Guerra entre Israel e Hezbollah à vista?
O gabinete de segurança de Israel autorizou o governo a retaliar contra o Hezbollah, depois de um foguete ter matado 12 jovens. Milícia libanesa nega ser autora do ataque.
"Estamos a aproximar-nos do momento de uma guerra total contra o Hezbollah", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Israel Katz, no sábado passado. "A resposta a este ataque será correspondente", sublinhou, referindo-se ao foguete que matou 12 pessoas, entre as quais 11 crianças, na cidade de Majdal Shams, nos Montes Golã. O Hezbollah negou responsabilidade pelo ataque e sublinhou que não considera esta comunidade um alvo, enquanto Israel afirmou que este foi "o mais mortífero ataque contra civis" desde o do Hamas, a 7 de outubro. Esta segunda-feira, 29 de julho, o gabinete de segurança de Israel autorizou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o seu ministro da Defesa a decidirem quando e como retaliar.
Um foguete, que Israel diz ter sido lançado pelo Hezbollah a partir de Chebaa, no sul do Líbano, atingiu um campo de futebol em Majdal Shams. As vítimas, com idades entre 10 e 20 anos, morreram enquanto treinavam. De acordo com o Conselho Regional de Majdal Shams, nenhuma das vítimas era israelita, apesar das Forças de Defesa Israelitas terem condenado o ataque. Pelo menos 44 pessoas ficaram feridas na sequência do ataque.
O chefe da diplomacia israelita, Israel Katz, disse no sábado que "o Hezbollah cruzou todas as linhas vermelhas", afirmando mesmo que o país está a chegar a um momento perto da "guerra total", em declarações ao Canal 13, um canal noticioso israelita. "O Hezbollah vai pagar um preço elevado. Um preço que não pagou antes", afirmou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que no domingo reuniu o gabinete de segurança. Durante a noite de sábado, Israel bombardeou sete regiões libanesas.
O foguete que atingiu Majdal Shams caiu depois de Israel ter bombardeado uma alegada célula militar do Hezbollah em Kfarkila, no sul do Líbano, matando pelo menos quatro militantes de vários grupos armados. O grupo xiita libanês reivindicou a autoria de pelo menos quatro ataques retaliatórios, mas o seu representante para os media, Mohammad Afif, negou à agência Reuters a responsabilidade em Madjal Shams. No entanto, o exército israelita afirma que o foguete "de fabrico iraniano" foi mesmo disparado pela milícia libanesa. "Não seria a primeira vez que as baterias israelitas e os mísseis da Cúpula de Ferro falharam e saíram pela culatra", afirmou o libanês.
O ministro dos negócios estrangeiros do Líbano, Abdallah Bou Habib, sugeriu, em declarações à BBC, "que podia ter sido um erro dos israelitas ou do Hezbollah", ou ainda obra de uma outra organização. Apelou ainda aos Estados Unidos que pressionassem Israel a mostrar contenção na resposta. O Líbano pediu uma investigação internacional independente ao ataque.
Desde o início da guerra em Gaza que Israel e Hezbollah têm trocado tiros quase diários. No conflito entre Israel e Hezbollah dos últimos nove meses foram mortos cerca de 20 militares israelitas e 12 civis. No sul do Líbano, foram mortos pelo menos 100 civis, incluindo três jornalistas e perto de 400 membros do Hezbollah e de várias milícias. O Hezbollah diz estar a apoiar os palestinianos, mas ambas as partes têm evitado uma declaração de guerra.
A comunidade internacional tem pressionado os dois lados para que não entrem em conflito, mas a melhor maneira de evitar uma guerra total entre Israel e o Hezbollah, diz o secretário de estado norte-americano, Antony Blinken, é conseguir um cessar-fogo em Gaza. Apesar disso, afirmou: "Estamos em conversações com o governo de Israel e volto a enfatizar o seu direito a defender os seus cidadãos e a nossa determinação em garantir que eles o podem fazer", dando a entender que os EUA estão do lado de Telavive.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, condenou o "banho de sangue". "Precisamos de uma investigação internacional independente a este incidente inaceitável", acrescentou, pedindo a todas as partes que exerçam "o máximo de contenção" e evitem "uma maior escalada". Já o Egito pediu às "forças influentes" da comunidade internacional que intervenham imediatamente para evitar o agravamento do conflito. O Irão, aliado do Hezbollah, alertou para as "consequências" de uma "aventura" israelita.
Mas a verdade é que os planos de Israel são fazer com o Hezbollah aquilo que está a tentar fazer com o Hamas: aniquilar estes grupos, eliminando a ameaça.
Os Montes Golã foram unilateralmente anexados por Israel em 1981, tendo sido capturados à Síria durante a guerra dos 6 dias, em 1967. A anexação não é reconhecida internacionalmente e as Nações Unidas consideram os Golã como território sírio ocupado. A única exceção são os Estados Unidos que, em 2019, reconheceram a soberania israelita sobre aquela região. No entanto, os cidadãos drusos dos Montes Golã rejeitam a cidadania israelita, continuando a identificarem-se como sírios.
Durante os funerais, deslocaram-se a Majdal Shams os ministros da Economia e da Proteção Ambiental israelitas, tendo sido mal recebidos pela população que afirma ter sido deixada ao abandono pelo governo de Benjamin Netanyahu. Desde os ataques de 7 de outubro levados a cabo pelo Hamas em território israelita e o início da guerra entre as duas fações, que as comunidades do norte de Israel afirmam ter sido abandonadas, refere a CBS. O líder espiritual dos drusos em Israel, Muafak Tarif, condenou este "ataque brutal e assassino". Em comunicado, citado pelo Times of Israel, acrescentou: "Um país adequado não pode permitir-se prejudicar continuamente os seus cidadãos e residentes. Esta é a realidade que perdura há nove meses nas comunidades do Norte. Esta noite ultrapassou todos os limites."
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