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A afirmação brasileira no mundo, iniciada em Hollywood com Carmen Miranda (portuguesa), encontrava um novo e imparável fôlego com aquele futebol artístico, ao lado da Bossa Nova de Tom Jobim e de João Gilberto, ou da arquitetura de Oscar Niemeyer em Brasília.
O dia 16 de Julho de 1950 é uma data marcada a sal na história do futebol brasileiro. O Brasil não só falhava o primeiro título mundial como entregava o segundo ao seu minúsculo vizinho do sul. O escrete vinha duma campanha triunfal (7-1 à Suécia e 6-1 à Espanha) e a confiança era tanta que o jogo adquiriu um tom de favas contadas e um ar de romaria antecipada. O trauma ficou conhecido por Maracanaço por ter acontecido no Maracanã, Rio de Janeiro, então capital federal.
Nesse dia, em Bauru, cidade interior do Estado de São Paulo, uma criança de dez anos com a alcunha de Pélé ouviu o relato radiofónico ao lado do pai. O desfecho atirou-o para um luto semelhante ao da nação mas, no seu caso, alentou juras de vingança. Nesse tempo, o seu jeito de encantador da bola já fazia mossa nos adversários locais, ao ponto de ser impedido, com catorze anos, de jogar contra miúdos da sua igualha por desequilibrar os jogos em demasia e retirar-lhes a seriedade.
Também nesse dia, em Pau Grande, uma vilória suburbana do Rio, Garrincha andava na mata atlântica a apanhar pássaros com armadilhas. Tinha 17 anos e não era muito de ouvir relatos da bola, embora a sua desengonçada habilidade com ela começasse a dar brado. Ao chegar da mata, deu com a nuvem de consternação que cobria o país – e a sua rua. Passara-lhe pela cabeça um descarrilamento ferroviário com pessoas chorando as vítimas. Ao saber o motivo, limitou-se a acomodar os pássaros.
Garrincha era filho dum índio Fulni-ô vindo de Pernambuco para o Rio de Janeiro e integrava, com Pélé, a imensa claque de excluídos da sociedade brasileira, então muito mais colonial do que hoje. Oito anos depois, em 1958, na Suécia, espantariam o mundo da bola. O dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues, que os via jogar em São Paulo e no Rio – Pélé tinha-se estreado nos seniores do Santos aos 16 anos e Garrincha disparava no Botafogo aos 24 – exortou a selecção a superar os complexos e a não ter medo de nada. Com Pélé, seriam o mundo a temer o Brasil. E o mundo descobriu uma técnica desconhecida que José Miguel Wisnick, no seu livro sobre futebol, Veneno Remédio, diz ser só adquirível nas longas franjas de areia molhada do litoral brasileiro, as várzeas, quando o corpo e a alma namoram a bola sem noção das horas.
Foi esse futebol de brincadeira, sem amarração táctica, mas arrumado minimamente numa equipa, que se revelou superior a tudo o que se conhecia. Era tão fora do cânone que se impôs com a naturalidade das coisas simples e poderosas, a chuva, o vento, o golo, a destreza graciosa dos animais na mata. A selecção brasileira tinha aberto as portas a negros e mestiços dezoito anos antes. E Pélé, criança descendente de escravos, transformou a sua percepção de cidadania de segunda num sentimento de pertença e aceitação, ao ponto de redimir o Maracanaço. E o certo é que, como num conto de fadas, o adolescente Pélé vingou a criança Pélé ao encabeçar a passeata triunfal do Brasil na Suécia. A supremacia repetir-se-ia quatro anos depois no Chile, sem Pélé, lesionado, mas com Garrincha a assumir o papel de concertino. A afirmação brasileira no mundo, iniciada em Hollywood com Carmem Miranda (portuguesa), encontrava um novo e imparável fôlego com aquele futebol artístico, ao lado da Bossa Nova de Tom Jobim e de João Gilberto, ou da arquitectura de Óscar Nyemeier em Brasília.
A diferença entre o negro e o índio residiu no instinto de sobrevivência do primeiro na ressaca da genialidade. Enquanto Garrincha se atolou no efeito deletério da fama, o álcool, a polémica constante nos jornais, a morte aos 50 anos, Pélé aprendeu a desempenhar o papel de ídolo aposentado. Foi assim que atravessou a história do futebol e se sentou no trono imortal do rei. Sempre que o vemos em filmes de época, tem-se ideia dum futebol mais lento, com adversários trouxas deixando-se ludibriar com facilidade. São imagens que mostram um futebol edénico, com espaço, e fazem pensar que era possível dançar na relva. A verdade é que Pélé, no mundial de 1966, sofreu uma marcação impiedosa que o afastou precocemente do torneio.
Dele, pode-se dizer que fazia com a bola o que Jackson do pandeiro fazia com esse instrumento modesto mas que contem a matriz de todos os ritmos. Ambos são frutos duma terra que demora a honrar a sua criativa diversidade. A arte de Pélé era leve e simples, por isso difícil de alcançar, uma espécie de beleza crioula, fatal na sua eficácia, e brotava duma equação psicomotora inconsciente só reservada aos tocados pela graça.
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