Caminhamos a passos lentos para a perda de direitos fundamentais, não só políticos como humanos. Não estamos a saber lidar com o uso da tecnologia nem com o descontentamento das pessoas.
Estamos mesmo a chegar ao fim do princípio de transformar as democracias em autocracias. Estes processos são graduais, envolvendo uma série de etapas com o objectivo de corroer e desvalorizar as instituições democráticas, restringir e atacar as liberdades individuais e colectivas, concentrando o poder numa figura ou grupo. A verdade é que ao longo da História esta transição já ocorreu várias vezes por todo o mundo, e assistimos em 2024 a União Europeia caminhar pelos mesmos passos e erros.
Olhando para o caso português tornam-se óbvios os sucessivos ataques às instituições democráticas pela extrema-direita, insistindo na condenação deste sistema político, judiciário e até da comunicação social plural. Tudo isto incomoda quem quer tomar de assalto o poder a todo custo: social, económico e moral. Para isso, faz-se uso da desinformação através de notícias falsas, promovendo a polarização e divisão social. O objectivo, como escrevi anteriormente, é sempre dividir a sociedade, enfraquecendo a resistência colectiva, apontando sempre grupos específicos de perseguição ganhando algum apoio popular. Infelizmente, como é possível observar pelas últimas semanas da ação do nosso governo, parece que estamos cada vez mais perto de ser governados pela percepção do que pela realidade. Onde com o objectivo de aumentar a aprovação do governo, vemos já uma adopção do discurso sobre a insegurança que podia ter sido adoptada por qualquer partido de extrema-direita na Europa. Um discurso que choca com a realidade, e que aumenta em si mesmo uma escalada do uso da violência como solução. Um caminho muito sinuoso quando estas percepções são ditadas por algoritmos em que desconhecemos a maioria da sua ação. Governar através de sensações colhidas num scroll ou de 120 caracteres foi a moda de 2024 que não queremos que avance para o próximo ano.
Caminhamos a passos lentos para a perda de direitos fundamentais, não só políticos como humanos. Não estamos a saber lidar com o uso da tecnologia nem com o descontentamento das pessoas. A transição para democracias mais frágeis raramente acontecem do dia para a noite, mas acontecem de um ano para o outro, e neste ano de 2024 demos mais um passo em toda a Europa com mais pessoas de extrema-direita nos nossos parlamentos e governos, com cada vez mais força e poder para actuar. A chave para evitar este desfecho fatídico será sempre uma vigilância cívica activa, a preservação da integridade das instituições democráticas e, acima de tudo, o compromisso coletivo feito pelos verdadeiros democratas. Nesta luta, há mais do que um lado, mas sabemos bem qual não queremos que ganhe. E isso devia ser uma prioridade.
Uma democracia sem comunidade e participação é uma democracia mais fraca. E sabemos bem que 2024 nos afastou mais das democracias liberais fortes que tanto desejamos. O meu desejo para 2025 é que consigamos devolver a esperança a todos os europeus de que as respostas simples e desajustadas da realidade, baseadas em percepções construídas digitalmente, não vão contribuir para o estilo de vida que desejam: progressista, próspero e pacifico.
A questão passa sempre por garantir que as regras e leis estão a ser também transpostas para o mundo digital. Sabemos bem que a maioria destes comentários feitos
fora destas redes sociais trariam consequências legais para estes indivíduos. No entanto, nem sabemos sequer quem os escreve.
São estes os nomes das pessoas que ativamente procuram lucrar com o ódio, a polarização e que atiram areia para cara dos portugueses com falsos problemas. Mas não são só estes nomes que são responsáveis pela deriva antidemocrática, racista e xenófoba que acontece no nosso país.
Uma pessoa que vem da população para a política e que passou por todos os problemas que hoje tenta resolver. Um muçulmano apoiado por judeus. Tudo na sua história parece indicar pouca probabilidade de atingir o sucesso, especialmente no contexto financeiro americano, mas cá está ele.
Se o tema associado à sustentabilidade das próximas gerações sempre teve como prioridade o aspecto ambiental do planeta, cada vez mais parece ser apenas a ponta do iceberg.
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A escola é um espaço seguro, natural e cientificamente fundamentado para um diálogo sobre a sexualidade, a par de outros temas. E isto é especialmente essencial para milhares de jovens, para quem a escola é o sítio onde encontram a única oportunidade para abordarem múltiplos temas de forma construtiva.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.