Sábado – Pense por si

Anulada condenação da mãe que passou 20 anos na prisão pela morte dos quatro filhos

Andreia Antunes com Leonor Riso
Andreia Antunes com Leonor Riso 15 de dezembro de 2023 às 10:20
As mais lidas

Kathleen já tinha sido libertada em junho quando foi perdoada pelo estado da Nova Gales do Sul. Esta quinta-feira, o Supremo anulou a sua condenação.

Kathleen Folbigg passou 20 anos na prisão pela morte dos seus quatro filhos, esta quinta-feira viu a sua condenação a ser anulada, após o Supremo Tribunal de Nova Gales do Sul decidir que as provas inicialmente utilizadas para a condenar não era fiáveis.

AAP Image/Dean Lewins via REUTERS

"O sistema preferiu culpar-me em vez de aceitar que, por vezes, as crianças podem morrer de repente, inesperadamente e de partir o coração", disse a mulher de 56 anos à porta do tribunal, mencionando que as provas da sua inocência foram "ignoradas e rejeitadas" durante várias décadas.

Folbigg foi condenada em 2003 a 40 anos de prisão pela morte dos seus quatro filhos, Caleb, Patrick, Sarah e Laura, que morreram subitamente com idades entre os 19 dias e os 18 meses, tendo sido alegado que os teria sufocado. O processo teve como provas principais os diários de Kathleen, que nunca chegaram a ser examinados por um psiquiatra, mas onde passava a imagem de ser uma mãe instável e propensa à raiva. O caso foi descrito como um dos maiores erros judiciais da Austrália.

Kathleen, que foi libertada pelo governo do estado em junho deste ano, chegou a ser referida como "a pior mãe da Austrália", tendo sido condenada pelos assassinatos de Sarah, Patrick e Laura e pelo homicídio involuntário de Caleb.

No entanto, no início deste ano, um inquérito sobre o seu caso concluiu que havia dúvidas sobre a culpa de Kathleen, após descobertas científicas de que os bebés poderiam ter morrido de mutações genéticas raras. Estas novas provas levaram a que fosse ilibada de todas as acusações.

"Estou grata pelo facto de a ciência e a genética atualizadas me terem dado respostas sobre a morte dos meus filhos", disse, acrescentando que "mesmo em 1999, já tínhamos respostas legais para provar a minha inocência, os procuradores tiraram as minhas palavras do contexto e viraram-nas contra mim, espero que mais ninguém tenha de sofrer o que eu sofri".

O maior erro judicial da Austrália

Caleb, o primeiro filho de Kathleen, morreu com apenas 19 dias de idade em 1989, o seu segundo filho, Patrick morreu com 8 meses em 1991. Já a terceira filha, Sarah morreu com 10 meses em 1993 e a sua quarta filha, Laura, tinha 19 meses quando morreu em 1999.

Inicialmente, as mortes dos dois primeiros bebés foram atribuídas à Síndrome da Morte Súbita Infantil, mas após a morte da terceira filha, a polícia começou a investigar o caso quando um patologista forense assinalou a causa da morte como "indeterminada".

Desde que foi acusada e condenada, Folbigg garantiu sempre estar inocente. Em 2011, uma professora de direito, Emma Cunliffe, escreveu um livro intitulado Murder, Medicine and Motherhood, o que fez com que a opinião pública começasse a levantar questões sobre a condenação.

Em 2018, foram encontradas novas provas de que as suas duas filhas eram portadoras de uma variante genética rara, o que poderia ter provocado as suas mortes. O testemunho de peritos de que Laura poderia ter morrido de miocardite, uma inflamação do coração que também é conhecida por resultar em morte súbita, ajudou o caso de Kathleen.

Investigadores também descobriram que os seus dois filhos tinham uma mutação genética diferente associada à epilepsia de início súbito em ratos.

As novas provas fizeram com que muitos cientistas ficassem convencidos de que os bebés tinham morrido de causas naturais. À medida que as dúvidas em torno do caso cresciam, começou a acreditar-se que Kathleen Folbigg tinha sofrido um dos maiores erros judiciais da história da Austrália.

Um inquérito governamental realizado em 2022 e tornado público em novembro recomendou que o Tribunal de Recurso Criminal de Nova GAles do Sul considerasse a possibilidade de anular as suas condenações.

Em junho, 20 anos depois, Kathleen foi perdoada por Margaret Beazley, governadora de Nova Gales do Sul, e libertada da prisão.

Artigos Relacionados

As 10 lições de Zaluzhny (I)

O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.