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Francisca Costa
Francisca Costa Gestora de projetos
14 de junho de 2024 às 11:48

Um mal menor

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Edição de 5 a 11 de agosto

Nesta legislatura que se avizinha, as respostas dos moderados podem ser insuficientes para responder à subida da temperatura média global, soberania alimentar europeia e o escalar da guerra na Ucrânia.

No passado domingo, a Europa assistiu atentamente ao resultado das eleições para perceber o que iria ser o futuro do continente que tenta construir a paz e a solidariedade entre povos há mais de 70 anos. A democracia europeia esteve verdadeiramente ameaçada não só pela contínua ascensão da extrema-direita como pela sua proximidade com os partidos do centro.

Os resultados eleitorais, ainda que provisórios, foram um suspirar de alívio para muitos. Apesar da extrema-direita ter obtido resultados históricos e ter conseguido consolidar-se em alguns dos principais países que compõem o Parlamento Europeu como é o caso da França, Alemanha e Itália, não foi suficiente para conseguir ultrapassar os resultados obtidos pelos partidos moderados do centro.

O sobressalto não se prendia apenas com a possibilidade da extrema-direita se reforçar no Parlamento, mas também com a possibilidade de conseguir influenciar os votos para a presidência da Comissão Europeia, tendo ficado com a porta entreaberta caso fosse necessário. No entanto, as famílias políticas do Partido Popular Europeu, de centro-direita, dos Socialistas e Democratas, de centro-esquerda e do RENEW, liberais, obtiveram votos suficientes para conseguirem assegurar a possível reeleição de Ursula von der Leyen para a presidência da Comissão Europeia, órgão executivo da união.

Enquanto isso, a esquerda, The Left, e os verdes europeus, Greens/EFA, perderam o comboio e não foram capazes de mostrar uma alternativa à ameaça dos nacionalismos e à parca manutenção do sistema levado a cabo pelos centristas. Estes últimos não têm conseguido dar respostas para melhorar a qualidade de vida dos europeus e de quem cá chega, ao mesmo tempo que respondem à crise climática, mas mesmo assim fazem o suficiente para que o eleitorado europeu confie neles face à ameaça da extrema-direita.

Manter ostatus quoparece o cenário mais seguro perante o crescimento dos extremismos de direita ou da imaginação radical da esquerda. E como o ser humano é naturalmente averso à mudança e ao desconhecido, prefere jogar seguro e manter-se numa posição que já conhece, mesmo que nem sempre lhe seja o mais favorável.

Ostatus quotem sido aquele que dá passos tímidos nas políticas ambientais, responde ambiguamente às guerras internacionais e dá poucas respostas para atenuar as desigualdades sociais. Posicionam-se pouco a nível ideológico em questões fraturantes para conseguirem captar a atenção de qualquer democrata.

Nesta legislatura que se avizinha, as respostas dos moderados podem ser insuficientes para responder à subida da temperatura média global, soberania alimentar europeia e o escalar da guerra na Ucrânia. Tudo isto ao mesmo tempo que se combate o populismo da extrema-direita, que já está bem instalada no Parlamento Europeu, nos parlamentos nacionais e é inflamada pelos algoritmos digitais. Mas é a resposta que o povo europeu escolheu.

O centrismo é um mal menor perante o crescimento da extrema-direita. Satisfaz pouco e traz a sensação (ainda que aparente) de estabilidade e segurança que as pessoas procuram, mas não deixa de ser uma fraca resposta para as crises que o velho continente terá que enfrentar até ao final da década.

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