A primeira profissional feminina na modalidade, em Portugal, combate o bullying e a falta de autoestima dos jovens com a ajuda do surf. Dois colégios da Grande Lisboa aderem ao programa.
Chegam à colónia de férias com os problemas mais sombrios da geração digital. Tantas vezes dependentes dos ecrãs, mostram-se apáticos, isolados, deprimidos, sem amor-próprio, com distúrbios alimentares, medo de falarem em público e autolesionados. Estes jovens vão dos 11 aos 17 anos, tentam superar bloqueios e alinhar os objetivos escolares e pessoais através do Waves & Minds (ondas e mentes) – uma espécie de retiro de autoconhecimento de cinco dias e quatro noites, de 2.ª a 6.ª, com a ajuda do mar da Ericeira.
A surfista Joana Rocha na praia do Sul, Ericeira. Criou o programa Waves & Minds como colónia de férias, em 2019, e no próximo ano letivo leva-o para as escolasD.R.
Joana Rocha, de 46 anos, surfista profissional (a primeira feminina) retirada das competições em 2012, está ao leme do projeto desde 2019. Acredita que tem o propósito de ajudar crianças e jovens e explica à SÁBADO: "Conseguir ouvir e entender o outro vem da minha história de traumas
infantis. É uma história de superação. E sim, dá para dar a
volta. Estar neste caminho não é uma escolha, é uma missão, é mais forte do que
nós."
Contas feitas, a também mãe de gémeos (Benjamim e Maria do Mar, 9 anos) já fez mais de 1.200 horas de surf aliado às competências de mindfulness (atenção plena) e gestão emocional, no âmbito do Waves & Minds. Face aos bons resultados, de transformação (para melhor) dos jovens – integrados em turmas consoante as idades, 8 aos 12; dos 11 aos 15; dos 13 aos 17 –, a mentora revela a próxima etapa.
No ano letivo que se aproxima, pretende levar o Waves & Minds para algumas escolas, para já duas privadas na Grande Lisboa. "Serão programas com e sem surf, ainda que a parte de superação e confiança passe pela experiência na água. Podem decorrer ao longo de uma tarde, aos fins de semana, ou semanas durante as paragens intermédias do ano letivo", diz.
Programas de motivação e combate ao bullying
Em rigor, Joana Rocha tem diferentes programas desenhados para os colégios. Cumprem seis objetivos: 1) crescimento pessoal, em que trabalha a motivação e resiliência; 2) respeito e pertença, combate o bullying e promove a inclusão e empatia; 3) consciência emocional, para reconhecer e expressar as emoções de forma saudável; 4) liderança pela autoconsciência; 5) autoconfiança, celebrando o progresso em vez da perfeição; 6) equilíbrio digital, para dosear o uso dos ecrãs.
Surfista Joana Rocha: programa de autoconhecimento pelas ondas chega às escolas
Acerca deste último ponto, a regra no campo de férias é de limitar ao máximo o telemóvel: os alunos podem aceder ao aparelho durante dez minutos por dia, antes do jantar. Mas há muitos que, um ou dois dias depois do programa começar, se esquecem do ecrã. Estão entretidos.
Durante a manhã, surfam as ondas Ribeira d'Ilhas (Ericeira), praia que acolhe campeonatos nacionais e internacionais da modalidade desde há quase cinco décadas. À tarde, as atividades de desenvolvimento pessoal e de ciclos de terapia de grupo decorrem num centro de retiros da Ericeira. "Dependendo
da idade, faço a combinação de surf com inteligência emocional, através de meditações, teatros, jogos,
team building, etc.
Experiências que os miúdos normalmente não tem", esclarece.
Os relatos dos alunos vão, genericamente, redundar na falta de amor-próprio, segundo Joana Rocha: "É o principal problema desta geração.
Todo o trabalho de integração mente, corpo, emoções e alma é feito à volta disso. A falta de motivação é gigante, pelo isolamento
social muito gerado pela parte digital – daí a importância do digital
balance. Cada exercício tem um
propósito, trato-os como se fossem os meus filhos."
Os benefícios são sentidos no curto prazo, de acordo com os pais dos miúdos que dão feedback positivo à coach. Dizem-lhe que notam os filhos mais calmos, descontraídos, empáticos, disponíveis para ouvir e falar.
Veia empreendedora desde os 19 anos
Quando terminar o verão, Joana Rocha retoma as sessões individuais, one to one, seguindo o conceito Waves & Minds. Mas está cada vez mais convicta da força do coletivo e, por isso, o seu foco será promover o crescimento emocional dos participantes nas escolas.
Pragmática de feitio e formação – licenciou-se em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico –, a surfista começou por organizar eventos femininos da modalidade aos 19 anos: "Éramos dez miúdas a fazer surf." No início, participaram 84 raparigas; no ano seguinte já eram 100.
A veia empreendedora de Joana Rocha desenvolveu-se e reforçou-se com a irmã Rita, 14 meses mais velha, que se associou à organização daquele evento. Juntas, formaram a dupla Rock Sisters (irmãs Rocha) e mantiveram a iniciativa por 12 edições. Ganhou popularidade e patrocínios, tendo como cenário as praias de Carcavelos, Ericeira e Cascais.
Entretanto, a surfista deixou as competições, teve gémeos em 2016 e na sequência de ter sido mãe decidiu investir no desenvolvimento pessoal. Fez várias formações de coaching mental e desportivo, terapia psicocorporal, incluindo a de facilitadora de consciência na escola liderada pela irmã Rita, hoje Satya, à frente da Awareness Facilitator School With Satya. “Tive a sorte de ter a minha irmã como mentora e inspiração. A nossa união mostrou-me que juntas conseguimos transformar desafios em força e sonhos em realidade”, remata.
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