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Rob Jetten, o liberal que poderá tornar-se o mais jovem primeiro-ministro dos Países Baixos

Tiago Neto 31 de outubro de 2025 às 18:46

Aos 38 anos, consolida a posição como favorito à chefia do Governo neerlandês, prometendo estabilidade política e reforço do papel europeu dos Países Baixos. A acontecer, pode ser o mais novo a ocupar o cargo desde a Segunda Guerra Mundial.

Líder do partido Democratas 66 (D66), Rob Arnoldus Adrianus Jetten está em vias de se tornar o mais jovem primeiro-ministro dos Países Baixos, aos 38 anos. A sua ascensão rápida, num contexto de desgaste populista e reconfiguração do centro político, é vista como um sinal de mudança estrutural na governação neerlandesa e na sua relação com a Europa.
Rob Jetten procura estabilidade política e um papel forte dos Países Baixos na Europa Peter Dejong/AP
Formado em Administração Pública pela Universidade Radboud, em Nijmegen, Jetten representa uma geração de dirigentes liberais que alia o pragmatismo económico ao progressismo social. De acordo com a BBC, conseguiu revitalizar o D66 e conduzi-lo de um desempenho modesto — apenas nove lugares no Parlamento nas legislativas de 2023 — para a liderança das projeções, num empate técnico com o Partido da Liberdade (PVV) de Geert Wilders, após 11 meses de coligação instável e contestada. Durante a campanha, Jetten destacou-se pela presença constante nos meios de comunicação e pela mensagem de otimismo político, sintetizada no lema Het kan wel (“É possível”), inspirada no “Yes, we can” de Barack Obama. Em contraste com o discurso polarizador de Wilders, o dirigente liberal procurou recentrar o debate público em torno de temas de coesão e confiança institucional. “Mostrámos ao mundo que é possível derrotar movimentos populistas e de extrema-direita”, afirmou o líder do D66, citado pelo Politico. Nascido na província de Brabant, Jetten assumiu-se homossexual ainda jovem e tem sido uma das vozes mais firmes na defesa dos direitos civis. Em 2019, divulgou um vídeo em que lia mensagens homofóbicas recebidas nas redes sociais, sublinhando a importância do Dia Internacional contra a Homofobia. Atualmente, está noivo do jogador de hóquei argentino Nicolás Keenan, embora insista em separar vida privada da identidade política. No currículo, antes da vida política, em 2017, assinala-se a passagem pela ProRail, empresa pública que gere a rede ferroviária neerlandesa. Já no governo de Mark Rutte, em 2022, exerceu funções como ministro do Clima e da Energia, cargo que o projetou a nível nacional e lhe consolidou a reputação como tecnocrata competente, ainda que criticado pela sua rigidez e ambição reformista. O seu mandato foi fortemente condicionado pela crise energética provocada pela invasão russa da Ucrânia, que forçou o Executivo a rever metas e prioridades na transição energética. A nível europeu, Rob Jetten tem-se afirmado como uma das vozes mais pró-integração na política neerlandesa contemporânea. Em entrevista ao Politico, defendeu “um papel mais construtivo dos Países Baixos na União Europeia” e declarou: “Devemos deixar de dizer ‘não’ por defeito e começar a dizer ‘sim’ a fazer mais juntos”, perspetiva que Bruxelas acolheu favoravelmente. Se a sua vitória se confirmar, e conseguir formar coligação, Rob Jetten tornar-se-á o mais jovem primeiro-ministro desde a Segunda Guerra Mundial, bem como o primeiro abertamente homossexual. A sua liderança poderá significar uma reorientação política estável, com enfoque no crescimento sustentável, na inovação tecnológica e na credibilidade internacional dos Países Baixos, num contexto europeu marcado pela incerteza económica e pelo avanço dos populismos. O desafio imediato será negociar uma coligação governativa sólida, capaz de oferecer maioria parlamentar e de executar um programa de reformas coerente num ambiente político fragmentado. A aritmética eleitoral revela que nenhum partido isolado detém lugar suficiente para governar, o que torna imperativa a concertação de várias formações políticas com agendas distintas. Além disso, Jetten terá de enfrentar temas complexos e urgentes como a contenção do custo de vida, a resposta à crise habitacional - "todos os porcos deste país têm um teto — mas um estudante ou alguém que compra um imóvel pela primeira vez não consegue encontrar sequer um pequeno quarto acessível”, disse -, a modernização energética e coerência fiscal dentro do quadro da União Europeia. Para Bruxelas e para os mercados, o nome de Jetten parece refletir previsibilidade. A confirmar-se a sua ascensão, a política neerlandesa procurará recuperar o equilíbrio entre disciplina fiscal e ambição reformista, reforçando o papel do país como parceiro central nas negociações orçamentais e nas políticas de transição energética da União Europeia.
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