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A lei marcial, os candidatos e os prazos para as eleições pedidas por Trump e que Zelensky não descarta
Presidente ucraniano admitiu um sufrágio nos “próximos 60 a 90 dias", mas o politólogo José Filipe Pinto considera o prazo demasiado ambicioso.
Índice
- 1É realista falar em eleições no atual contexto ucraniano?
- 2Lei marcial e eleições: podem coexistir?
- 3O calendário apertado de Zelensky é viável?
- 4Como organizar eleições após um cessar-fogo?
- 5O elenco de nomes que pode disputar a presidência
- 6Em que ponto está a democracia ucraniana?
“Falam sobre democracia, mas chega a um ponto em que já não é mais uma democracia.” As palavras de Donald Trump, numa grande entrevista ao Politico publicada esta terça-feira, onde comentou que na Ucrânia já não há eleições “há muito tempo”, parecem terem sido a gota que faltava para o presidente da Ucrânia falar em eleições. Num intervalo das negociações que ocorrem para a resolução do conflito com a Rússia, mediadas pelos Estados Unidos, Zelensky mudou a narrativa e admite eleições, se os parceiros estiverem disponíveis em ajudar a garantir a segurança. Para clarificar os possíveis cenários, contamos com a explicação do politólogo português José Filipe Pinto.
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AP Photo/Alex Brandon
1É realista falar em eleições no atual contexto ucraniano?
À Sábado, o politólogo José Filipe Pinto, explica que “há aqui muitos elementos que temos de ter muito cuidado. Primeiro, porque Zelensky não foi claro se estaria a falar de eleições legislativas ou presidenciais, embora em todo o caso a Constituição ucraniana proíba eleições em tempo de lei marcial. Outra questão é se as garantias solicitadas aos parceiros se prendem com um cessar-fogo ou com o fim do conflito. “E esse dado é fundamental para depois nós podermos ter uma visão correta se afinal de contas ele está disponível mesmo para a eleição presidencial ou se isto não passa de uma resposta de Zelensky, porque a questão da legalidade não é sinónimo de legitimidade”, sublinha o politólogo. Por um lado, não se colocam questões sobre a legalidade do mandato, estando a situação enquadrada na Constituição. Por outro, o da legitimidade, “a situação já é muito diferente”, explica, porque a “e a ideia que Donald Trump deixa presente é que quem não organiza eleições não está minimamente mandatado pelo povo”.
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DR
2Lei marcial e eleições: podem coexistir?
Não. “Ele decretou, mas isso precisa do respaldo do Parlamento. E da mesma maneira agora ele pode levantá-la, mas para isso vai novamente precisar de explicar ao Parlamento porque é que já não se justifica a manutenção”, aponta José Filipe Pinto, garantindo que, neste caso do decreto de lei marcial (como de estado de sítio ou estado de emergência), o exemplo da Constituição ucraniana “é muito semelhante à constituição portuguesa”. “O que se tem de fazer é garantir que estão reunidas as condições que permitem o regresso àquilo que se chama o normal funcionamento das instituições. E para regressar ao normal funcionamento das instituições, significa que deixam de estar em vigor as condições que levaram a decretar neste caso a lei marcial”, que diz sempre respeito a uma situação de guerra. “A menos que haja uma revisão constitucional, ou uma emenda constitucional”, ressalva.3O calendário apertado de Zelensky é viável?
