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Gripe: O que são vacinas de dose elevada?

Estão esgotadas em várias zonas do País e são fundamentais para as pessoas acima dos 85 anos. Razão: este grupo responde pior àquelas que são dadas à restante população. Perceba o que está em causa neste explicador.

Tem-se ouvido repetidamente ao longo dos últimos dias: há falta de stock de vacinas contra a gripe de dose elevada para maiores de 85 anos, em várias Unidades Locais de Saúde do País, nomeadamente mais a norte. A campanha de vacinação arrancou há cerca de dois meses, ainda em setembro, e dentro deste grupo estima-se que quase 75% das pessoas já estejam imunizadas – mas ainda faltam 25%.

Vacinação contra a gripe para maiores de 85 anos em Portugal
Vacinação contra a gripe para maiores de 85 anos em Portugal Vítor Mota/Medialivre

Mas a escassez não se aplica a todas as vacinas da gripe. Estas, de dose elevada, são mesmo diferentes das que a maioria das pessoas recebe e há uma razão para isso. A SÁBADO falou com o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Luís Graça, para perceber porquê e explica-lhe tudo neste texto.

O que são vacinas de dose elevada?

Tal como o nome indica são uma espécie de vacinas reforçadas. “Têm uma maior quantidade de proteínas do vírus, que é aquilo que conduz à produção de anticorpos”, explica o também investigador da Fundação GIMM. As vacinas da gripe, à semelhança de muitas outras, contêm uma forma atenuada ou inativada do vírus (ou uma pequena parte desse vírus, neste caso, o influenza), que se denomina como antigénio.

O antigénio é aquilo que treina o sistema imunitário a reconhecer o vírus – para que o organismo o possa combater quando entramos em contacto com ele. Nas vacinas de dose elevada há quatro vezes mais antigénios que nas vacinas normais.

Um dos antigénios usados na vacina da gripe é uma proteína chamada hemaglutinina, que existe à superfície do vírus. “Numa vacina normal contra a gripe há 15 microgramas de hemaglutinina por cada estirpe do vírus; nas de dose elevada, essa quantidade aumenta para 60, o que dá ao sistema imunitário mais material para trabalhar”, explica-se na plataforma do College of Physicians of Philadelphia – a sociedade médica privada mais antiga dos Estados Unidos.

Só existem vacinas de dose elevada para a gripe.

A quem se destinam e porquê?

Em Portugal, e segundo a , a vacina de dose elevada (a Efluelda, da farmacêutica Sanofi) foi introduzida em 2022. É administrada gratuitamente a todas as pessoas com 85 ou mais anos de idade, também aos residentes em lares (os chamados Estabelecimentos Residenciais para Pessoas Idosas ou ERPI) e àqueles que estão em unidades de Cuidados Continuados.

Só desde a época gripal passada, pela primeira vez, estas vacinas foram disponibilizadas gratuitamente a todos os maiores de 85 anos. “Permite-se, deste modo, aumentar a proteção neste grupo etário mais vulnerável às complicações graves que podem decorrer da infeção”, justificava-se na norma da DGS. A ideia é precisamente essa: proteger um dos grupos mais vulnerável ao vírus.

A perceção não é apenas empírica. Entre 2014 e 2019, morreram 31.026 pessoas por pneumonia em Portugal, sendo que 95% dos óbitos corresponderam a maiores de 65 anos, segundo dados da plataforma Pneumoscópio. Isto acontece porque, à medida que envelhecemos, o sistema imunitário – à semelhança do que acontece com outros órgãos e sistemas do corpo – começa a não funcionar tão bem. Chama-se a esse processo de imunossenescência.

Além disso, há outra razão que justifica a escolha deste grupo de pessoas. “Nesta população mais idosa, a resposta à vacina não é ótima, ou seja, tem uma resposta menos robusta do que em pessoas mais novas”, explica Luís Graça. “O que foi verificado é que, com uma vacina de dose elevada, conseguem ter uma resposta mais robusta, o que faz com que tenham uma proteção superior”, justifica o especialista.

A eficácia destas vacinas está comprovada cientificamente e, muito recentemente, um estudo de larga escala feito com cerca de meio milhão de adultos mais velhos comprovou que este tipo de imunização reforçada reduziu as hospitalizações por gripe em mais 31,9%, quando comparada com a vacina normal.

Por serem reforçadas podem dar mais efeitos secundários?

Nem por isso. “A segurança das vacinas é muito equivalente, ou seja, não há uma demonstração de mais efeitos adversos ou de menor tolerabilidade com estas vacinas”, diz Luís Graça.

O que significa que não é de esperar nada além de dor no local da injeção, dores de cabeça e mal-estar ou dores musculares. O modo de administração é exatamente o mesmo que nas outras vacinas e também podem ser feitas ao mesmo tempo que a da Covid ou outras do Plano Nacional de Vacinação, indica a Direção Geral da Saúde.

Com uma vacina de dose elevada, estas pessoas conseguem ter uma resposta mais robusta, o que faz com que tenham uma proteção superior. Luís Graça, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

Se conferem maior proteção, por que não são para toda a gente?

A resposta é simples: não há grandes vantagens nisso, avança o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. “As pessoas com idades menores já têm uma boa resposta à vacina com a dose normal e, por isso, o benefício adicional de ter essa dose elevada não faz sentido”, explica. Contudo, o especialista admite que poderão haver pessoas de outros grupos de risco – e que também não respondam bem à vacina de dose normal – que possam beneficiar desta versão.

Esta não é contudo a única tecnologia, no âmbito das vacinas contra a gripe, destinada aos grupos mais vulneráveis. Alguns países da Europa, como a Dinamarca, a França, a Alemanha ou a Itália, não usam vacinas de dose elevada mas outras que se designam como adjuvadas. “São vacinas que têm uma substância que se chama adjuvante, que também estimula a resposta imunitária”, diz Luís Graça.

Estas vacinas contêm a mesma quantidade de antigénios do que as de dose normal, mas têm na sua composição esta tal substância que permite que sejam mais eficazes.

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