O sistema económico em que vivemos foi capaz de deturpar completamente o espírito natalício nas últimas décadas, empurrando as sociedades ocidentais para o consumo excessivo e irrefletido, quase como uma imposição social.
Chegou a época do ano em que se respira um ar diferente. Quer seja pelo espírito de partilha e solidariedade que asola as escolas, empresas e sociedade em geral, quer seja pela azáfama que se sente nas ruas das cidades e centros comerciais para garantir que compramos tudo o que precisamos para a noite de Natal.
Comprar. Foi precisamente sobre isso que esta época passou a ser. Comprar presentes para quem gostamos e até para quem não gostamos. Comprar comida para ter uma mesa de Natal farta, mesmo que a comida acabe por estragar-se nos dias seguintes. Comprar para que, na ressaca das festas, possamos aproveitar os saldos e trocar aquilo que recebemos, continuando a comprar.
O sistema económico em que vivemos foi capaz de deturpar completamente o espírito natalício nas últimas décadas, empurrando as sociedades ocidentais para o consumo excessivo e irrefletido, quase como uma imposição social. E o resultado é um impacto ambiental devastador: quilos de desperdício alimentar, toneladas de papel de embrulho usado apenas uma vez, milhares de quilowatts gastos em iluminações decorativas e milhares de euros em prendas que muitas vezes ficam guardadas na gaveta, sem qualquer utilidade, tudo em nome de um consumo desmedido. A Associação Quercus analisou os dados de consumo relativos a esta época do ano e estimou que, em 2021, em Portugal, foram para o lixo após o Natal 1200 toneladas de pinheiros de Natal, 54 toneladas de luzes, 6 milhões de pratos cheios de comida desperdiçada e 12 milhões de rolos de papel de embrulho. Uma época que poderia ser usada para refletir sobre como podemos enfrentar a emergência climática em que vivemos, acaba, na realidade, por ser combustível para perpetuar esse mesmo caos.
Ao mesmo tempo, as marcas aproveitam esta época particularmente sensível para demonstrar preocupação com a sociedade, mesmo que tal não seja uma prática reiterada durante o resto do ano. É nesta altura que chegam campanhas que revertem donativos para organizações sociais, publicidades que nos deixam com a lágrima no canto do olho e tantas outras estratégias de marketing que se aproveitam da sensibilidade das pessoas para garantir que estas continuam a consumir o que precisam e o que não precisam.
É o verdadeiro social washing, uma técnica que visa capitalizar a responsabilidade social das empresas, usando-a como estratégia de marketing em que se demonstra o espírito de solidariedade e generosidade caraterístico desta época, mesmo que não haja um verdadeiro alinhamento com as práticas habituais das empresas.
Isto porque o Natal passou a ser uma época de ter, e não de ser e estar. Passou a ser mais um pretexto para o consumo desenfreado, sem que o consumidor se aperceba disso. E esse excesso de consumo, tão enraizado nesta época, empurra-nos para um ponto sem retorno. Ao amor, solidariedade e partilha junta-se a compra, e esses passaram a ser valores natalícios dos nossos dias.
Depois do verão mais quente de sempre e dos mais recentes tsunamis geopolíticos, que têm comprometido a estabilidade global e os compromissos internacionais para o combate às alterações climáticas, esta organização traz consigo uma vontade redobrada de fazer cumprir os compromissos portugueses quer ao nível nacional e internacional.
Este descuido permitiu que os oligarcas da era digital minassem os sistemas económico e político, enquanto que a União Europeia tenta agora recuperar a autoridade que lhe escapou por entre os dedos.
As imagens apocalípticas dos incêndios parecem, assim, uma premonição do caos que se avizinha, especialmente tendo em conta que acontecem mesmo antes da tomada de posse de Donald Trump, um dos mais notórios promotores do negacionismo climático a nível internacional.
As odes de revertermos a situação climática para onde caminhamos parecem cada vez mais escassas e o aproximar do final da década deixa-nos cada vez com menos tempo.
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