"Jamie Miller, são 6h15, e estás detido por suspeita de homicídio." Começa de pijama a estreia do ator Owen Cooper, com 15 anos, protagonista da série do momento na Netflix. Owen é Jamie, o jovem de 13 anos que está a ser detido, ao acordar na própria cama, acusado de matar com uma faca de cozinha uma colega de escola. Se Adolescência está a conquistar milhões de pessoas, também será graças à interpretação deste miúdo.
Na minissérie de quatro episódios - cada um filmado num único plano-sequência, ou seja, sem cortes - criada por Jack Thorne e Stephen Graham (que interpreta o papel de pai de Jamie, Eddie), a cultura incel (uma comunidade de homens que odeiam mulheres a ponto de as matarem, que tem ganhado espaço junto dos adolescentes via telemóveis e redes sociais) está no epicentro de um terramoto que, para os criadores da série, devia estar a abalar as estruturas da sociedade.
Foi, de resto, por quererem alertar para esta questão que decidiram filmar esta história acompanhando a família do agressor e não a da vítima - é que isso permite mais facilmente colocar a questão: quem é realmente responsável quando um rapaz de 13 anos mata uma colega de escola?
Até 13 de março, Owen Cooper era um perfeito desconhecido da maioria da população mundial. Hoje, mais de 25 milhões já o viram representar (de uma forma que a crítica não se cansa de elogiar) - e é seguro dizer que a maioria terá ficado impressionada. À agência de notícias Associated Press, o argumentista Stephen Graham contou que, desde o início das gravações, o adolescente demonstrou estar comprometido com o trabalho (de resto, reza o IMDB - base de dados de séries e cinema - que no final do casting de Cooper, Stephen, impressionado com o miúdo, se terá virado para Jack Thorne, e terá dito "acho que é ele").
Segundo Graham, Owen Cooper apareceu sempre nos ensaios "com as palavras perfeitas", mesmo sem entender como funcionaria o estilo de filmagens de um só take. Para que entendesse o esquema, o realizador, Philip Barantini, quis que tivesse um professor de representação. O resultado: o miúdo que um dia quis ser jogador de futebol mas decidiu ser ator quando viu Impossível (sobre o tsunami de 2006) impressionou toda a gente no set. De facto, não há impossíveis.
"É o próximo Robert DeNiro", garante Stephen Graham, um dos mais impressionados. Se assim for, Owen Cooper será o primeiro da família a trabalhar em representação - tem dois irmãos mais velhos, de 20 e 30 anos, dos quais nada se sabe, a mãe é cuidadora e o pai trabalha em informática. O seu talento, porventura natural, será também produto de um grupo de teatro, The Drama Mob, em Manchester, criado pela atriz Tina O’Brien (que está, naturalmente, em êxtase com o sucesso de Cooper).
Encantada, Erin Doherty, conhecida como a jovem Princesa Ana em The Crown, não poupa elogios ao menino prodígio. Diz a toda a gente que que ele é um dos melhores atores com quem já trabalhou. À Associated Press, diz mais: "Ficamos a observá-lo, tipo, como é que tu... como é que estás a fazer isto?"
A resposta não é fácil mas as pistas vão surgindo nas poucas entrevistas dadas pelo jovem ator. Filmes preferidos? Django Libertado. Planos para o futuro? Entrar numa grande produção da Marvel. Próximo trabalho? A adaptação para cinema de Wuthering Heights, obra escrita em 1847 por Emily Brontë, que vai ter Margot Robbie e Jacob Elordi como protagonistas. Owen Cooper pode ainda não ter percebido totalmente o que lhe aconteceu nos últimos dias - mas a verdade é que sabe bem o que quer.
