Sábado – Pense por si

Avós contam como foi “O Dia Mais Feliz”

Cinquenta e dois avós escreveram como viveram o dia em que a palavra liberdade pôde ser gritada em Portugal. O desafio tornou-se num livro

"Queridas netas Olivia e Amélia, 

Fernando Farinha

Hoje vou contar-vos um pouco da História de Portugal. Antes do 25 de Abril, Portugal era um país triste. As pessoas não tinham liberdade para falar, nem para viajar e os homens jovens eram enviados para África para combater por uma terra que não era nossa. Muitos morriam lá."

Assim começa uma das cartas que os avós de alunos da Escola Básica Sampaio Garrido, em Lisboa, foram desafiados a escrever aos netos, recordando o que viveram e sentiram no dia 25 de Abril de 1974. O projeto, iniciativa da Associação de Pais e Encarregados de Educação Sampaio Garrido, marcou a celebração dos 50 anos do dia que encerrou 48 anos de ditadura, mas as respostas recebidas entusiasmaram os pais. 

"Percebemos que tínhamos ali vivências valiosas muito díspares de pessoas que viviam em Lisboa, em aldeias no interior do país, e alguns que estavam deslocados na guerra", conta à SÁBADO a presidente da associação, Susana Ribeiro. 

"Querida neta Rita, 

Antes do 25 de Abril de 1974, era tudo muito mau, não havia condições nem nas habitações. Não tínhamos luz, nem casas de banho. Os trabalhos eram muito duros e muito longe. A avó chegou a caminhar duas horas, ainda sendo muito escuro, de madrugada, pois tínhamos de começar a trabalhar ao nascer do sol", escreve a avó Luísa Maria. 

Um dos avós percorreu as ruas da Baixa de Lisboa com a multidão que saiu de casa para apoiar os militares. "Contagiados por uma alucinação coletiva repetimos as frases que gritavam à nossa volta, ‘Fascismo nunca mais’, ‘Viva a liberdade, ‘Abaixo a guerra colonial’, ‘Viva o MFA’" recorda o avô Vítor às netas Camila e Carolina.  

Perante o manancial de experiências, a ideia surgiu quase de imediato. "E se fizéssemos um livro?" O título ‘O Dia Mais Feliz’ foi decidido nesse próprio dia. "Era essa a tónica de todas as cartas", explica Susana Ribeiro. As ilustrações foram feitas por pais da escola e, com o apoio do Programa Memórias de Lisboa, do pelouro da Cultura da Câmara de Lisboa, o livro tornou-se realidade este mês.  

A obra intergeracional está disponível por encomenda através do email cartasdosavos.25abril@gmail.com. O preço, €10 em donativo, irá reverter para financiar projetos da Associação de Pais e Encarregados de Educação Sampaio Garrido.

Editorial

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