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IA cada vez mais usada para cometer burlas. Até em funerais

Diogo Barreto
Diogo Barreto 13 de outubro de 2024 às 16:48
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Burlões têm criados sites falsos de funerárias para atacar pessoas "quando estão mais vulneráveis" e roubar dinheiro e dados pessoais.

O número de burlas informáticas continua a aumentar de forma exponencial, alavancadas pela massificação da inteligência artificial (IA). Nos Estados Unidos há mesmo grupos organizados que utilizam estes programas para criar burlas relacionadas com funerais.

hackers
hackers REUTERS/Thomas Peter

Um porta-voz da Check Point Software, empresa que fornece serviços de segurança cibernética, explica à SÁBADO que têm-se tornado cada vez mais comuns burlas, nos Estados Unidos, relacionadas com grupos que afirmam oferecer transmissão online de serviços fúnebres de amigos ou familiares, pedindo dinheiro em troca. Depois das pessoas pagarem para aceder à transmissão, deparam-se com imagens falsas. Pete Nicoletti, diretor para a segurança informática global da Check Point Software, explica que os grupos utilizam a IA para criar, de forma quase instantânea, "dezenas ou centenas" de sites que permitem levar a cabo este esquema. 

O especialista em cibersegurança refere que os burlões procuram "atacar" famílias e amigos durante o luto, "quando estão num estado mais vulnerável", de forma a conseguirem aproveitar-se. "As pessoas muitas vezes querem assistir às cerimónias fúnebres, mas como os bilhetes de avião estão muito caros, ou estão muito longe, não podem estar presencialmente, portanto aceitam este compromisso de estarem digitalmente", refere Nicoletti. Acedem então a pagar um montante ("normalmente são 20 dólares") para aceder à transmissão e só mais tarde se apercebem de que foram enganados.

Tipicamente, o que acontece é que estes grupos organizados copiam o nome de uma funerária e o seu domínio da Internet e fazem uma alteração no mesmo. Quer seja uma gralha, ou acrescentar uma palavra, para tentar disfarçar que não é um site legítimo. Portanto a "Funerária Williams" pode passar a ser a "Funerária William" ou "Funerária Williams Oficial". "Os grupos depois colocam o link para essas páginas falsas nos murais do Facebook do morto a informar que a cerimónia será ali transmitida e as pessoas clicam para aceder, dando dados pessoais e até dos cartões de crédito."

Um dos principais problemas é que, graças à IA, é possível imitar o desenho de um site em poucos minutos e multiplicar este sistema dezeenas e centenas de vezes, para poder enganar o máximo de pessoas possível. Outra vantagem para os burlões é o custo associado a estes esquemas: "Mesmo que só consigam enganar uma ou duas pessoas, a verdade é que custa quase zero montar o esquema. Mas a verdade é que costumam conseguir enganar uma dúzia de pessoas cada vez".

Estes burlões incluem ainda uma segunda fase nos ataques, no qual inserem malwares no computador de quem se inscreveu no site falso, conseguindo obter outros dados, como contas em determinados sites, dados sobre cartões de crédito, etc. "Este segundo esquema é ainda pior", comenta Nicoletti.

Como se proteger

O especialista em cibersegurança recomenda que pessoas com maiores conhecimentos estejam atentos a possíveis esquemas como este e para se anteciparem, colocando eles mesmos informações sobre o velório/funeral na página do morto, incapacitando logo à partida o esquema.

É ainda essencial, refere Nicoletti, que as pessoas estejam atentas e não cliquem em sites desconhecidos, ou introduzem informações pessoais sem terem um anti-vírus e outras proteções no seu computador. "E depois é a conversa de sempre: cuidado com as palavra-chave. O mais importante é ter um gestor de palavra-chave automático e nunca usar a mesma palavra-chave para diferentes contas", sublinha o porta-voz da Check Point Software que tem inclusive programas gratuitos para ajudar a combater o cibercrime, como um analista de domínios. "Se um domínio tiver sido criado há poucos dias pode ser um sinal de que é falso", explica, afirmando que nestes esquemas de burlas os sites costumam ter menos de uma semana, enquanto as casas funerárias têm vários anos de atividade.

E a IA não pode ajudar a proteger destes esquemas de burla? "Poder pode, mas neste momento continua a ser mais rápido fazer mal do que resolver o mal feito", lamenta Nicoletti.

A SÁBADO questionou a PJ se tinha conhecimento de alguma burla como esta dos funerais em Portugal e as autoridades informaram que não tinham conhecimento de nenhum esquema como este. No entanto, informaram que o cibercrime continua a aumentar e o novo Porcurador-Geral da República, Amadeu Guerra, colocou o combate à cibercriminalidade como um dos seus principais pilares, tanto ao nível de infraestruturas críticas como ao nível dos cidadãos.

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