Não é a mesma coisas sem eles, mas todos os anos é a mesma coisa: chegada a época de festas, vemos as montras dos supermercados encher-se dos espumantes habituais, um eterno retorno de garrafas, marcas e perfis com pouca ou nenhuma variação. Não há nada de errado com beber o que se gosta, mas, como nos disse recentemente um excelso produtor, "isso não deve ser motivo para não provar o que não se gosta" - e quem sabe até passar a gostar.
Com isso em mente, reunimos uma lista de sete espumantes que escapam ao costume, que não vai encontrar na maior parte dos supermercados e que, independentemente do preço, prometem tornar a sua passagem de ano mais excelsa. Do mais barato para o mais caro, confira as nossas sugestões para entrar em 2025 em grande. Antes, no entanto, fique com uma breve nota sobre como escolher o espumante adequado para si.
Embora, no mundo do vinho em geral, os termos convencionais para os níveis de açúcar sejam de "seco" (pouco açúcar residual) a doce, o panorama dos espumantes é um pouco diferente, seguindo a nomeclatura estabelecida pela região de Champagne: além do Doce (mais de 50 gramas de açúcar por litro, ou g/L), Meio-Seco (até 50 g/L), Seco (até 32 g/L) e Extra-Seco (até 17 g/L), há ainda as categorias Bruto (até 12 g/L), Extra Bruto (até 6 g/L) e Brut Nature (menos de 3 g/L). O resultado é que um vinho apelidado de "seco" pode, ainda assim, ser bastante doce ao palato, e, se a sua tolerância ao açúcar for baixa, o melhor é ficar-se mesmo pelos Brutos.
A esmagadora maioria dos espumantes que encontrar terão sido feitos de acordo com o método clássico ou tradicional, com uma primeira fermentação a fazer o vinho e a segunda, dentro da garrafa, a gerar as bolhas - espere destes, regra geral, o perfil convencional dos espumantes portugueses (e franceses). Se optar por um italiano, poderá estar perante o método de Asti, em que a fermentação é interrompida, preservando os açúcares naturais da uva - é provável que o resultado seja comparativamente mais doce. O "método natural" resulta num vinho de perfil bastante diferente, com maior marca da fruta e dos aromas primários e uma identidade visual clara: líquido mais turvo e por vezes com depósito no fundo da garrafa, à moda dos pét-nats, ou pétillant naturel (espumante natural).
Por fim, a idade do espumante e o seu tempo de estágio sobre as borras (um subproduto da fermentação que ajuda a conferir aromas e presença ao vinho) são, regra geral, bons indicativos do seu nível de intensidade: quando mais anos decorridos desde a colheita, mais potente o vinho. O mesmo princípio vale para o estágio: quanto mais meses de repouso nas borras, maior peso de boca pode esperar. Boas provas.
Confraria Super Reserva Bruto 2016
Adega Cooperativa do Cadaval, Lisboa
Talvez não seja a rolha mais nobre a rebentar no toque da meia noite, mas este Bruto de Arinto e Chardonnay com um ano sobre as borras não deixa de exibir com distinção o potencial e a excepcional relação qualidade-preço da região de Lisboa para as bolhas. Um espumante para quem gosta de vinhos fortes e marcantes, com muita tosta e bolha pronunciada. €6
Aveleda Espumante Bruto 2023
Aveleda, Vinhos Verdes
Se a sua predileção é por espumantes mais suaves e aromáticos, a região dos Vinhos Verdes é a indicada. Aqui, a Aveleda acaba de lançar um bruto de iguais partes de Arinto e Loureiro que, mesmo assim, faz um breve estágio parcial em barrica depois da primeira fermentação, que confere mais complexidade à frescura paradigmática da região. €9
Vinha dos Amores Blanc de Noirs 2017
Casa de Santar, Dão
Local da vinha mais prezada da histórica Casa de Santar, é da Vinha dos Amores que saem os seus mais distinguidos vinhos. Não é diferente com este espumante, um blanc de noirs feito a partir da Touriga Nacional - a nossa casta rainha, que aqui demonstra toda a sua versatilidade, acrescentando aos habituais aromas de padaria e pastelaria um caráter frutado muito particular. Formoso e equilibrado, mas muito persistente no palato. €32
Quinta do Encontro Special Cuvée 2017
Quinta do Encontro, Bairrada
O formato garrafa, que se demarca dos demais espumantes, combina com a mesa de ano novo. O conteúdo, incidentalmente, também: estagiado nas borras por 50 meses, este Arinto da Bairrada classificado como Extra Bruto equilibra elegância e poder com excecional fineza, exalando notas de casca de laranja, citrinos, padaria e tons tostados. €35
Ravasqueira Grande Reserva Brut Nature 2015
Ravasqueira, Alentejo
Um espumante superior feito da casta tinta Alfrocheiro e repousado nas borras por 48 meses, tem todas as marcas de uma bebida digna do brinde da meia-noite: peso de boca, persistência, cremosidade e uma acidez eletrizante, mas bolha muito fina e notas elegantes de confeitaria e fruta cristalizada, num perfil seco e extremamente sedutor ao palato. €49
Júlia 2021
Luís Pato, Bairrada
A cada uma das suas netas, Luís Pato dedicou um vinho fora da carta, de produção única e irrepetível. A mais nova, Júlia, foi homenageada com um espumante nos mais elevados patamares de qualidade no País, feito da casta Sercialinho numa mistura pouco convencional de três técnicas de espumantização. O resultado mostra notas elegantes de fruta branca, em particular pêra, e um perfil que equilibra com destreza o doce e o ácido. De alguma raridade: se não conseguir encontrá-lo, pode falar diretamete com o produtor. €50
Veuve Clicquot Rich
Veuve Clicquot, Champagne, França
É à Madame Clicquot Ponsardin (1777-1866), que assumiu o negócio de vinho do marido aos 27 anos, que devemos alguns dos mais duradouros avanços na técnica da espumantização, incluindo o método tradicional, o mais empregue em todo o mundo na produção de espumante. A longevidade desse negócio, entretanto rebatizado de "Viúva Clicquot" em sua homenagem, assentou na reinvenção, e foi isso mesmo que fez neste novo perfil de champagne, uma combinação de Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay num perfil mais leve, fresco e aromático, mas mantendo a excelência que faz desta uma das bebidas mais nobres do mundo. €60