Kremlin usa pela primeira vez palavra "guerra" para se referir ao conflito na Ucrânia
"Estamos em estado de guerra. Sim, começou como uma operação militar especial, mas assim que todo este bando se formou, quando o Ocidente coletivo participou em tudo isto ao lado da Ucrânia, para nós tornou-se uma guerra", disse Dmitri Peskov.
A Rússia está "em estado de guerra" com a Ucrânia, reconheceu esta sexta-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, depois de insistir em descrever o assalto ao país vizinho, como uma "operação especial" e rejeitar o uso da palavra "guerra".
"Estamos em estado de guerra. Sim, começou como uma operação militar especial, mas assim que todo este bando se formou, quando o Ocidente coletivo participou em tudo isto ao lado da Ucrânia, para nós tornou-se uma guerra. Estou convencido disso e toda a gente tem de o compreender", disse Dmitri Peskov numa entrevista ao semanário governamental Argoumenty i Fakty(Argumentos e Factos).
"Estou convencido disso e todos têm de o compreender para se empenharem", acrescentou, referindo-se à mobilização militar e à "mobilização dos espíritos" que está a ser levada a cabo na Rússia.
Nesta entrevista, Peskov recordou também o objetivo do Kremlin de conquistar completamente as quatro regiões ucranianas (Kherson, Donetsk, Lugansk e Zaporíjia) que Moscovo reivindica como território de anexação desde setembro de 2022.
"'De jure', trata-se de uma operação militar especial, mas de facto, transformou-se numa guerra", acrescentou Dmitri Peskov.
Nos últimos dois anos, o Kremlin reprimiu o uso da palavra "guerra" com multas e penas de prisão, impondo o eufemismo oficial de "operação militar especial".
Durante os dois anos de conflito, vários altos funcionários já utilizaram a palavra "guerra" em declarações públicas, mas sempre em referência à guerra que o Ocidente estava a travar contra a Rússia através da Ucrânia, e não em relação ao ataque russo.
Questionado sobre o destino das pessoas condenadas pela utilização da palavra "guerra", Peskov sugeriu que tal não significava que a utilização do termo "num contexto crítico" fosse permitida.
"A palavra 'guerra' é utilizada em diferentes contextos. Comparem o meu contexto com o contexto dos casos (de pessoas condenadas) que a citam", disse.
Nas redes sociais, a analista russa Tatyana Stanovaya, citada pela Agência France-Presse, afirmou, no entanto, que a utilização oficial do termo pelo Kremlin ilustra a passagem de uma "fronteira psicológica" entre a elite política e os cidadãos.
O Presidente russo, Vladimir Putin, que foi recentemente reeleito com 87% dos votos numa eleição presidencial sem oposição, prometeu levar o país à vitória sobre Kiev e o Ocidente, no que considera ser um confronto pela "existência" da Rússia.
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