O número de casos diagnosticados em jovens duplicou nos últimos dez anos e a doença permanece com elevada mortalidade: por ano morrem cerca de 4.800 pessoas.
Os sintomas podem não assustar no início: desconforto abdominal, diarreia ou obstipação, e fadiga. Mas se forem persistentes coincidem com os sinais associados ao cancro mais prevalente no País e aquele que mais mortes causa por ano: o cancro colorretal.
Dor barrigaGetty Images
Cerca de 10.000 pessoas são diagnosticadas todos os anos. A idade média dos doentes é de 72 anos, mas o número de casos em pessoas com menos de 50 anos está a crescer: há dez anos, a incidência de cancro colorretal em doentes abaixo desta faixa etária era de 5% da totalidade dos casos, agora está nos 10%.
No mês da sensibilização para o cancro colorretal, a SÁBADO entrevistou com Luís Lopes, coordenador de Gastrenterologia e co-coordenador do Centro de Cirurgia e Patologia Digestiva do Hospital CUF Porto.
Com que idade se deve iniciar o rastreio?
Em Portugal, o rastreio populacional deve começar aos 50 anos, para pessoas sem antecedentes ou fatores de risco adicionais. No entanto, este limite pode ser ajustado consoante o risco individual. Hoje em dia cada vez mais se aconselha que os exames de diagnóstico se iniciem mais precocemente, entre os 40 e os 50 anos dado o aumento dos casos em doentes mais jovens.
São detetados precocemente?
São detetados mais frequentemente em estadios avançados, em comparação com os cancros diagnosticados após os 50 anos em programas de rastreio.
Quais as causas deste aumento?
Ainda não existe uma explicação única e definitiva, parecendo haver várias causas simultâneas. Uma das principais causas é o estilo de vida moderno. A alimentação rica em alimentos processados, carnes vermelhas e pobres em fibras, associada a um sedentarismo crescente, pode aumentar o risco de desenvolver cancro do cólon e do reto. O excesso de peso e o consumo de álcool também são fatores de risco bem conhecidos. Além disso, mudanças no microbioma intestinal – o conjunto de bactérias que habitam o nosso intestino – podem ter um papel importante. É possível que uma parte deste aumento se deva também a um maior reconhecimento da doença e à melhoria dos métodos de diagnóstico. Hoje em dia, há uma maior sensibilidade para investigar sintomas como alterações persistentes do trânsito intestinal, sangue nas fezes ou dor abdominal, mesmo em pessoas mais jovens.
O que determina o risco individual?
O risco individual aumenta em pessoas com história familiar de cancro colorretal, doenças inflamatórias do intestino (como colite ulcerosa ou doença de Crohn), síndromes genéticas hereditárias e certos hábitos de vida. Nestes casos, o rastreio pode começar aos 40 anos, ou 10 anos antes da idade em que o familiar foi diagnosticado.
A idade média dos doentes é de 72 anos – é um cancro associado ao envelhecimento?
Sim, é um cancro associado ao envelhecimento. A incidência aumenta com a idade, em parte devido à acumulação de alterações genéticas ao longo do tempo. Contudo, tem-se verificado um aumento preocupante de casos em pessoas mais jovens, o que alerta para a necessidade de maior vigilância.
Quais são os sintomas do cancro do cólon e do reto?
Os sintomas podem ser inespecíficos no início, o que dificulta o diagnóstico precoce. No entanto, os sinais mais comuns incluem alterações persistentes no trânsito intestinal (como diarreia ou obstipação), sangue nas fezes, dor ou desconforto abdominal, sensação de evacuação incompleta, perda de peso inexplicada e fadiga. Em fases mais avançadas, pode haver anemia devido à perda crónica de sangue.
Como se manifesta a doença no intestino?
O cancro do cólon e do reto, na maioria dos casos, desenvolve-se a partir de pólipos adenomatosos – pequenas formações benignas na mucosa do intestino. Nem todos os pólipos evoluem para cancro, mas alguns, ao longo de vários anos, podem acumular alterações genéticas que levam à transformação maligna. É por isso que a remoção precoce dos pólipos através da colonoscopia é uma medida eficaz de prevenção.
A colonoscopia é o melhor exame de rastreio da doença?
Sim. A colonoscopia é considerada o procedimento de rastreio mais completo e eficaz. Permite não só a deteção precoce de lesões suspeitas, como também a sua remoção imediata, prevenindo o desenvolvimento do cancro. Outros testes, como a pesquisa de sangue oculto nas fezes, são úteis, mas têm menor sensibilidade e especificidade.
Existe ainda algum receio e hesitação da população em fazer a colonoscopia?
Infelizmente, sim. Muitos têm receio do desconforto, da preparação intestinal ou do resultado. No entanto, é importante referir que não há razão para isso. A colonoscopia é um procedimento seguro, realizado sob sedação e que pode, de facto, salvar vidas. É, por isso, fundamental desmistificar o procedimento e reforçar a sua importância na prevenção e na deteção precoce do cancro colorretal.
Quando detetado, quais são os tratamentos disponíveis?
O tratamento depende do estádio da doença. Pode incluir cirurgia - que muitas vezes é curativa nas fases iniciais -, quimioterapia, radioterapia (sobretudo nos tumores do reto) e, em alguns casos, terapias biológicas ou imunoterapia.
Há novos tratamentos disponíveis?
Nos últimos anos, houve grandes avanços tecnológicos no diagnóstico e tratamento de doenças digestivas. Uma das áreas que teve maiores avanços foi a endoscopia digestiva, que passou a realizar procedimentos diagnósticos cada vez mais sofisticados e precisos, substituindo em muitos casos a cirurgia. Por outro lado, é importante destacar que a sofisticação da cirurgia oncológica é cada vez maior, com técnicas cada vez menos invasivas que permitem uma melhor e mais rápida recuperação do doente. Também a imunoterapia tem sido apontada como uma das mais importantes inovações no tratamento do cancro, dos últimos anos. É uma forma de tratamento que usa o sistema imunitário para atacar as células do cancro, quase da mesma forma como atacam bactérias e vírus. O plano terapêutico deve ser definido por uma equipa multidisciplinar diferenciada, que inclui especialistas em cirurgia, radiologia, oncologia, radioterapia, gastrenterologia, entre outros. À semelhança do diagnóstico, também uma rápida definição do plano de tratamento é de suma importância para garantir resultados que permitirão debelar a doença.
Qual é a taxa de sobrevida?
A taxa de sobrevivência depende do estádio em que o cancro é diagnosticado. Se for detetado precocemente, a taxa de sobrevida a 5 anos pode ultrapassar os 90%. Graças à deteção precoce e aos avanços terapêuticos, a sobrevida global tem vindo a melhorar nos últimos anos.
Como se pode prevenir a doença?
A prevenção passa por um estilo de vida saudável, com uma alimentação equilibrada, prática regular de exercício físico, manutenção de um peso adequado, evitar o tabaco e o consumo excessivo de álcool. O rastreio é igualmente essencial para a prevenção e deteção precoce.
Que alimentos devem constar na alimentação e quais os que devem ser evitados?
Sem dúvida. Uma dieta rica em fibras (frutas, legumes, cereais integrais), pobre em carnes vermelhas e processadas, com baixo teor de gordura saturada e rica em cálcio e antioxidantes tem um efeito protetor. Deve-se evitar o consumo frequente de carnes processadas, excesso de álcool e alimentos ultraprocessados.
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