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Gigante do tabaco acusada de "manipular a ciência" para atrair não-fumadores

Documento revela que a Philip Morris International pagou cerca de 23 mil euros a uma consultoria em ciências biológicas para promover os seus produtos em eventos académicos. A tabaqueira estaria a tentar ser a segundo maior vendedor de tabaco no Japão.

A Philip Morris International (PMI), uma das maiores empresas do mundo de tabaco, é suspeita de ter financiado estudos científicos para promover os seus produtos de tabaco aquecido (IQOS) no Japão. A acusação surge depois do Grupo de Investigação e Controlo do Tabaco (TCRG), da Universidade de Bath, em Inglaterra, ter revelado documentos que mostram como a tabaqueira tentou "manipular a ciência para obter lucro".

REUTERS/Arnd Wiegmann

O documento interno de estratégia de negócios, referente a abril de 2019, detalha como a Philip Morris International terá contratado uma organização de investigação externa para financiar secretamente académicos da Universidade de Quioto, no Japão. A Philip Morris International tencionava influenciar políticos, médicos, empresas e consumidores e o objetivo seria estar presente nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, para desta forma aumentar as suas vendas, numa altura em que o tabaco convencial estava em queda.

"É cada vez mais claro que as últimas promessas da Philip Morris International não podem ser levadas ao pé da letra", afirmou Jorge Alday, diretor da Stopping Tobacco Organizations and Products, organização de monitorização do mercado,citado no próprio site. "As intenções da PMI com o IQOS parecem ir muito além do que declararam, e a ideia de promovê-lo através das Olimpíadas de Tóquio é apenas um exemplo flagrante."

A FTI-Innovations, uma consultora em ciência biológicas dirigida por um professor da Universidade de Tóquio, terá recebido cerca de 20 mil libras (23 mil euros) por mês, entre 2014 e 2019, para realizar tarefas como networkingcom cientistas e promoção da ciência e dos produtos da PMI em eventos académicos.

"A manipulação da ciência com vista ao lucro prejudica-nos a todos, especialmente aos decisores políticos e aos consumidores que tentam fazer escolhas informadas. Atrasa e prejudica as políticas de saúde pública, ao mesmo tempo que incentiva o uso generalizado de produtos nocivos", afirmou Sophie Braznell, uma das autoras do documento, ao jornal britânicoThe Guardian

Embora a tabaqueira afirme que o tabaco aquecido seja apenas destinado a fumadores adultos, este documento sugere que a empresa estava disposta a alcançar um público muito mais amplo, de modo a "acelerar a aquisição" de novos utilizadores do IQOS. Reportagens anteriores sugeriram até que o IQOS estaria a ser comercializado para jovens e até mesmo para crianças em idade escolar.

A Philip Morris International estaria assim a trabalhar para sustentar a sua posição como o segundo maior vendedor de tabaco no Japão, ao promover uma narrativa "sem fumo" e, segundo um outro relatório, ao permitir que fosse fumado em locais onde é proibido.

A Stopping Tobacco Organizations and Products disse existirem ainda evidências que a empresa estaria a implementar táticas semelhantes noutros países para criar "um novo tipo de epidemia de tabaco com o seu IQOS HTP", ao vendê-lo empubs, bares e restaurantes, por exemplo no Reino Unido. 

"Perturbadoramente, isso sugere um padrão mais amplo de táticas enganosas, potencialmente lançando as bases para um novo capítulo na epidemia do tabaco", defendeu Jorge Alday.

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