Os convidados para a tomada de posse ouviram o novo líder dizer que uma nova era se iria abrir, com a palavra inclusão a ser repetida diversas vezes. Numa Maputo quase deserta, apenas alguns ajuntamentos por Mondlane se fizeram notar.
Foi sob fortes medidas de segurança que Daniel Francisco Chapo tomou posse na manhã desta quarta-feira, dia 15, em Maputo, como quinto presidente de Moçambique.
A cerimónia teve lugar na Praça da Independência, diante do majestoso edifício do Conselho Municipal de Maputo (o equivalente à Câmara Municipal em Portugal) e contou com a presença somente de dois chefes de Estados: Cyril Ramaphosa, da África do Sul; e Umaro Sissoco Embaló, da Guiné-Bissau, aliás o único da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que se fez representar ao mais alto nível. Portugal esteve representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
Perante uma cidade capital completamente despida de movimento, com o comércio integralmente fechado, foi debaixo de um sol escaldante que chegou aos 35 graus, que os convidados, em número de 2.500, ouviram o novo líder dizer que uma nova era se iria abrir, com a palavra inclusão a ser repetida diversas vezes. "Este não é apenas o início de um mandato, mas de uma jornada que nos desafia a construir o futuro que sonhámos", afirmou.
Antes disso, Chapo havia pedido um minuto de silêncio pelas vítimas das recentes manifestações e dos ciclones. Depois, numa atitude reconciliatória, disse: "Ouvimos as vossas vozes, antes e durante as manifestações. E continuaremos a ouvir, mesmo em momentos de estabilidade."
O combate à corrupção foi outro dos acentos tónicos do novo líder. "Moçambique não pode continuar a ser refém de todos os vícios e desvios da boa conduta dos servidores públicos. […] Juntos vamos resgatar o patriotismo e o orgulho de ser moçambicanos. Por isso dissemos vamos trabalhar."
Em certos momentos o discurso chegou mesmo a ser arrebatador mas faltou o povo, que desde muito cedo foi impedido de assistir à investidura.
Dois quarteirões abaixo, na esquina das avenidas Samora Machel e 25 de Setembro, registaram-se alguns ajuntamentos de pessoas que gritavam por Venâncio Mondlane, o candidato derrotado que tem mobilizado a maioria dos moçambicanos. A Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da polícia acabou por dispersá-las, tendo-se ouvido alguns disparos de balas reais.
Paulo Alberto Amusse, de 42 anos, saiu de Bolole, 60 quilómetros a norte de Maputo, muito cedo para… "nada", segundo ele. "Sou obrigado a voltar e agora o que vou dizer lá à minha família? É a mesma coisa que ir pescar ao rio e voltar sem peixe!"
Quando tentou aproximar-se do local da investidura foi imediatamente barrado. "Disseram-me que tinha de ter um convite, só assim poderia entrar. A minha pergunta é: Ele depois de tomar posse vai querer visitar as províncias, os distritos, as localidades. Como é que vai querer conversar com o povo?"
Francisco Daniel - que se considera xará de Daniel Francisco Chapo - também veio para assistir à cerimónia na Praça da Independência mas parece que "não querem ninguém. Mas como é que ele vai governar? Ainda tenho esperança que as coisas mudem neste país mas só com cartaz, sem arma, fica muito difícil."
Os convidados à cerimónia vão descendo a Avenida Samora Machel, em busca dos autocarros fretados para a ocasião que os conduzem de regresso a casa. A maioria é gente de alguma idade que pertence às estruturas dos bairros do partido Frelimo e à Organização da Mulher Moçambicana (OMM).
Ana Maria Paula veio do Chamanculo, bairro dos arredores de Maputo, e mostra-se muito confiante no desempenho do Daniel Chapo para os próximos cinco anos. "Ele vai trazer a paz ao país. É um jovem muito competente", refere, já a subir para o machimbombo (autocarro).
Giberta Macaringue, já está reformada e veio do bairro de Maxaquene. Votou sempre na Frelimo. "Gostei muito do discurso do presidente. Acho que ele acertou em tudo o que disse. Acredito que ele vai acalmar esses jovens que andam aí nas ruas."
Alguns apoiantes de Venâncio Mondlane vão insultando os convidados, fazendo-os ver que "comeram com quem matou os nossos/vossos irmãos". Mas estes viram-lhes as costas e não respondem às provocações. No meio, encontra-se a polícia canina que acaba por dissuadir possíveis desacatos.
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