A mensagem que realmente quero transmitir é a seguinte: é fundamental que não faças as tuas escolhas eleitorais sob a influência dos resultados das sondagens.
Quem se lembra das sondagens das últimas eleições,que apresentavam uma tendência de subida de Rui Rio e do PSD ao longo do mês de Janeiroe acabaram por entregar a maioria absoluta a António Costa? Este fenómeno das sondagens se enganarem nos resultados finais das eleições vem da suagénese, mas na última década os erros têm-se acentuado: exemplos são a derrota de Remain no referendo do Brexit ou a eleição de Donald Trump, ambos em 2016.
Para efeitos de análise, utilizarei como referênciaa sondagem da Aximage publicada no dia 19 de fevereiro. Nos meios de comunicação, esta sondagem declarou vitória para o PS com 33,1% dos votos e o segundo lugar para a AD com 27,7%. (Antes de prosseguir, gostaria de salientar que não é minha intenção criticar esta empresa de sondagens em concreto; mas sim expôr como o problema reside na forma como se divulgam os resultados. Além disso, os problemas apresentados são transversais a todas as sondagens e uso esta por ser a mais recente à data da escrita do artigo.)
Na ficha técnica desta sondagem lê-se "O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,5%.". Aplicando os intervalos de confiança concluímos que a votação do PS, segundo a Aximage, será com 95% de certeza entre 36,6% e 29,6%, enquanto a votação da AD estará entre 31,2% e 24%. Isto quer dizer que a empresa de sondagens estimou que tem 95% de certeza que o resultado real dos partidos estará nesses intervalos. Ora, dado que os intervalos se sobrepõem, na realidade o resultado da sondagem é um empate técnico. Alguém viu algum jornal ou televisão a noticiar esta sondagem como empate técnico?
Logo depois, surge outro problema. As sondagens apresentam estes resultados finais após a distribuição de indecisos. Para ilustrar a dimensão dos indecisos, consideremosa sondagem da Intercampus, datada de 14 de fevereiro, que mostrava a AD com 24,3% em primeiro lugar e o PS com 22,4% em segundo lugar. Nesta sondagem, a soma total das intenções de voto nos partidos é de 83,8%, o que quer dizer que há uma percentagem de indecisos de pelo menos 16,2%.
Assumindo que esta percentagem de indecisos é comum em várias sondagens, conclui-se que há uma distribuição das intenções de votos desses indecisos pelas empresas de sondagens. Contudo, como é que se faz essa distribuição nessa sondagem específica? Não sabemos. E isso é um problema: para imaginarmos o enorme impacto da distribuição de indecisos, basta pensar em como mudaria o panorama eleitoral se um único partido obtivesse 16,2%. O voto dos indecisos afeta os resultados das sondagens - e consequentemente a forma como a sociedade olha para as mesmas.
Avançando para os resultados finais (e aqui é que tudo se torna um verdadeiro problema, pelas consequências nos eleitores antes da verdadeira eleição!), a forma como a comunicação social simplifica excessivamente (ou ignora) a complexidade e a incerteza das sondagens é um problema. Utilizar as sondagens como um instrumento para capturar a atenção dos leitores é tratar as eleições como uma corrida de cavalos. A ciência por trás das sondagens é deformada pela 'espetaculização' a que são submetidas, ignorando-se e deturpando-se todo o método científico envolvido. Fazem-se capas de jornal aclamando que o PS ou a AD está à frente, algo que, na maior parte das vezes, é impossível de determinar com certeza (como no exemplo acima referido).
Estas questões, a interpretação de intervalos de confiança, distribuição de indecisos ou 'espetacularização' das sondagens, são apenas uma parte. Contudo, esses não são os únicos desafios; há também questões quanto à amostragem, taxa de resposta, timings de realização, formulação das perguntas, entre muitos outros, analisados e muito bem peloLuís Paixão Martins no seu livro "Como mentem as Sondagens".
A mensagem que realmente quero transmitir é a seguinte: é fundamental que não faças as tuas escolhas eleitorais sob a influência dos resultados das sondagens. Embora as mesmas sejam um instrumento importante para aferir tendências de voto, actualmente são divulgadas de uma forma que distorce a ciência estatística que têm por trás. São retratadas como se fossem uma fotografia da realidade, afirmando que X partido tem X por cento de votos - quando na verdade esse valor é, em linguagem polígrafo, pimenta na língua pelas razões acima apresentadas.
Sendo assim, volto a questionar-te: Ainda achas que as sondagens deviam influenciar o teu voto?
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Ouve o mão visível desta semana, intitulado: Programas eleitorais - AD vs Chega vs Pan
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