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Há cada vez mais pessoas sem ter para onde ir depois de receber alta hospitalar

O número de internamentos inapropriados no SNS continua a aumentar devido à falta de resposta às necessidades dos pacientes que se veem forçados a permanecer no hospital depois de receberem alta clínica.

Os internamentos sociais no Serviço Nacional de Saúde (SNS) aumentaram 11% no espaço de um ano, revela o Barómetro dos Internamentos Sociais (BIS). Estes internamentos podem representar um custo de 260 milhões de euros ao erário público, revela o estudo. Até março deste ano havia 2.164 camas ocupadas no SNS devido a internamentos inapropriados, sendo que em março de 2023 eram 1.995. 

Realizado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), em parceria com a EY Portugal e com o apoio institucional da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e da Associação dos Profissionais de Serviço Social (APSS), o estudo mostra que entre março de 2023 e março de 2024 aumentaram os indicadores de "número de pessoas", "número de camas" e "número de dias" dos internamentos inapropriados. Os internamentos inapropriados correspondem aos doentes que ficam no hospital depois de receberem alta clínica e não existe motivo de saúde que justifique a sua permanência em ambiente hospitalar.

Os dados da 8.ª edição do BIS dão conta de um total de 378.068 dias de internamento inapropriado (mais 13% face a 2023) nestes primeiros três meses do ano, sendo que cada noite de cada doente é contabilizado como um dia de internamento inapropriado. Estas situações são mais recorrentes nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Norte que são responsáveis por cerca de 80% do total dos internamentos inapropriados a nível nacional. Maior parte dos internados são homens (representam 60% dos episódios de internamento inapropriado) e a esmagadora maioria (76%) são idosos. 

Os dados desta edição do BIS revelam ainda que metade dos episódios e metade dos dias registados de internamentos inapropriados têm origem no serviço de Medicina Interna, revela um comunicado síntese do estudo.

O estudo refere que metade dos internamentos inapropriados se deveu à falta de resposta da Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCCI), quer seja na admissão para esta rede como na admissão para Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI).

Os internamentos sociais - que em março deste ano representavam 11,1% do total de internamentos nos hospitais públicos - têm um custo anual que pode ultrapassar os 260 milhões de euros, calculam os autores do estudo, extrapolando a partir do custo de 68 milhões dos primeiros três meses do ano. 

Para Xavier Barreto, presidente da APAH, citado no comunciado, "as sucessivas tentativas de resolução desta questão infelizmente não têm surtido o efeito desejado". "Continuamos a ter uma parte significativa das camas ocupadas com internamentos inapropriados, o que prejudica seriamente a atividade de todos os hospitais. Importa discutir o caminho a seguir, quer no âmbito do reforço das camas de retaguarda, como na capacitação das famílias e da sociedade como um todo, para lidarem com uma população tendencialmente mais idosa e mais dependente. Falta, acima de tudo, uma articulação de respostas entre os sectores social e da saúde, que pense e articule as respostas com um todo", refere ainda. Miguel Amado, da EY e responsável pelo estudo, lembra que os internamentos inapropriados sobrecarregam toda a estrutura do SNS e levam a um um esgotamento "muito mais acelerado" dos recursos.

A 8.ª edição do Barómetro de Internamentos Sociais, desenvolvido pela APAH em parceria com a EY Portugal, contou com a participação de 29 unidades hospitalares do SNS, num total de mais de 20.000 camas, representando 90% do SNS.

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