Secções
Entrar

Crédito à habitação pode vir a ser mais de metade do rendimento para 70 mil famílias

Lusa 04 de setembro de 2023 às 12:57

"O reforço da poupança e a redução do endividamento, bem como os apoios públicos e o papel do setor bancário na prevenção do incumprimento podem mitigar estes riscos", defende o governador do Banco de Portugal.

O governador do Banco de Portugal (BdP) defendeu esta segunda-feira o papel dos apoios públicos e da banca, aliado à poupança, para prevenir incumprimentos nos pagamentos dos empréstimos das famílias e recomendou a redução do peso da despesa do Estado.

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Numa análise ao atual momento da economia, publicada pelo supervisor bancário, o governador, Mário Centeno, alerta que no final deste ano, "cerca de 70 mil famílias poderão vir a ter despesas com o serviço do crédito à habitação permanente superiores a 50% do seu rendimento líquido", recordando que "no final 2021, já eram 36 mil famílias".

"O reforço da poupança e a redução do endividamento, bem como os apoios públicos e o papel do setor bancário na prevenção do incumprimento podem mitigar estes riscos", aponta, acrescentando que "nos depósitos, é fundamental continuar a criar condições para estimular a poupança".

A cerca de um mês da entrega do Orçamento do Estado para 2024 (OE2024), na publicação intitulada "encruzilhada de políticas", o antigo ministro das Finanças considera que "a política orçamental deve continuar a orientar-se pela noção de que não se alterou aquilo que há cinco anos não era financiável".

Numa altura em que a revisão das regras orçamentais de Bruxelas está em discussão, mas a proposta da Comissão Europeia dá mais peso à evolução da despesa primária, Mário Centeno recorda que "o peso da despesa permanente na economia continua acima de 2019", defendendo que "deve reduzir-se para garantir a sustentabilidade ao longo do ciclo económico".

Recordando que o Estado apresenta contas públicas em equilíbrio, recomenda: "Num momento de possível mudança do ciclo económico, não podemos ser apanhados desprevenidos, como tantas vezes aconteceu".

Depois de traçar um retrato positivo da evolução do país desde 2015, Mário Centeno argumenta que "a conclusão da recuperação da crise pandémica, o arrefecimento da inflação e a necessidade de encontrar as fontes de crescimento nos fatores estruturais fazem de 2023 um ano charneira".

Destacando o desempenho da economia no primeiro semestre do ano -- "contas públicas entre as mais equilibradas; endividamento público e privado numa trajetória de redução; e um sistema financeiro estável e aliado da economia"-, salienta, contudo, que se assiste a "uma encruzilhada de políticas para reduzir a inflação e responder ao abrandamento da economia".

Mário Centeno destaca, ainda assim, que o segundo semestre se inicia com o emprego e salários em valores máximos", apontando que "o emprego privado cresceu 9% desde 2019 e há mais 800 mil empregos do que há dez anos", bem como o crescimento de 20% dos salários desde 2019.

O governador dá ainda nota sobre a evolução das qualificações em Portugal, naquilo que frequentemente denomina a "revolução silenciosa", que considera não pode ser abandonada.

Nega ainda "uma suposta 'redução' do número de licenciados", considerando que se trata "de um desvio estatístico, sem sustentação socio-económica".

"Vejamos. Entre 2011 e 2019, a população portuguesa com ensino superior aumentou ao ritmo de 71 mil por ano. Já entre o final de 2019 e meados de 2022 este número teria passado a 180 mil licenciados por ano! Apesar das melhorias do sistema de educação superior, isto é incompatível com o fluxo de alunos formados por ano. Na ausência de fluxos migratórios massivos de entrada de licenciados em plena pandemia, esta evolução não é credível", argumenta.

Neste sentido, explica que "corrigido o desvio, os atuais dois milhões de licenciados correspondem a um aumento, também, de 71 mil por ano desde 2019".

"Nada mudou. O País não está destinado a qualificações que muitos pensavam ser endemicamente reduzidas, nem à emigração", sublinha.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela