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Só 25% dos engenheiros portugueses são mulheres: "Teríamos de esperar 200 anos para haver igualdade de género"

Luana Augusto
Luana Augusto 23 de junho de 2025 às 07:00
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Ex-ministra Elvira Fortunato falou com a SÁBADO no âmbito do Dia Internacional da Mulher na Engenharia, e alertou para a escassez das mulheres nesta área. "As crianças têm de ser estimuladas logo aos 6 anos e isso começa com o tipo de brinquedos que lhes damos".

Se antigamente o Ensino Superior era reservado apenas a homens, século e meio depois de a primeira mulher ter ingressado na Universidade de Coimbra (1891), o número de engenheiras continua a ser baixo quando comparado aos homens. Em Portugal, "apenas 25% a 30% dos engenheiros são mulheres", revela àSÁBADOa ex-ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (entre 2022 e 2024), Elvira Fortunato, no dia em que se celebra o Dia Internacional da Mulher na Engenharia e em que vai participar na conferência "A Mulher nas STEAM", que decorre na Nova FCT.

Duarte Roriz/Jornal de Negócios

Em termos gerais, continuam a existir menos mulheres do que homens nas engenharias e segundo estudos citados pela investigadora, "teríamos que esperar 200 anos para haver igualdade de género". Apesar disso, a quantidade de mulheres nesta área varia de especialidade para especialidade.

"Na Engenharia Eletrotécnica, na Engenharia Informática e na Engenharia Mecânica há uma tendência mais masculina e, por isso, menos de 20% são mulheres. Mas se formos olhar, por exemplo, para os casos de Engenharia Química, Engenharia Biomédica ou Engenharia do Ambiente, aí podemos ver que somos praticamente 50/50", frisa.

O mais preocupante é que este cenário não se verifica só em Portugal. "Isto não é um caso que acontece só em Portugal, mas sim no mundo inteiro. Aliás, não há sequer engenheiros suficientes nestas áreas, porque cada vez vivemos mais num mundo tecnológico e digital. Precisamos, sem dúvida, de ter mais mulheres, mas acima de tudo precisamos de mais engenheiros nestas áreas da informação digital e das tecnologias."

O cenário é até visível na percentagem de mulheres que já ganharam um Prémio Nobel ligado à ciência: "É cerca de 6%", lamenta a ex-ministra que é licenciada em Física e Engenharia de Materiais e que coordenou o projeto SPIER, um projeto europeu ligado à igualdade de género.

Como combater este problema?

Para Elvira Fortunato só há uma forma de combater a escassez de mulheres neste ramo: estimular as crianças através de brinquedos mais adequados. "As crianças têm de ser estimuladas logo aos 6 anos, no 1º ciclo. Não é quando já estão no 12º ano. E isso começa às vezes com o tipo de brinquedos que lhes damos: às meninas damos bonecas e aos rapazes damos carros, camiões e aviões. Tudo isso faz parte de uma cultura que tem de mudar um bocadinho."

Além disso, defende que é preciso haver "mais jogos", alguns deles "digitais" e que as crianças devem ler um certo "tipo de livros", apesar de considerar que hoje em dia "lêm muito menos". "Temos de alterar os nossos comportamentos, quer seja em casa, nós pais e mães, quer também os professores nas escolas."

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