O que também nos leva ao intervalo de tempo avançado por Zelensky para a realização de eleições, entre 60 a 90 dias, ou seja, entre dois e três meses. José Filipe Pinto não acredita que seja possível, dada a complexidade do processo em várias frentes. “É um ato muito complexo, porque pressupõe a organização de todo o processo, desde o período que diz respeito às listas ou candidatos aceites, depois um período de campanha eleitoral e depois uma definição das mesas de voto”. A situação torna-se mais intrincada quando estão também em causa territórios ocupados pela Rússia, no caso dos oblasts Donetsk, Luhansk, Kherson ou Zaporizhzhia. “Como é que vão votar? Como é que se organiza o ato eleitoral aí? Porque a Rússia não vai admitir atos eleitorais ali”, alerta. Outro problema que se coloca é a diáspora dos ucrânianos, consideravelmente maior desde o início do conflito. Para José Filipe Pinto, “é preciso saber se, por exemplo, as embaixadas têm os cadernos eleitorais desses cidadãos, se eles estão recenseados”. O politólogo acredita que “Zelensky vai ser confrontado com a impossibilidade de cumprir os prazos que ele ele próprio estipulou”, embora coloque a hipótese de que esta reação do presidente da Ucrânia tenha sido apenas “manifestação de disponibilidade para mostrar a Trump que não tem medo de ir a eleições e que não está apegado ao poder”.4Como organizar eleições após um cessar-fogo?
A primeira questão passa, então, pelo fim da lei marcial. E depois será mesmo preciso pedir ajuda. “A comunidade internacional vai ter de, primeiro de tudo, apoiar a logística do ato, é preciso organizar os cadernos, porque é um processo demasiado rápido para um país que ainda está em guerra”, clarifica o politólogo, destacando que “não é fácil pôr todo o mecanismo eleitoral em funcionamento imediato”. É também fundamental que tudo decorra dentro do “que se chama a normalidade democrática”, uma situação que terá de incluir observadores internacionais, de forma a acautelarem os procedimentos e evitarem as chamadas ‘chapeladas’, a introdução de votos em urna, que não correspondem a eleitores reais. E também evitarem coações e impedimentos no ato de votar, ou mesmo perceber se houve candidaturas impedidas de concorrer. “A comunidade internacional tem aqui um papel não apenas sobre o dia das eleições, mas sobre a parte de como decorre a campanha eleitoral, depois de como decorre a votação e finalmente como são apurados os resultados”.5O elenco de nomes que pode disputar a presidência
No caso de estarmos a falar de eleições presidenciais, José Filipe Pinto não tem dúvidas sobre quem é o candidato mais forte: Valerii Zaluzhnyi, antigo chefe das Forças Armadas e nomeado por Zelensky para assumir o cargo de Embaixador da Ucrânia no Reino Unido. Apesar de ainda não ter manifestado interesse na candidatura, “Zaluzhnyi é visto por uma grande parte do eleitorado como a personalidade capaz de minimizar as perdas da Ucrânia e é visto como alguém credível, pelo sucesso até que teve no campo de batalha”, defende Jorge Filipe Pinto.
Zelensky e Zaluzhnyi
Ukranian Presidential Press Service/ via Reuters
6Em que ponto está a democracia ucraniana?
A provocação de Donald Trumo sobre o estado da democracia da Ucrânia valeu outra análise ao politólogo. “Donald Trump entende que a Ucrânia não é uma democracia porque não realiza eleições. Ora, de facto, a Ucrânia não é uma democracia, mas não era uma democracia também antes da invasão russa”, explica. Como base tem o índice de democracia publicado anualmente pelo The Economist, desde 2006. “A Ucrânia só foi democracia, ainda que imperfeita, de 2007 a 2010. A partir daí tem sido sempre um regime híbrido”. O índice avalia, numa escala de zero a dez, os países em quatro categorias principais: democracia plena, democracia imperfeita, regime híbrido e regime autoritário. Os critérios em que se baseia passam por: processo eleitoral e pluralismo; participação política; e cultura política – critérios onde a Ucrânia tem valores mais positivos; assim como o funcionamento do governo (onde são avaliados, por exemplo casos de corrupção); e liberdades civis, onde o país é avaliado negativamente. No total, a Ucrânia classifica-se no índice com 4,90 valores. "E isto é antes dos casos de corrupção que envolveram, inclusive, o chefe de gabinete de Zelensky. O grau de satisfação é baixíssimo e isso, é evidente, acaba por ter também um peso na candidatura ou numa eventual candidatura de Zelensky".Descubra as
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