Google e Meta colaboraram em publicidade abusiva dirigida a crianças
A campanha que tinha como alvo menores no YouTube - resultado de um acordo secreto com a Meta -, viola as próprias normas internas da Google.
Os gigantes da tecnologia Google e Meta colaboraram em segredo para direccionar publicidade no YouTube a menores de idade, em violação das próprias normas internas da Google, revela o jornal americanoFinancial Times.
De acordo com a investigação, as empresas utilizaram os anúncios do YouTube, detido pela Google, para fazer publicidade ao Instagram, propriedade da Meta, direccionando-a a utilizadores entre os 13 e os 17 anos, ainda que as normas da Google proíbam a prática de direcionar conteúdos publicitários a menores de 18 anos.
Segundo o Financial Times, a Google mostrava estes anúncios, que publicitavam a rede social da Meta, a utilizadores que categorizava de "desconhecidos" - o que, no seu sistema publicitário, correspondia a indivíduos cujos dados demográficos, como a idade e o género, não eram conhecidos.
No entanto, a empresa dispunha de dados suficientes de atividade digital destes utilizadores para estimar, com elevado grau de certeza, que se tratavam de menores de idade. Ao ignorar esta informação, as empresas contornaram uma política interna implementada em 2021, tomando medidas para ocultar o verdadeiro propósito da campanha.
A estratégia, que coincidiu com um momento de necessidade para ambas as empresas - a Google registou uma queda de receitas publicitárias e a Meta enfrenta competição de outras plataformas nesta faixa etária, como o TikTok - foi orquestrada em colaboração com a agência americana Spark Foundry. Implementada nos Estados Unidos e Canadá a partir de fevereiro deste ano, o plano seria, a longo prazo, expandi-la a outros continentes, promovendo também plataformas como o Facebook.
Ainda de acordo com o Financial Times, a campanha já estava a ser planeada quando, em janeiro, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, testemunhou perante o Congresso americano no rescaldo de um escândalo de exploração e abuso sexual facilitado pela plataforma, pedindo desculpa às famílias das vítimas.
Depois da denúncia, a Google lançou uma investigação e cancelou o programa, vincando que proíbe "a personalização de publicidade a menores de 18" anos e que confirmou que a proibição estava "a funcionar devidamente" porque nenhum utilizador registado como menor foi visado pela campanha. A empresa não negou, no entanto, a sua aplicação aos utilizadores "desconhecidos", prometendo que iria implementar medidas para dificultar a quebra das suas regras.
A Meta, que desde o ano passado tem a sua própria política interna de proibir conteúdo publicitário direcionado a menores com base no seu género, discordou, no entanto, que visar o grupo "desconhecido" constituía qualquer infração, e garantiu que cumpria todas as regras, suas e dos seus pares, na publicitação dos seus serviços.
A empresa chefiada por Zuckerberg, que detém ainda o Facebook e o WhatsApp, está a ser processada por 33 estados norte-americanos por "práticas manipulativas" direcionadas a jovens - acusações que a empresa nega. Em 2021, abandonou planos de lançar uma versão do Instagram para crianças depois de uma das suas ex-funcionárias ter divulgado que a Meta sabia que seria prejudicial para a saúde mental destas.
Edições do Dia
Boas leituras!