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O que se aprende nas escolas com crianças imigrantes

Susana Lúcio
Susana Lúcio 27 de julho de 2025 às 14:46
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A divulgação dos nomes de crianças estrangeiras colocadas numa escola lisboeta pelo Chega causou repúdio pelos pais, que salientam a riqueza cultural usufruída pelos filhos.

"Mãe, já sei cantar os parabéns em inglês!", conta Leonor, de 4 anos, aluna do Jardim de Infância da Pena, em Lisboa. "A Irha fez anos e cantamos em inglês, depois cantámos em português porque ela está a aprender", acrescenta. Na turma, tem colegas do Paquistão, Bangladesh, Nepal, Colômbia, Angola e Brasil, para além de crianças portuguesas. 

José Coelho

Foi o colega do Nepal, um ano mais velho e conhecedor dos hábitos da escola, que a ajudou a integrar-se nas primeiras semanas, levando-a pela mão até ao refeitório e para o recreio. Um dia, chegou a casa a querer ensinar como se faz dahl, uma receita de lentilhas que a mãe de uma colega foi à sala confecionar. Não gostou do roti, um pão achatado típico do sudoeste asiático, que um outro pai cozinhou na sala. 

A experiência multicultural que usufrui, dificilmente a teria numa outra escola com menos crianças de famílias imigrantes. É essa também a opinião de outra mãe. "A minha filha esteve três anos na escola e nunca senti que estivesse prejudicada nas aprendizagens", diz. Pelo contrário: "Tem uma noção do mundo ao estar com crianças de vários países. Este ano, a turma da filha fez um projeto de viagem à volta do mundo. "Fizeram malas de cartão e viajaram até vários países, conheceram as bandeiras e as diferentes moedas", conta. "A escola é espectacular!"

As dificuldades são sentidas pelas crianças imigrantes. "No ensino pré-escolar não existe o ensino de português língua não materna e as educadoras de infância querem dar mais apoio a estas crianças, mas não têm os recursos", diz Joana Deus, mediadora intercultural da Academia C.V.pt, que tem tutores e mediadores em escolas de Lisboa. 

"São as crianças que não falam português que são penalizadas por não estarem no mesmo pé de igualdade que as portuguesas", explica Joana Deus. A academia tem tutores que ajudam crianças individualmente a aprender a língua e dão apoio aos pais e formação para docentes e não docentes. "É importante que haja uma intervenção no recreio porque as crianças organizam-se por comunidades e as portuguesas não os procuram." 

A sua presença deve ser valorizada. "Dar voz às histórias destas crianças, algumas com um percurso migratório de vários países, colocar os pares a conhecerem-se, é de uma riqueza cultural grande ter tantos mundos em sala de aula", salienta Joana Deus. 

Na Escola Básica Arquiteto Victor Palla, em Lisboa, a experiência tem sido positiva. "São crianças que aprendem rapidamente o português, quando chegam ao 1º ano são muito poucas as que ainda não falam e as barreiras desvanecem-se", diz Hugo Evangelista, presidente da Associação de Pais da escola.

Foi esta a associação que escreveu uma carta aberta de repúdio à divulgação dos nomes de crianças estrangeiras colocadas em escolas públicas feita pela deputada do Chega, Rita Matias, como prova de que seria por causa destas que alunos portugueses não tinham vaga no pré-escolar. 

"Não recebemos qualquer queixa de pais de crianças que não tenham sido colocadas na escola. Há critérios de entrada, estão na lei,e há formas de apresentar uma reclamação", diz Hugo Evangelista. O problema é a falta de vagas no ensino público. "Tem de se reforçar a oferta do pré-escolar, a solução não é cortar a entrada de crianças com critérios discriminatórios, porque são estrangeiras ou porque os pais estão desempregados, como o Chega já propôs nos Açores."

A associação está a preparar uma queixa contra o Chega pela divulgação dos nomes de crianças a ser apresentada a várias entidades incluindo a Comissão Nacional de Proteção de Dados e a Procuradoria Geral da República. "Foram usados nomes de crianças num discurso de ódio contra estrangeiros com base numa mentira: de que os imigrantes têm prioridade", reforça. "Alguns pais destas crianças têm medo que elas sejam alvo de violência", acrescenta. 

Várias associações de pais quiseram fazer parte da queixa. "Algumas por iniciativa própria, de Matosinhos e Penafiel", diz. Ao todo já são 19 associações de pais.

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