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Metade dos profissionais de saúde não querem cargos de chefia

Um estudo feito pelo Movimento LIFE concluiu que a liderança é cada vez menos apelativa no setor da saúde - e que há mais mulheres do que homens a não quererem chegar ao topo. Porque até a perceção sobre a liderança continua a ser marcada pela desigualdade de género.

É um resultado alarmante: no setor da saúde, há cada vez menos interesse por cargos de liderança. Isto da parte das gerações mais novas, ou seja, aquelas que asseguram a renovação. Um estudo realizado peloMovimento LIFE(sobre liderança no feminino na saúde) revela que quase metade dos profissionais de saúde sem cargos de chefia não ambiciona chegar ao topo.

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Mais: que as desigualdades de género continuam tão presentes que, entre as mulheres, o cenário é ainda mais grave. "Apenas 32% das mulheres inquiridas gostariam de vir a liderar, comparado com 50% dos homens", destaca à SÁBADO, Cláudia Ricardo, a fundadora do movimento. "Apesar dos avanços, as mulheres continuam a enfrentar obstáculos invisíveis e vieses inconscientes, muitos deles vindos de nós próprias", assume. O que ganha ainda maior dimensão sabendo que 75% da força de trabalho na saúde são mulheres, mas que apenas 38% das lideranças são do sexo feminino.

O estudo em causa, chamado "O que estamos a fazer para assegurar as lideranças no futuro?" foi feito com base em inquéritos a 500 profissionais de saúde portugueses – metade homens, metade mulheres, de várias profissões, entre as quais, médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico, assistentes técnicos e operacionais, etc. Todos os setores, público, privado e social, estão representados na amostra e a idade média dos inquiridos é de 35 anos.

O trabalho surge na sequência de um primeiro inquérito feito pelo Movimento LIFE, em 2024. "Em que nos apercebemos de uma aparente baixa apetência para a liderança na mais jovem geração da saúde", diz Cláudia Ricardo. Esse primeiro estudo era mais centrado sobre a discriminação de género no local de trabalho.

As razões apresentadas para a rejeição de cargos de chefia têm a ver com o excesso de responsabilidade, sabendo de antemão que a capacidade de resposta pode ser limitada; demasiado stress e também preferência pelo trabalho individual, sem responsabilidade de coordenação de outras pessoas. Os inquiridos também consideram que há uma remuneração desadequada face à responsabilidade e exigência do cargo e falta de preparação formal para a liderança.

Quanto à perspetiva feminina houve ainda outra questão apontada: a parentalidade. "Se analisarmos apenas as respostas das mulheres, 88% acreditam que ser mãe impacta mais o acesso à liderança", revela. A fundadora do movimento acredita que esta realidade contribui para um "círculo vicioso": "Menos mulheres em cargos de decisão, menos modelos de referência, menos inspiração para liderar", aponta, com preocupação.    

Renovação comprometida?

Para a gestora, a falta de interesse pela liderança destes jovens profissionais de saúde deve ser encarada como um sinal de alarme. "Se as novas gerações rejeitam as funções de liderança, o futuro pode ficar comprometido em termos de inovação, com menor organização das instituições, com perda de eficiência, e podendo potenciar conflitos e desestruturar entidades", alerta.

Menos mulheres em cargos de decisão, menos modelos de referência, menos inspiração para liderar.

Cláudia Ricardo, fundadora do Movimento LIFE

Julga ser essencial redefinir o que significa liderar porque, considera, esta visão dos cargos de chefia tem a ver com a forma como historicamente tem sido exercida a liderança e com o padrão que é passado às novas gerações. "É fundamental formar e capacitar jovens líderes, com apoio, mentoria e políticas que tornem a liderança mais desejável", detalha. É que outro fator crítico evidenciado no estudo é que apenas 14% dos profissionais que ocupam cargos de chefia afirmam ter um plano ou estratégia para formar novos líderes. A maioria chegou lá sem qualquer backup, muitas vezes sem ferramentas de gestão de pessoal ou desenvolvimento organizacional.

"Não questionámos as razões mas acredito que os [atuais] líderes podem estar sobrecarregados com as suas próprias responsabilidades e não ter tempo ou recursos dedicados ao desenvolvimento de novos líderes", avança.

O objetivo do estudo foi contribuir para o debate sobre o que as organizações podem ou devem fazer para assegurar as futuras lideranças, mas também – e porque é esse o propósito do Movimento LIFE – chamar a atenção para a desigualdade de género e de oportunidades. "É necessário romper com os estereótipos de género que limitam o acesso e o desejo de liderar, mostrando que liderança pode – e deve – ser diversa, flexível e compatível com diferentes estilos de vida", diz à SÁBADO.

Os resultados vão ser apresentados esta quinta-feira, dia 5 de junho, na sede da Roche na Amadora – o Movimento LIFE é co-criado pela Roche Portugal e pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa.

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