Sábado – Pense por si

Ana Gabriela Cabilhas
Ana Gabriela Cabilhas Nutricionista e deputada do PSD
17 de novembro de 2024 às 17:38

Soberania da língua portuguesa

As expectativas em relação ao LLM português são grandes dada a necessidade de fornecer soluções de inteligência artificial aos cidadãos e às empresas que sejam acessíveis, simples e de fácil utilização.

As palavras têm o poder de construir pontes. Num mundo cada vez mais polarizado, a língua é uma ferramenta poderosa de expressão e de diálogo. A língua portuguesa tem a especificidade e a familiaridade de ser partilhada por um mar de povos, de gentes e de países, espalhados pelos vários continentes. É um elo histórico e cultural, que preserva as vivências com os territórios que connosco abraçam este património comum, e que nos continua a ligar uns aos outros em novos descobrimentos.

Quanto mais pujança dermos à nossa língua, mais pujança a nossa língua nos devolve, seja na vertente política ou diplomática, na cultura ou na economia, na união e no fortalecimento da lusofonia, ou na nossa capacidade de navegação pelo mundo.

O reconhecimento do português como língua oficial da Organização das Nações Unidas seria justo, não só pelo número atual de falantes como também pelas projeções de 380 milhões de falantes em 2050 e de quase 500 milhões no final do século. Este desígnio a ser concretizado até 2030 foi apresentado pelo Primeiro-Ministro, no Dia Mundial da Língua Portuguesa, alinhando, para tal, posições com os parceiros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Mas, a defesa da língua não fica por aqui. Urge que a nossa língua possa ser preparada para prosperar na era da inteligência artificial, enquanto ativo tecnológico para preservar a soberania da língua e a identidade portuguesas. Se a língua portuguesa é história, também queremos que seja futuro, progresso e modernidade. 

Chegou o momento. Esta semana foi dado um passo crítico na Web Summit, onde o Primeiro-Ministro anunciou o lançamento de um modelo de linguagem de grande escala (LLM) português, reduzindo-se os riscos sérios que a comunidade científica já havia alertado sobre a dependência de LLM estrangeiros, ao assegurar a representação da nossa língua, o respeito pelas nuances da nossa história, e a factualidade e a fiabilidade dos conteúdos sobre Portugal. 

Já conhecemos ferramentas em que a inteligência artificial generativa nos auxilia e muitas mais podemos idealizar quando abrimos o ChatGPT. Os algoritmos ajudam a processar e a gerar informação, mas precisam de ser treinados com dados – muitos dados – que dão a conhecer padrões, tendências, costumes ou regras.

Imaginemos um tutor educativo de inteligência artificial ajustado aos currículos da nossa escola pública para cada aluno ou um serviço da administração pública personalizado para responder às suas necessidades e interesses específicos. As expectativas em relação ao LLM português são grandes dada a necessidade de fornecer soluções de inteligência artificial aos cidadãos e às empresas que sejam acessíveis, simples e de fácil utilização. Ao mesmo tempo, estamos a construir uma ponte tecnológica com a humanidade que nos une e com a diversidade que nos enriquece. Tudo isto à portuguesa, com coragem e audácia, descobrindo um novo mar de possibilidades com o sistema científico e tecnológico e com o ecossistema empreendedor. 

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