Sábado – Pense por si

Francisco Paupério
Francisco Paupério Investigador
16 de dezembro de 2024 às 17:32

12 mil milhões de mulheres

Tic Tac. Enquanto não chegamos à meta, continuamos com mulheres a pensar no que fariam com mais 20% do salário, caso fosse equivalente ao colega de trabalho.

Tic Tac. Ao ritmo atual vamos precisar de mais 286 anos para as mulheres conseguirem ter os mesmos direitos e proteções que os homens. São 12 mil milhões de mulheres que separam a atualidade deste momento futuro. 12. Mil. Milhões. Desconfio ainda que se contabilizarmos o ritmo de 2024, este número irá crescer. Isto significa que o mundo não é um lugar justo. Nunca o foi, mas não quer dizer que não o possa ser. E neste campo faltam ainda 10 gerações para se tornar mais equitativo. Isto significa o mesmo tempo desde hoje até ao início do comércio escravo global se andarmos para o passado; até ao sismo de Lisboa; até Isaac Newton. É preciso sonhar com um salto para o ano 2300 para viver em plena igualdade. Se o tempo se move de maneira diferente consoante o potencial gravitacional do corpo, parece que o das mulheres está bem longe dos núcleos de poder da nossa sociedade, com as horas a passarem bem mais lentas para elas do que para o resto das pessoas.

Tic Tac. Devemos aceitar esta distância temporal? Devemos aceitar que só o futuro nos trará tudo aquilo que sonhamos e desejamos? E para concretizar este futuro, estarão mesmo contabilizadas as lutas de todos nós? Temos um papel ativo ou secundário? Somos nós os responsáveis por perpetuar estas desigualdades… e somos nós parte da solução ou do problema? Conseguimos perceber que o ritmo não é satisfatório para grande parte das pessoas, que não estamos satisfeitos só porque "é melhor do que ontem". O progresso lento não é inevitável, não é de todo o que tem de ser. Mas a verdade é que as décadas mais recentes nos mostram este tipo de dinâmicas. Pior: mostra como o pensamento disseminado pela esfera do poder assenta na manutenção do status quo com pequenas mudanças progressivas. Se questões mais básicas, como direitos humanos, igualdade de género e liberdade não gera revolta, não gera empatia, não gera acção e voto, a nossa sociedade está a falhar com todos. E se as razões que nos dão para não avançar são as mesmas de sempre: vai contra a economia, vai contra o mercado, vai contra a nossa cultura, não estamos preparados, não é bem assim… então é tempo de enfrentar esta epidemia. A epidemia da dormência, da apatia e da inevitabilidade. E a vacina para esta é mesmo levantar a nossa voz e ser parte da solução. Questionem o sistema no trabalho, em casa, nos transportes. Desconstruir preconceitos de que se as mulheres conseguirem ter mais direitos, os homens ficam para trás. Os direitos não são finitos e escassos. Não temos que escolher entre direitos ou para quem é que eles podem ser dados.

Tic Tac. Enquanto não chegamos à meta, continuamos com mulheres a pensar no que fariam com mais 20% do salário, caso fosse equivalente ao colega de trabalho. A pensar se falam numa entrevista de emprego sobre a possibilidade de engravidar. A não ir à escola. A sofrerem de assédio, abuso e violência. Chegamos à Lua, criamos inteligências artificiais, redes de comunicação instantânea, e falhámos no básico: seres humanos, independente do género, lugar onde nasceram, devem ter os mesmos direitos. Tic Tac. E enquanto discutimos de quem é a culpa e como damos a volta a tudo isto, os ponteiros do relógio continuam a girar, muito lentamente.

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