar surpresa as acusações de Pinto da Costa relativamente a Sérgio Conceição, a quem, em páginas anteriores, já havia acusado de deslealdade.

Quem diria que estas duas grandes figuras da história do FC do Porto, cujo destino estava umbilicalmente ligado, acabariam desavindas e a sair pela porta pequena.

4. Em 2011, um senhor chamado Nuno Lobo proferiu os seguintes insultos racistas a respeito do então jogador do FC do Porto, Hulk:

"Para mim foi o melhor em campo... Grande passe aquele para o segundo golo... o golo do macaco Hulk... HU HU HU HU" e "(…) não podíamos ter bananas no campo. Senão o incrível macaco comia-as"

Esse mesmo senhor apresentou esta semana a sua candidatura à Federação Portuguesa de Futebol.

Ora, como é que alguém com este comportamento ético, moral e cívico pode, sequer, achar que tem condições para ser candidato ao órgão máximo do futebol em Portugal e ter o apoio do FC do Porto e de outros clubes?

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