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Íñigo Errejón: de estrela política em Espanha às acusações de violência sexual

O líder parlamentar do Sumar, que apoia o governo de Pedro Sanchéz, abandonou a política depois de terem surgido várias denúncias de assédio e violência sexual. "Cheguei ao limite da contradição entre a personagem e a pessoa", disse na carta de demissão.

O governo espanhol enfrenta mais um abalo. O líder parlamentar da plataforma de coligação, Sumar, que apoia o governo do PSOE de Sanchéz, abandonou a política debaixo de fortes suspeitas de comportamentos sexuais abusivos. Um dia depois da sua demissão, passou a estar sob investigação por suspeitas de abuso sexual.

Jesús Hellín/Europa Press via AP

Íñigo Errejón passou de estrela política da esquerda a um tóxico político. Era o porta-voz no parlamento da plataforma Sumar, mas ontem publicou uma extensa carta no X a demitir-se. Na publicação admitia: "Cheguei ao limite da contradição entre a personagem e a pessoa".

O cerco começou a apertar quando na terça-feira, uma conta anónima nas redes sociais acusou um "reconhecido político de Madrid" de "abuso psicológico", "manipulação" e "práticas sexuais humilhantes". O nome de Íñigo não era referido, mas ele acabou por se demitir, na quinta-feira. Horas depois, a atriz e apresentadora de televisão Elisa Mouliaá escrevia, também no X: "Sou vítima de assédio sexual por parte de Íñigo Errejón e quero denunciá-lo".

O ministro do Interior confirmou, esta sexta-feira, que uma queixa contra o antigo fundador do Podemos e porta-voz do Sumar tinha dado entrada na polícia. 

Na sua carta de demissão, o ex-político não refere as acusações contra ele. Começa por dizer que "nos últimos meses, e de forma mais recorrente nas últimas semanas, vinha a pensar que tinha de tomar algumas decisões importantes". Anunciando que tinha "chegado o dia".

Na missiva explica que a decisão de se demitir foi motivada, em parte, pelo facto de a vida pública ter conduzido a uma "subjetividade tóxica que o patriarcado multiplica no caso dos homens". Fala ainda da pressão mediática e da necessidade de ser a mesma pessoa na vida pessoal daquela que defende na vida política, conclui: "Há muito que trabalho num processo pessoal e de acompanhamento psicológico, mas para avançar e cuidar-me, preciso de abandonar a política institucional, as suas exigências e os seus ritmos".

A coligação Sumar, defensora do feminismo, teve já uma quebra nas eleições tanto regionais como europeias, o que levou à demissão da sua líder, a vice-primeira-ministra Yolanda Díaz, em junho. Este escândalo surge ainda no meio de negociações difíceis do governo no parlamento para a aprovação do Orçamento do Estado.

Íñigo Errejón, de 40 anos, tem sido uma figura política de destaque nos últimos 10 anos, começou por se destacar como cofundador do partido de esquerda radical Podemos, de onde saiu para criar o Más País, que agora integra a aliança Sumar.

Entretanto a plataforma de esquerda anunciou que vai abrir uma investigação, depois de várias queixas no X o terem nomeado como o autor das alegações.

O primeiro-ministro, Pedro Sanchéz, expressou logo, na quinta-feira, apoio a todas as mulheres que sofrem abusos, mas sublinhou que ainda confia em Yolanda Díaz e no Sumar, "que já fez e está a fazer muito pelo progresso das mulheres". Do lado da oposição, o PP já chamou Díaz para esclarecer quando soube das alegações contra Errejón, que estava entre os seus possíveis sucessores à frente do Sumar.