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Morte do irmão de candidata ensombra as Europeias em Espanha

Daniel Lemos com Leonor Riso 08 de junho de 2024 às 13:19
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Borja Villacís, irmão de Begoña Villacís, candidata ao Parlamento Europeu, era arguido num processo de tráfico de droga. Autoridades espanholas suspeitam tratar-se de um ajuste de contas.

Borja Villacís, irmão mais novo de Begoña Villacís, antiga vice-presidente da Câmara de Madrid e candidata ao Parlamento Europeu pelo partido Ciudadanos, foi morto a tiro em Madrid na passada terça-feira. A candidata reagiu ao crime nas redes sociais. "Adeus meu filho, meu irmãozinho. Amo-te, cuida de nós", lê-se numa publicação no Instagram. Autoridades espanholas, que chamam à investigação de Operação Gaiola, suspeitam tratar-se de um ajuste de contas. Mas o que poderá ter levado ao assassinato?

O crime

Na terça-feira passada, Borja e Luís, um amigo, tinham encontro marcado com Kevin Pastor, com quem o amigo tinha uma disputa. Borja e outro amigo teriam ido para mediar a contenda e evitar o uso de violência. Porém, os elementos rivais que viajavam num BMW X2 cinzento - Maria José, de 52 anos, acompanhada pelo filho Kevin Pastor, de 24, e um amigo - compareceram ao encontro fortemente armados. Ao que aponta o jornal ABC, o encontro deu-se numa zona descampada do quilómetro 6 da estrada M612. Atrás vinha outra viatura, de amigo de Borja, que seguia ambos os carros discretamente.

A certa altura nesse troço de estrada, o BMW X2 bloqueia a estrada. Nisto Luís, o amigo que estava ao volante, acelera deliberadamente e bate no BMW. Enquanto Maria José estava ao volante, saem do carro o filho e o amigo, armados com uma espingarda e uma caçadeira. Já junto ao Citroën, Kevin e o outro agressor partem a janela atrás do condutor, onde ia Borja, e o jovem de 24 anos dispara-lhe no peito e cabeça. Também dispararam a caçadeira, acertando fragmentos de bala na cabeça de Luís que foi transportado para o hospital Fundação Jiménez Díaz em Madrid, pelos amigos que seguiam no carro atrás e que se tinha escondido debaixo do carro quando os disparos começaram. A equipa médica declarou a  morte de Borja no local, enquanto o amigo não corre risco de vida.

REUTERS/Susana Vera

A escapatória e detenção

Os agressores retomam o caminho no BMW e pararam quilómetros depois do troço de estrada onde fizeram os disparos. O estado do carro, que tinha a parte esquerda da frente amolgada, em conjunto com a condução estranha de Maria acabaram por alertar algumas pessoas que ligaram para a polícia. Já os suspeitos terão aproveitado esta paragem para trocar a matrícula do carro, se desfazerem de um saco que tinha as armas do crime e para se separarem, fugindo os dois homens pelo mato e a mulher pela estrada no carro. A polícia encontrou depois aqui as matrículas e as armas. "É evidente que iam matá-los, aproveitando o encontro marcado", afirmam fontes do processo ao jornal ABC.

Não ficaram em liberdade por muito tempo. Maria José, que tem um longo registo criminal, acabou por ser detida numa estação de serviço junto à Plaza Elíptica, em Madrid, enquanto tentava fugir em direção à estrada A-42. Tenta, aliás, enganar as autoridades dizendo, nas declarações iniciais: "Não fiz nada. Na verdade, fui vítima de um rapto". Também o filho, Kevin, e autor dos disparos, foi detido durante a manhã do dia seguinte, quarta-feira. Já era um conhecido traficante de droga na zona de Pan Bendito em Madrid e que já foi condenado por ligações neonazis. A Polícia Nacional espanhola perseguiu-o, ao longo de uma estrada em Yuncos, sítio onde se refugiou após o crime. Vivia com um suspeito marroquino, também este detido.

O passado de Borja

Também Borja tinha ligações ao mundo do crime, em grupos de extrema-direita especificamente. Na adolescência envolveu-se com o grupo neonazi Skin Cubos, que tinha ligações aos Ultras Sur, grupo de hooligans do Real Madrid e cujos membros estiveram envolvidos na morte de Lucrecia Pérez em 1992, considerado primeiro assassinato racista no país. É com estes grupos que Borja começa a envolver-se em episódios de violência. Numa noite em setembro de 2004, insultou e ameaçou uma mulher negra à porta de um bar, levando dois desconhecidos a defendê-la. Interpretando aquilo como uma provocação, Borja e o grupo espancam ambos. Foi então detido por agressão e, mais tarde, condenado a seis meses de prisão por dois crimes de injúria. Era ainda arguido num processo de tráfico de droga, mas, segundo o jornal El Confidencial, tinha intenções de sair do mundo do crime e tornar-se condutor de Metro em Madrid.

Editorial

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Esta ignorância velha e arrastada é o estado a que chegámos, mas agora encontrou um escape. É preciso que a concorrência comece a saber mais qualquer coisa, ou acabamos todos cidadãos perdidos num qualquer festival de hambúrgueres