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Eleições EUA: serão as projeções o reflexo de um país mais dividido que nunca?

SÁBADO/Lusa 09 de novembro de 2022 às 07:43

Não houve "onda vermelha" e os democratas não estão a ter um desempenho tão desastroso como o previsto. Ainda sem resultados oficiais, eis o que já se sabe das eleições intercalares norte americanas.

Os norte-americanos foram a votos para as eleições intercalares. Até ao momento não existem ainda resultados oficiais, apenas sondagens, mas os números apontam já para um país mais dividido que nunca. Nas últimas horas não se verificou a tão esperada "onda vermelha", os democratas não estão a ter um desempenho tão desastroso como as previsões apontavam e os números mais parecem indicar uma espécie empate técnico.

REUTERS

Ainda assim, de acordo com as últimas projeções da Associated Press (AP), os republicanos lideram a conquista de lugares no Senado com 17 mandatos, face aos 11 senadores assegurados pelos democratas.

Na corrida à câmara alta do Congresso norte-americano, as projeções apontam para uma vantagem de 17-11 para os republicanos, enquanto que para a Câmara dos Representantes, os republicanos asseguraram 186 mandatos, face aos 149 assegurados pelos democratas.

Na eleição para governador, os republicanos já asseguraram 16 lugares, enquanto os democratas têm 13 governadores.


Quem ganhou e quem perdeu?

Quanto a nomes, o congressista Republicano Ted Budd conquistou um lugar no Senado pelo estado da Carolina do Norte, tendo derrotado a democrata Cheri Beasley. Em Ohio, o candidato republicano, o autor JD Vance, derrotou Tim Ryan, ganhando assim um lugar no Senado até agora controlado pelos democratas.

O Republicano Rand Paul, antigo candidato presidencial, ganhou um terceiro mandato para o Senado em representação de Kentucky, derrotando o Democrata Charles Booker, o primeiro negro do Kentucky a concorrer como candidato democrata do estado para o Senado.

O líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer, assegurou a sua reeleição para um quinto mandato frente a Joe Pinion. Já o democrata Michael Bennet alcançou a vitória no Colorado, um dos estados disputados com os Republicanos, ao derrotar Joe O’Dea, segundo projeção da CNN.

No Dakota do Norte, o republicano John Hoeven venceu a reeleição para o Senado frente à democrata Katrina Christiansen e o independente Rick Becker. Já no Dakota do Sul, o também republicano John Thune alcançou o quarto mandato para o Senado, sendo apontado como um potencial líder da câmara, após ter derrotado o democrata Brian Bengs. Também Jerry Moran assegurou o terceiro mandato no Senado no Kansas, ao derrotar o democrata Mark Holland.

Na corrida a governador, o procurador geral democrata Josh Shapiro venceu na Pensilvânia o republicano Doug Mastriano, um candidato de extrema direita apoiado pelo antigo presidente Donald Trump. A democrata Kathy Hochul tornou-se a primeira mulher a ser eleita governadora de Nova Iorque, sendo que já ocupava o cargo desde a demissão de Andrew Cuomo em 2021.

Em Illinois o Democrata J.B. Pritzker foi reeleito numa corrida contra o senador republicano Darren Bailey, também apoiado por Trump.

A democrata Maura Healey foi eleita frente a Geoff Diehl, tornando-se a primeira lésbica assumida a conquistar este cargo. Também o Democrata Dan McKee derrotou Ashley Kalus para o cargo de governador em Rhode Island.

No Colorado, o democrata Jared Polis alcançou a reeleição ao derrotar a republicana Heidi Ganahl. Já o republicano Mark Gordon conquistou o segundo mandato como governador no Wyoming, ao bater a democrata Theresa Livingston, enquanto em Vermont o republicano Phil Scott assegurou a sua reeleição no Estado democrata, vencendo Brenda Siegel.

Em Iowa, o republicano Kim Reynolds venceu o segundo mandato como governador frente à Democrata Deidre DeJear.

Segundo as projeções anunciadas anteriormente, os republicanos asseguraram também vitórias para o Senado no Oklahoma (reeleição de James Lankford e a eleição de Markwayne Mullin), no Alabama (eleição de Katie Britt), na Florida (reeleição de Marco Rubio), no Indiana (reeleição de Todd Young), no Arkansas (reeleição de John Boozman) na Carolina do Sul (reeleição de Tim Scott) e Kentucky (reeleição de Rand Paul).

Já os democratas tinham assegurado lugares no Senado em Illinois (reeleição de Tammy Duckworth), em Maryland (reeleição de Chris Van Hollen), no Connecticut (reeleição de Richard Blumenthal) e Vermont (eleição de Peter Welch).

Na corrida a governador, os Democratas elegeram Wes Moore em Maryland, Maura Healey no Massachusetts e JB Pritzker no Illinois (reeleição).

