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EUA espiaram António Guterres por ser brando com a Rússia

Ana Bela Ferreira 13 de abril de 2023 às 10:26

Documentos secretos divulgados online descrevem conversas privadas do líder da ONU com a sua vice. Guterres foi visto querendo facilitar posição da Rússia no acordo dos cereais.

A fuga de documentos secretos dos EUA sobre a intervenção na guerra da Ucrânia continuam a revelar novas informações. Desta feita, Washington terá espiado o secretário-geral da ONU, António Guterres, por acreditar que ele estaria demasiado disposto a acomodar os interesses russos, refere a BBC.

SERGEI SUPINSKY / Getty Images

Vários documentos que foram divulgados online, na semana passada, descrevem comunicações privadas entre Guterres e a sua vice. Uma dessas descrições é de um documento datado de fevereiro, onde Guterres é apanhado a conversar com Amina Mohammed. Aí, o português expressa a sua "consternação" pelo facto da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ter apelado à Europa que produzisse mais armas e munições para a Ucrânia. Em seguida, a sua vice comenta a recente cimeira com líderes africanos, com Amina Mohammed a classificar o presidente do Quénia, William Ruto, de "implacável" e que confiava nele.

Entre as informações agora divulgadas estão as conversas também sobre o acordo de cereais que a ONU levou a cabo com o apoio da Turquia, envolvendo Ucrânia e Rússia, em julho do ano passado. Durante as negociações, o comportamento de Guterres foi observado de perto. Segundo os documentos, Guterres "enfatizou os seus esforços para melhorar a capacidade de exportação russa, mesmo que isso envolva entidades ou cidadãos russos sancionados", referem os documentos.
 
Para as autoridades norte-americanas as ações do secretário-geral da ONU estavam "a minar os esforços mais alargados para responsabilizar Moscovo pelas ações na Ucrânia".

Perante a revelação destes dados, as Nações Unidas já referiram que não vai haver reações oficiais do organismo ao teor dos mesmos, porém, sublinhou que a ONU "trabalhou focada na necessidade de mitigar o impacto da guerra nos países mais pobres". "Isto significava fazer o que pudéssemos para baixar o preço dos alimentos e garantir que os fertilizantes eram acessíveis a estes países".

De recordar que a Ucrânia e a Rússia estão entre os principais produtores de cereais e fertilizantes do mundo. Os fertilizantes e cereais russos ficaram fora das sanções internacionais, mas a Rússia continua a defender que estas indústrias têm sofrido com a dificuldade de fazer seguros e conseguir transporte.

Um funcionário sénior das Nações Unidas garante que a posição dos EUA está errada quanto à postura de Guterres e que ele já deixou bem clara a sua oposição à Rússia nesta guerra.
 
Por enquanto ainda não se sabe quem divulgou estes documentos classificados. As suspeitas apontam para um homem na casa dos 20 anos que terá trabalhado numa base norte-americana e, segundo oWashington Post, refere ter partilhado os documentos com um pequeno grupo de homens e jovens que "amam armas, mnaterial militar e Deus" na rede social Discord (popular entre jogadores de videojogos).

As autoridades norte-americanas continuam a investigar para perceber a origem a fuga das informações. "Queremos chegar ao fundo disto, queremos encontrar quem fez isto e porquê", garantiu, à BBC, o porta-voz da segurança nacional dos EUA, John Kirby.

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