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"Estado Elétrico": e se o filme mais caro de sempre da Netflix for um sucesso e um flop?

É o filme mais visto da Netflix neste momento (em Portugal e no mundo) mas pode, mesmo assim, ter ficado aquém das expectativas. Porquê? A resposta está nos números.

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'Estado Elétrico': e se o filme mais caro de sempre da Netflix for um sucesso e um flop?
Gonçalo Correia 20 de março de 2025 às 17:00
Netflix

Quase 300 milhões de euros dão para muita coisa: comprar uma mansão, um ou outro castelo, uma ilha privada, um jato, quadros de Van Gogh e Picasso, viagens ao espaço, um ou outro clube de futebol de gama média. Chegam, também, para fazer o filme mais caro de sempre da Netflix. IntituladoEstado Elétrico, chegou à plataforma destreamingna passada sexta-feira, 14 de março. Sem surpresa, tornou-se rapidamente o filme mais visto da plataforma: já foi visto por 25 milhões de utilizadores e lidera oranking em numerosos países,como Portugal. Mas será mesmo um sucesso? Depende da perspetiva. 

Realizado por Anthony e Joe Russo, também conhecidos como "os irmãos Russo" (produtores executivos da série Citadel e cineastas de blockbusters como Vingadores: Endgame, Capitão América: Guerra CivilVingadores: Guerra do Infinito e Capitão América: O Soldado do Inverno), o filme tem argumento de Christopher Markus e Stephen McFeely, dupla experimentada e com vários créditos no Universo Cinematográfico da Marvel e que trabalha há muito com os irmãos Russo.

Vagamento inspirado por uma novela gráfica com o mesmo nome, publicada em 2018 pelo sueco Simon Stålenhag, o filme é protagonizado por Millie Bobby Brown (a Eleven de Stranger Things) e Chris Pratt, e conta com outros nomes afamados no elenco como Ke Huy Quan, Stanley Tucci, Michael Trucco, Giancarlo Esposito.

Estado Elétrico passa-se numa época posterior a uma guerra entre a humanidade e os robôs e é descrito como um "filme de ficção científica, de ação e aventura", sobre "uma adolescente órfã" que "faz-se à estrada com um misterioso robô para encontrar o irmão desaparecido", unindo-se pelo caminho "a um contrabandista e ao seu parceiro divertido". 

Os números que arrefecem o sucesso

Com um orçamento a rondar os 290 milhões de euros, Estado Elétrico tornou-se o filme mais caro de sempre produzido pela Netflix e entrou diretamente para o top 15 de filmes com maior orçamento já feitos - uma lista liderada por Star Wars: O Despertar da Força (2015) e secundada, em ordem decrescente, por Mundo Jurássico: Reino Caído (2018), Star Wars: Episódio IX - A Ascensão de Skywalker (2019), Velocidade Furiosa X (2023) e Piratas das Caraíbas por Estranhas Marés (2011).

Para se ter uma ideia, comparando com alguns dos filmes com maior receita de bilheteira nos últimos anos, Estado Elétrico custou mais cerca de 110 milhões de euros à Netflix do que Divertida-mente 2 à Pixar, mais cerca de 50 milhões de euros do que a versão de O Rei Leão de Jon Favreau à Disney e mais cerca de 150 milhões de euros do que Barbie, estrondoso sucesso de 2023 de Greta Gerwig.

Se já era expectável que Estado Elétrico se tornasse filme mais visto da Netflix e somasse milhões de espectadores por todo o mundo, o sucesso do filme pode estar, apesar de tudo, aquém das expectativas. Como explicava recentemente o site Digital Spy, o filme dos irmãos Russo ficou distante do primeiro impacto de filmes da Netflix como Aviso Vermelho (75 milhões de espectadores na primeira semana), O Projeto Adam (52.3 milhões de espectadores) e A Donzela (35 milhões de espectadores).

Assim, o filme mais caro de sempre da plataforma pode "não chegar ao top 10 de filmes da Netflix com mais espectadores" desde a criação do serviço de streaming, concluía o site especializado em cinema e televisão.

Netflix

Outro dado que faz Estado Elétrico não ficar na fotografia dos grandes sucessos da Netflix é o peso comparativo. O já referido Aviso Vermelho conseguiu três vezes mais espectadores na semana de estreia com um orçamento consideravelmente menor (rondou os 184 milhões de euros, uma diferença de mais de 100 milhões de euros em custo de produção). Bagagem de Mão (2024), o segundo filme mais visto de sempre na plataforma, teve um orçamento mais de seis vezes inferior e Não Olhem para Cima (2021), o terceiro do ranking de mais vistos, teve um orçamento inferior a 50 milhões de euros, ou seja, também este mais de seis vezes inferior.

Pior tem sido a reação da crítica: o The Times descreveu-o como "ficção científica miseravelmente pobre", o Hollywood Reporter chamou-lhe "sci-fi aborrecida" e apontou-lhe pechas como falta de "charme e inteligência", a publicação norte-americana The Verge classificou-o como "uma adaptação terrível, sem alma e desinspirada" e o The Guardian deixou uma pergunta: "Porque é que os filmes mais caros da Netflix também são os piores?"

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