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Como a austeridade afecta hospitais, militares e escolas em Portugal

Maria Henrique Espada
Maria Henrique Espada 28 de agosto de 2017 às 09:38

Hospitais que racionam a roupa de cama; polícias com coletes à prova de bala fora de validade; a tenda hospital onde já morreu gente e continua sem refrigeração

Por vezes, não basta uma tragédia humana para garantir que um problema seja resolvido. Sobretudo se esse problema custar dinheiro. Em Setembro do ano passado, dois instruendos do curso de comandos morreram no primeiro dia de treinos, quando as temperaturas atingiam 40 graus. O relatório de autópsia de um deles refere uma cadeia de erros, entre os quais a não transferência imediata para um hospital e um arrefecimento insuficiente. O tenente-coronel António Mota, que preside à Associação de Oficiais das Forças Armadas, aponta o que não mudou: "Quando se detectou o golpe de calor foram levados para uma tenda de apoio médico. Essa tenda há dois ou três anos que não tem refrigeração. Avariou e nunca foi arranjada. Agora, com 40 graus lá fora, imagine lá dentro." O exército tinha ali uma ambulância, mas não medicalizada. Houve que aguardar que chegasse a do INEM, o que atrasou a transferência das vítimas. Há dias, António Mota perguntou a um colega do Estado Maior do Exército: "Então, já têm a tenda refrigerada?" Resposta, com ironia: "Porquê, contribuíste para algum peditório?" Em Setembro, um ano após a tragédia, começa novo curso de comandos. Com a mesma tenda. "E se morre alguém outra vez?" Admite eventuais excessos - "e se os houve que se apure e castigue" -, mas acrescenta que com meios adequados de socorro no terreno "o desfecho poderia ter sido outro". Sobre Tancos, diz: "Se aquilo era Tancos, como irá a protecção nas outras dezenas de paióis? O que foi furtado era material de guerra, se se pensar no que pode fazer no metro ou num festival... Há linhas vermelhas que temos andado a passar e temos andado a passá-las."

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