Sábado – Pense por si

Ana Gabriela Cabilhas
Ana Gabriela Cabilhas Nutricionista e deputada do PSD
06 de outubro de 2024 às 14:22

Pedalar mais todos os dias

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Edição de 5 a 11 de agosto

Contrariando o desejável para o ambiente e para a saúde, o carro é o meio de transporte utilizado por 66% dos portugueses nos movimentos pendulares. Há menos portugueses a irem para o trabalho a pé em relação a 2011 e só 0,6% da população disse que se deslocava para o trabalho de bicicleta.

Portugal deu pouco ao pedal: em 2023, era o País europeu que menos investia na promoção da bicicleta. As pessoas abandonam a ideia de pedalar pela sensação de falta de segurança e porque o desenho das cidades ainda não favorece o uso deste transporte. De acordo com os Censos 2021, a hegemonia do carro atingiu um novo recorde, tendo triplicado face a 1991, pelo que as cidades, todos os dias, enfrentam o congestionamento e a poluição atmosférica e sonora. Contrariando o desejável para o ambiente e para a saúde, o carro é o meio de transporte utilizado por 66% dos portugueses nos movimentos pendulares. Há menos portugueses a irem para o trabalho a pé em relação a 2011 e só 0,6% da população disse que se deslocava para o trabalho de bicicleta.

Um estudo recente que acompanhou 82.297 pessoas na Escócia, durante 18 anos, acelera o ritmo da discussão em torno deste tema. As conclusões mostram que caminhar ou andar de bicicleta reduz o risco de morbilidade e mortalidade comparativamente com os trabalhadores que se deslocam sem atividade física. Para quem usa bicicleta, o risco de morte diminui em 47%, o de internamento por doença cardiovascular e cancro em 24% e o de prescrição de antidepressivos em 20%. Porém, correm o dobro do risco de internamento devido a acidentes de trânsito.

As diferenças apresentadas assentam nos benefícios comprovados da prática regular de atividade física na saúde mental, bem-estar e qualidade de vida, e na prevenção e no tratamento de doenças crónicas não transmissíveis. Quando a prática de atividade física se assume como parte da rotina para ir para o trabalho, assenta numa base diária e constante, o que é diferente da ida ao ginásio, que pode ser esporádica em função da motivação. Este detalhe é relevante porque os dados do INE alertam para os fracos níveis de atividade física dos portugueses, onde a prática regular é de apenas 36%.

Andar a pé é o ato mais democrático de mobilidade e de prática de atividade física. De tão óbvia e simples que é a ideia, o facto de nem sempre ser uma opção atrativa por força de barreiras urbanísticas ou outros obstáculos, merece a devida atenção, quer no fomento da mobilidade pedonal, como na sua articulação com os transportes públicos sustentáveis e em modos ativos de transporte, numa estratégia holística e integrada que junte a mobilidade, o ordenamento do território e a coesão social.

Felizmente, este novo Governo está a pedalar mais todos os dias, em várias frentes, e a trabalhar a alta velocidade. Aprovou o Pacote Mobilidade Verde que além da medida emblemática do Passe Ferroviário Verde - combatendo o abandono a que o transporte ferroviário foi deixado nas últimas décadas, e do alargamento do passe jovem gratuito, cria uma linha de apoio de 3 milhões de euros para acelerar a construção de ciclovias, reforça o apoio à aquisição de bicicletas e sistemas de estacionamento de bicicletas pela administração pública e inclui as bicicletas elétricas e convencionais no apoio à aquisição de veículos de zero emissões. 

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