Nos republicanos, Ron DeSantis foi reeleito governador na Florida, Chris Sununu foi reeleito em New Hampshire, Mike DeWine foi reeleito no Ohio, Kay Ivey foi reeleita no Alabama, Bill Lee foi reeleito no Tennessee, Henry McMaster foi reeleito na Carolina do Sul e Sarah Sanders foi eleita no Arkansas.

  

Biden cada vez mais à margem

Mais de dois terços dos eleitores que votaram nas eleições intercalares dos EUA não querem uma recandidatura do Presidente Joe Biden, nas presidenciais de 2024. A sondagem - encomendada por várias estações televisivas norte-americanas - procurou aferir o sentimento dos eleitores sobre uma eventual recandidatura do atual presidente dos Estados Unidos da América (EUA) e chegou à conclusão que mais de sete em cada 10 dos eleitores que se consideram independentes e cerca de nove em cada 10 eleitores considerados republicanos disseram que não querem que Biden apareça nos boletins de voto nas eleições presidenciais de 2024.

E mesmo entre os democratas, são menos de seis em cada 10 os eleitores que acham que Biden deve apresentar-se a uma recandidatura.

Nas mais recentes sondagens, agregadas pelo site Fivethirtyeight, a popularidade do atual Presidente está em níveis baixos, com apenas 41,4% de aprovação e 53,5% de desaprovação.

A fraca popularidade política de Biden tem sido apresentada por diversos analistas como uma das razões que fazem prever a perda de mandatos democratas nas eleições intercalares que decorreram na terça-feira.

 

Negacionistas e adeptos das teorias da conspiração

Mais de 130 candidatos que negaram ou questionaram os resultados das eleições presidenciais de 2020 foram eleitos para o Congresso dos Estados Unidos ou para cargos de governos estaduais.

Florida e Texas estão entre os que escolheram o maior número de políticos negacionistas nestas eleições, incluindo a reeleição dos governadores dos dois estados, Ron DeSantis e Greg Abbott, que também adotaram ideias de fraude eleitoral.

Abbott apoiou uma ação movida pelo procurador-geral do Texas, Ken Paxton, que tentava anular os resultados das eleições de 2020 em quatro estados do país. DeSantis realizou uma campanha na Florida contra "crimes eleitorais", antes das eleições, que levou à detenção de 20 pessoas por alegadamente terem votado ilegalmente.

Alabama, Idaho e Dakota do Sul também elegeram negacionistas como governadores.

Entre os casos de eleições encontra-se ainda Kay Ivey, reeleita para um segundo mandato como governadora do Alabama. Ivey chegou a ter um anúncio de campanha em que alegava que "empresas de tecnologia e liberais em estados democratas roubaram a eleição de Trump" e prometeu que no seu estado isso não iria acontecer.

Os três governadores fazem parte de cerca de 300 candidatos republicanos espalhados pelo país que apoiaram a teoria - promovida por Donald Trump - de que as eleições de 2020 foram fraudulentas ou que questionaram os resultados dessas eleições, segundo dados do instituto Brookings.

Entre os senadores republicanos que abraçam essas ideias e saíram vitoriosos nas suas disputas nas eleições de terça-feira estão o escritor JD Vance, que venceu uma luta cerrada no Ohio, e o congressista Ted Budd, da Carolina do Norte, que entra no senado pela primeira vez.

JD Vance tem defendido que a eleição de 2020 foi roubada, que houve um grande número de pessoas que votaram "ilegalmente", tendo apoiado mesmo a posição do senador do Missouri Josh Hawley de se recusar a certificar os votos do colégio de eleitores, em 06 de janeiro.

Budd, que estava há três mandatos na câmara de representantes, acusou os democratas de colocar em risco a "integridade das eleições" e apresentou no Congresso um projeto de lei para combater a fraude eleitoral.

Além dos congressistas negacionistas, há ainda candidatos a cargos que têm peso nos processos eleitorais dos estados, como procurador-geral, governador ou secretário de estado.

Florida, Ohio, Carolina do Sul e Alabama elegeram na terça-feira candidatos que apoiaram falsas teorias de fraude eleitoral. Na Florida, por exemplo, o procurador-geral Ashley Mood, que foi reeleito para um segundo mandato, liderou, juntamente com o governador DeSantis, a campanha para deter pessoas acusadas de "voto ilegal".

As eleições intercalares norte-americanas realizadas esta terça-feira determinarão qual o partido que controlará o Congresso nos dois últimos anos do mandato do Presidente Joe Biden, estando também em jogo 36 governos estaduais e vários referendos estaduais a medidas sobre questões-chave, incluindo aborto e drogas leves.

Em disputa estão todos os 435 lugares na Câmara dos Representantes, onde os democratas atualmente têm uma estreita maioria de cinco assentos, e ainda 35 lugares no Senado, onde os democratas têm uma maioria apenas graças ao voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris.

As eleições podem não apenas mudar a cara do Congresso norte-americano, mas também levar ao poder governadores e autoridades locais totalmente comprometidos com as ideias de Trump. Uma derrota muito pesada nestas próximas eleições pode complicar ainda mais o cenário de um segundo mandato presidencial para Joe Biden.

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