Será que sempre vivemos esta sensação de colapso da ordem global? Será que esta década se distingue das anteriores?
Abril de 2024: No momento em que escrevo, o mundo parece ter mergulhado numa espiral de destruição e descontrolo, com guerras e conflitos a dominarem a agenda global. Na vizinhança europeia, a agressão russa não dá sinais de trégua à Ucrânia, que luta cada vez com maior dificuldade pela sua sobrevivência e integridade territorial. Mais a oriente, o conflito entre Israel e Hamas persiste, sem um fim iminente à vista, e outras frentes de guerra na região, como entre o Irão e Israel, e os confrontos no Mar Vermelho, ameaçam uma conflagração regional e até global.
A sul, o risco de escalada de violência é iminente, com o ressurgimento dos conflitos no Sahel na sequência dos sucessivos golpes de estado e a crise humanitária no Sudão devastado pela guerra – mais abafados na imprensa ocidental pelas outras crises, mas não menos urgentes.
Infelizmente a lista não se esgota aqui. Um pouco por todo o lado multiplicam-se os conflitos letais desde o Myanmar ao Haiti, do crime organizado na América Latina ao Corno de Africa.
Tudo isto num contexto de crescentes tensões geopolíticas, desconfiança na ordem multilateral e a ameaça do retrocesso democrático que constatamos em alguns dos nossos países, com a ascensão ao poder de líderes populistas.
Muitas vezes, questiono-me se sempre assim foi ou se algo mudou nesta época em que vivemos. Será que sempre vivemos esta sensação de colapso da ordem global? Será que esta década se distingue das anteriores?
Segundo Comfort Ero, presidente do International Crisis Group, "após algum declínio nos anos 1990 e 2000, o fenómeno da guerra tem vindo a crescer desde 2012, com o despoletar da Primavera Árabe que provocou guerras na Síria, no Líbano e no Iémen." Segundo Ero, "há uma crise na construção da paz: mais conflitos terminam com a vitória armada de uma das partes do que por meio de negociações e acordos de paz. Mais líderes agem com impunidade na prossecução dos seus objetivos pela via militar."
A consequência: um número de mortes e refugiados sem precedentes na história recente – além da destruição calamitosa e do trauma coletivo que percorrerá gerações após aquelas que sofreram as consequências das guerras.
Numa altura em que as guerras e os conflitos dominam a agenda global e Europeia, quero com esta coluna trazer-vos um pouco da minha experiência – ainda recente – do trabalho que desenvolvo no International Crisis Group. Como é conhecido nos meandros da diplomacia internacional, o Crisis Group reúne um conjunto de pessoas que vêm das mais diversas áreas – diplomacia, jornalismo, organizações internacionais, think tanks e ONGs – todos mobilizados pelos 4 cantos do mundo para a mesma causa: trabalhar para a prevenção, resolução e mitigação de conflitos armados e letais. Atualmente, cobrimos cerca de 70 conflitos pelo Mundo distribuídos por 6 programas regionais. O que nos diferencia? A análise profunda e extremamente detalhada no terreno sobre as dinâmicas dos conflitos que acompanhamos, o diálogo permanente com todas as partes do conflito e, acima de tudo, o apelo à ação junto das grandes capitais de decisão - Nova Iorque, Londres, Washington DC, Bruxelas, Nairobi, Brasília e estados do Golfo.
Com esta coluna pretendo também ajudar a refletir sobre a resposta que a União Europeia, pode dar ao mundo que a rodeia – os debates, os dilemas, as prioridades, e por fim, o papel que Portugal pode desempenhar nessa reflexão coletiva a 27. Farei isso através do olhar de uma organização que acompanha a par e passo a realidade nos vários teatros de guerra – e que procura influenciar a diplomacia internacional – neste caso concreto da UE - para pôr fim à guerra.
Para dar apenas um breve exemplo: muita tinta tem corrido sobre o novo papel geopolítico da UE e como esta se vê compelida a mudar o paradigma de ação, assim como a mentalidade e os valores que tem orientado as instituições, os decisores, os diplomatas e os think tanks europeus nas últimas décadas: Uma União Europeia, cuja essência sempre radicou num projeto de paz, e que agora se vê obrigada a transformar-se num projeto de preparação para guerra, defesa e autossuficiência perante a agressão russa. Mas a preparação para a guerra não se deve limitar apenas ao investimento na indústria de defesa, apoio militar e humano a países sob ataque, nem pela corrida ao armamento. Deve igualmente passar por políticas de diplomacia preventiva, pela resolução de conflitos e pela mediação. Que espaço estamos a criar para essas políticas?
Este é apenas um dos dilemas que a UE enfrenta, mas há muitos outros: Deve a UE priorizar a segurança económica ou militar? Que instrumentos deve a UE utilizar para melhor gerir os conflitos na sua vizinhança e para promover a paz? O que implica tudo isto para uma União em vias de alargar ao espaço ex-soviético e para os Balcãs? O que significa a adesão de um país com a dimensão da Ucrânia em plena guerra para a UE? Como conciliar estas prioridades com o desígnio de promover a competitividade económica, a transição climática, o combate à inflação, ao desemprego e a melhoria das condições de vida? E quem suportará esse esforço? Por fim, mas não menos importante, como é que o aumento do populismo e da extrema-direita podem vir a definir a ação global da União Europeia.
Estes temas estão na ordem do dia aqui na "bolha" de Bruxela, sobretudo em ano de eleições. São também as questões com as quais eu e os meus colegas nos debatemos diariamente – e que quero trazer mais perto de vós, ao longo dos próximos meses. Até breve!
A diversidade étnica, demográfica e regional da Moldova reflete-se nos atos eleitorais, com populações mais russificadas, conservadoras e céticas em relação à UE de um lado, e outras mais urbanas e pró-ocidentais do outro.
Mas há algo de novo nesta promessa de alargamento a leste: pela primeira vez, a UE concedeu o estatuto de candidato a um país ativamente em guerra, a Ucrânia, e a outros dois envolvidos em conflitos congelados com interferência russa.
Que Europa teremos se Le Pen ganhar as eleições presidenciais em França em 2027? E se a Le Pen, Viktor Orbán e Giorgia Meloni se juntarem outros lideres com visões semelhantes sobre o futuro da UE?
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O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.
Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.